Chefe policial de Londres resiste a pressão no caso Jean Charles

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Por MICHAEL HOLDEN
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Ian Blair, a maior autoridade policial da Grã-Bretanha, continuava resistindo na quinta-feira às fortes pressões por sua renúncia devido ao erro que resultou em 2005 na morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, confundido com um homem-bomba. Menezes, que tinha 27 anos e era eletricista, levou sete tiros na cabeça dentro de um trem do metrô. A polícia achava que ele era um dos quatro homens que tentaram um ataque suicida frustrado contra o sistema de transporte londrino no dia anterior. A Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC na sigla em inglês) criticou Blair, que é comissário da Polícia Metropolitana de Londres, por ter tentado bloquear a investigação que realizava sobre o caso. Blair já disse que acreditava, na época, que o inquérito fosse interferir em casos de combate ao terrorismo. "Pretendo permanecer neste cargo", disse Blair. "Pela própria natureza da tarefa, a história do Serviço de Polícia Metropolitana está cheia de episódios polêmicos." Os ataques frustrados aconteceram exatamente duas semanas depois de quatro muçulmanos terem matado 52 pessoas em ataques suicidas contra trens do metrô e um ônibus, em Londres. Na semana passada, a força comandada por Blair foi considerada culpada de colocar o público em risco quando atirou em Jean Charles, num julgamento inédito sobre a violação de leis de saúde e segurança no trabalho. Não houve punição contra nenhum oficial específico. O governo do premiê Gordon Brown vem apoiando a permanência de Blair, mas os dois principais partidos da oposição pressionam para que ele deixe o cargo. "O comissário tentou impedir que realizássemos uma investigação", afirmou o presidente do IPCC, Nick Hardwick. "Em minha opinião, boa parte das dificuldades evitáveis ... surgiram a partir dessa demora." O inquérito do IPCC se concentrou principalmente na atuação de Cressida Dick, que era a responsável pela operação. Ela pode ser submetida a audiências públicas disciplinares junto com três outros oficiais. "Erros muito graves foram cometidos e deviam ter sido evitados", disse Hardwick. "Mas temos de tomar o máximo cuidado antes de acusar alguém especificamente." Blair já disse esperar que o relatório do IPCC encerre a questão. Mas ainda deve haver o inquérito judicial sobre a morte, e a família do brasileiro pretende também entrar na Justiça. "Embora estejamos satisfeitos com o relatório, o triste é que não estamos nem perto de conseguir justiça," disse Vivian Figueiredo, prima de Jean Charles, numa entrevista coletiva. Ela repetiu os apelos pela renúncia de Ian Blair.

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