Chefes militares dos Estados Unidos condenam 'sedição e insurreição' em invasão do Congresso

Líderes do Estado Maior Conjunto reprovam implicitamente Trump e afirmam em carta que 'qualquer ato para interromper o processo constitucional não é apenas contra nossas tradições, valores e juramento, é contra a lei'

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O general mais graduado dos Estados Unidos, Mark Milley, e todos os outros cinco integrantes do Estado-Maior Conjunto, composto pelos chefes de cada Arma, divulgaram uma mensagem dirigida aos militares nesta terça-feira condenando a invasão do Congresso americano em 6 de janeiro por apoiadores do presidente Donald Trump.

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Na carta, os chefes militares lembram toda a tropa de seu dever de obediência ao poder civil e à Constituição.

"A violenta rebelião em Washington em 6 de janeiro de 2021 foi um ataque direto ao Congresso dos EUA, ao edifício do Capitólio e ao nosso processo constitucional. Lamentamos as mortes dos dois policiais do Capitólio e de outras pessoas ligadas a esses eventos sem precedentes", diz a carta.

O general Mark A. Milley, chefedo Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, em reunião com Trump, em maio Foto: Anna Moneymaker/The New York Times

A carta desaprova tacitamente as falsas alegações de Donald Trump de que houve fraude eleitoral no pleito vencido pelo democrata Joe Biden. De acordo com a agência Reuters, ela foi divulgada depois de queixas de militares de que os líderes das Forças Armadas não haviam dado uma diretriz clara depois da invasão do Congresso para impedir a homologação da vitória de Joe Biden.

O documento diz que "como membros do serviço, devemos incorporar os valores e ideais da nação. Apoiamos e defendemos a Constituição. Qualquer ato para interromper o processo constitucional não é apenas contra nossas tradições, valores e juramento, é contra a lei".

O comunicado afirma ainda que  "o povo americano confiou nas Forças Armadas dos Estados Unidos para protegê-lo e proteger nossa Constituição por quase 250 anos. Como temos feito ao longo de nossa história, os militares dos EUA obedecerão às ordens legais da liderança civil, apoiarão as autoridades civis para proteger vidas e propriedades, garantirão a segurança pública de acordo com a lei e permanecerão totalmente comprometidos com a proteção e defesa da Constituição dos Estados Unidos contra todos os inimigos, estrangeiros e internos".

O documento acrescenta que os episódios dentro do Congresso são "incoerentes com o Estado de Direito. Os direitos de liberdade de expressão e reunião não conferem a ninguém o direito de recorrer à violência, sedição e insurreição".

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Também afirma que "em 20 de janeiro de 2021, de acordo com a Constituição, confirmada pelos estados e tribunais, e homologada pelo Congresso, tomará posse o presidente eleito Biden e se tornará nosso 46º comandante em chefe".

Apoiadores do presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, nesta quarta-feira, 6, durante ato que confirmaria a vitória do presidente eleito Joe Biden, em Washington, nos EUA. Foto: Shannon Stapleton / Reuters Foto:

"Aos nossos homens e mulheres destacados e em casa, salvaguardando o nosso país, fiquem prontos, mantenham os olhos no horizonte e permaneçam focados na missão. Honramos seu serviço contínuo na defesa de cada americano", encerra a nota.

O Exército informou à Reuters nesta terça-feira que estava trabalhando com o FBI para ver se algum dos invasores do Capitólio era militar e com o Serviço Secreto para determinar se algum dos 10 mil militares da Guarda Nacional que farão a segurança da posse de Biden precisa de triagem adicional.

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O general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto, já havia se afastado de Trump em junho de 2020, depois de acompanhar o presidente para uma foto encenada em uma igreja próxima à Casa Branca. Para que a fotografia fosse feita, uma manifestação contra o racismo e a violência policial que ocorria no local foi reprimida com violência por homens da Guarda Nacional.

"Eu não deveria estar lá", disse Milley na época sobre o ato político em que acompanhou Trump. "Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna. Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele. Nós que usamos as insígnias de nossa nação, que viemos do povo, devemos sustentar o princípio de Forças Armadas apolíticas que tem raízes firmes na base da nossa república."/ NYT, REUTERS E AP

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