
17 de outubro de 2020 | 03h00
NOVA YORK - Donald Trump garante que as mulheres dos subúrbios vão reelegê-lo presidente, mas, em Nova York e em outras partes do país, sinais de 'rebelião' começam a surgir.
O grupo "Mulheres dos subúrbios contra Trump" (S.W.A.T., na sigla em inglês) se formou no início de agosto, quando o presidente americano, dirigindo-se a elas, disse que seu rival, o candidato democrata Joe Biden, "destruirá seu bairro e seu sonho americano" com a construção de moradias sociais.
"Fiquei em choque com como ele tentava pintar este quadro das mulheres do subúrbio e o quão racista era", disse a cofundadora do grupo, Brook Manewal, à Agência France Press, em uma reunião do S.W.A.T Team.
"Ele nos apresenta como se tivéssemos medo de perder nossas cercas brancas, nossas casinhas perfeitas e jardins perfeitos, e não acho que isso retrate em nada as pessoas que eu encontro por aqui", afirmou.
Naquela mesma noite, a advogada de 43 anos enviou uma mensagem de texto para uma amiga e vizinha de Stamford, Shira Tarantino, sugerindo criar uma organização, com o objetivo de convencer as mulheres dos subúrbios a votarem em Biden.
S.W.A.T. nasceu como um pequeno grupo de Facebook. Cresceu rapidamente, graças ao boca a boca e às redes sociais. Agora, conta com 9 mil membros em 35 estados, segundo Manewal, uma advogada mãe de quatro filhos.
As mulheres ligam para potenciais eleitores todos os dias e enviam pelo correio lembretes sobre a importância de se registrar e votar. Também arrecadam fundos para a campanha de Biden e estão organizando uma marcha para este sábado em Stamford.
Também estão enviando 10 mil cópias de uma carta para a Casa Branca, dizendo a Trump: "Você NÃO nos conhece, você NÃO fala por nós e você NÃO representa o tipo de líder que respeitamos".
No evento realizado na quarta-feira, as ativistas fizeram cartazes para a marcha de sábado com as legendas "Não retrocederemos" e "Se afaste do meu corpo", uma referência à afirmação de Trump de que a Suprema Corte poderá revisar a lei que permite o aborto.
Elas garantem que já conseguiram o apoio de algumas simpatizantes republicanas, embora afirmem que esse não é seu objetivo.
"Não acho que estamos aqui, necessariamente, para mudar a mente de pessoas que já decidiram o que vão fazer", disse Tarantino, de 49 anos, executiva e mãe de dois meninos."Acredito que o que estamos fazendo aqui é estimular as pessoas que normalmente não votam a fazerem isso".
As mulheres brancas, incluindo as que vivem nos subúrbios, tiveram um papel significativo na inesperada vitória de Trump, que derrotou Hillary Clinton em 2016.
Segundo o centro de pesquisa Pew Research Center, o percentual de mulheres brancas que votou em Trump chegou a 47%, contra 45% para Clinton. Entre as mulheres brancas com título universitário, 61% votaram em Trump, e apenas 34% em Hillary.
Estes votos foram cruciais para o presidente em estados como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, onde ganhou por apenas 44 mil votos de diferença (menos de 1%).
Em agosto, Trump tuitou: "A mulher dos subúrbios votará em mim".
Na última terça-feira, em um ato de campanha na Pensilvânia, não se mostrou tão seguro. "Mulheres do subúrbio, posso lhes agradar, por favor? Salvei seu maldito bairro, ok?", disse à multidão.
O pedido surgiu depois de uma pesquisa do jornal The Washington Post e da rede ABC News, mostrando que, em agosto, Biden abriu 13 pontos em relação a Trump entre as mulheres dos subúrbios.
"Ele não tem ideia de como são nossas vidas. Não somos 'donas de casa', e estes não são os anos 1950", disse à Agência France Press uma das fundadoras do S.W.A.T., Katie Paris.
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