Chilenos escolhem entre esquerda e ultradireita na eleição presidencial deste domingo

Disputa entre os candidatos Gabriel Boric e José Antonio Kast está acirrada, indicam pesquisas; resultado deve ser divulgado ainda neste domingo

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Por Thaís Ferraz
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Milhões de chilenos vão às urnas neste domingo, 19, para escolher o novo mandatário do país. Na disputa, estão os candidatos Gabriel Boric, de esquerda, e José Antonio Kast, representante da ultradireita. Estas eleições são consideradas as mais polarizadas desde o retorno do país à democracia, em 1988.

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Pesquisas de opinião dão vitória a Boric, mas divergem na vantagem, que pode ir de 5 a 14 pontos. Especialistas afirmam, no entanto, que as perspectivas são muito incertas e que o resultado será definido voto a voto, levando em conta a estreita margem entre os dois candidatos no primeiro turno: 2 pontos percentuais.

Boric, um deputado de 35 anos – a idade mínima para se candidatar – , vinculado aos protestos massivos de 2019, defende um Estado de bem-estar com atenção especial às pautas feminista, ambientalista e regionalista. Kast, um advogado católico de 55 anos, defende a redução do Estado e dos impostos, o combate à migração irregular e se posiciona contrariamente ao casamento gay e ao aborto. Com os dois candidatos trazendo propostas mais drásticas do que as dos grandes blocos de centro-direita e centro-esquerda que dividem o poder no país há três décadas, o próximo presidente será o mais esquerdista desde Salvador Allende (1970-1973) ou o mais direitista desde Augusto Pinochet.

Uma criança coloca uma cédula em nome de sua mãe durante a eleição presidencial em uma seção eleitoral em Santiago, Chile, no dia 19 de dezembro. A votação será encerrada às 18 horas local, mesmo horário no Brasil Foto: Rodrigo Garrido/REUTERS

O estudante de serviço social Claudio Mauricio Rivera Retamal, de 29 anos, dará seu voto a José Antonio Kast. “Creio que ele vai fortalecer a segurança pública, dar mais ferramentas à polícia, e ativar a economia por meio da paz e da tranquilidade”, afirma. Crítico dos estallidos sociales,como ficaram conhecidos os protestos massivos de 2019, Claudio defende os Carabineros – uma polícia específica do Chile – o que o leva a temer um futuro governo de Boric. “Tenho medo que ele vença, porque neste cenário a polícia não vai ter o mesmo apoio, e eu quero que as pessoas possam viver tranquilas, andar tranquilas pelas ruas”, afirma. 

O comerciante Marcelo Castillo, por outro lado, defende que Boric é o único candidato capaz de trazer paz ao país. “A origem da violência e da situação em que estamos é a desigualdade. O modelo econômico chileno tem gerado sobretudo desigualdade”, afirma. “Muitas pessoas estão sendo segregadas da educação, do trabalho, da saúde. São essencialmente jovens, e foram eles que saíram às ruas para os estallidos sociais”, diz. “Se quero que minha empresa continue funcionando, preciso que esses jovens tenham oportunidades de educação, saúde e trabalho.” 

Embora mais de 2.500 centros de votação estejam abertos e 15 milhões de chilenos estejam aptos a votar, espera-se uma alta abstenção nestas eleições. A baixa participação é uma tradição no país desde 2012, quando houve uma mudança no sistema eleitoral – de inscrição voluntária e voto obrigatório a inscrição automática e voto voluntário. Se em 1989, por exemplo, 92,4% dos chilenos foram às urnas no primeiro turno da eleição presidencial, em 2013 a taxa de participação ficou em 49,3%. Nem mesmo os protestos de 2019 e o processo da nova Constituinte foram capazes de mudar o cenário.

A falta de alinhamento entre as propostas dos candidatos e os anseios da população são um dos motivos principais para a alta abstenção no Chile, afirma o analista político e fundador do site de informação eleitoral e análise política TresQuintos Kenneth Bunker. “Embora o problema seja estrutural, ele também tem muito a ver com os candidatos que disputam o segundo turno. Sabemos que quando os candidatos são muito agressivos em suas campanhas, quando há muita polarização, os argumentos não interessam muito às pessoas”, afirma. “Se não há proposições claras, as pessoas simplesmente não vão votar.”

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Para ele, não é que as pessoas não se interessem pelo o que acontece na política, mas elas sentem que os partidos e candidatos em jogo não são capazes de satisfazer suas demandas. “No Chile, os partidos políticos não parecem ter as raízes na sociedade que uma vez tiveram. O eleitorado chileno é composto por pessoas moderadas, independentes, de centro, e não há nenhum partido político que encontre essa forma. Os dois candidatos que temos hoje vieram de extremos e propõem ideias que podem ser extremas para as pessoas, e nenhum partido político hoje se atreve a fazer uma campanha política de centro.”

Além disso, Boric e Kast não atraem nem ao menos todos os eleitores que irão votar. De acordo com a pesquisa mais recente da AtlasIntel, realizada entre os dias 1 e 4 de dezembro, 20% dos eleitores estão indecisos ou devem votar em branco ou nulo no segundo turno das eleições. 

A votação será encerrada às 18h (horário local, também 18h no Brasil). Os resultados preliminares são esperados algumas horas depois. Quem vencer deverá encontrar muitos desafios pela frente. O próximo presidente, que assumirá em março de 2022, precisará lidar com a recuperação econômica pós-pandemia, a inflação e a implementação das regras da nova Constituição chilena, que começou a ser elaborada este ano e pode entrar em vigor em 2022. /COM EFE

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