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China chama dalai-lama de ''criminoso''

Acusação coincide com chegada de enviados do líder tibetano ao país para retomada do diálogo

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

A chegada dos enviados do dalai-lama Lodi Gyaltsen Gyari e Kelsang Gyaltsen à China ontem foi precedida de novos ataques de Pequim ao líder espiritual tibetano, classificado de "criminoso" pela imprensa oficial, em mais um indício de que há pouca disposição de Pequim em alcançar um acordo em relação ao Tibete. "O povo patriótico do Tibete condena fortemente os crimes cometidos pelo dalai-lama e por seus seguidores", afirmou o jornal Tibet Daily. O contato entre representantes do dalai-lama e do governo de Pequim é o primeiro desde os protestos que sacudiram a cidade de Lhasa em março, nas mais violentas demonstrações contra o domínio da região pela China em quase duas décadas. O governo tibetano no exílio, que inicialmente previa o encontro para ontem mesmo, afirmou que ele ocorrerá hoje na cidade de Shenzhen, na fronteira com Hong Kong, no sul do país. Lodi e Kelsang deverão se reunir com autoridades do Departamento da Unidade do Trabalho, o órgão chinês encarregado da política para assuntos religiosos. Nesse cenário, a possibilidade de entendimento parece remota. Os dois lados já realizaram seis rodadas de negociação desde 2002, sem conseguir avançar na direção do entendimento. As conversas foram interrompidas há mais de um ano e sua retomada foi anunciada por Pequim no dia 25 de abril, depois de uma enorme pressão internacional. PROTESTOS O dalai-lama tem reiterado que não busca a independência do Tibete, mas um maior grau de autonomia e liberdade religiosa na região. O governo chinês, entretanto, acusa o líder exilado de ser o mentor dos protestos que atingiram a capital tibetana em março. As manifestações de março começaram de maneira pacífica em 10 de março, para marcar o 49º aniversário do fracassado levante contra o domínio chinês que terminou com o exílio do dalai-lama na Índia, em 1959. Em 14 de março, os protestos se tornaram violentos, com o ataque a lojas e casas de propriedade dos chineses han, a etnia majoritária no país, que representa 91,6% da população. De acordo com Pequim, os confrontos deixaram 22 mortos. O governo tibetano no exílio, chefiado pelo dalai-lama, sustenta que o número de mortos foi de pelo menos 140 no Tibete e nas três províncias vizinhas que também têm população tibetana: Sichuan, Gansu e Qinghai.

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