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China dá sinal sobre sucessor de Hu

Por Cláudia Trevisan CORRESPONDENTE e PEQUIM
Atualização:

O vice-presidente da China, Xi Jinping, foi eleito ontem para o segundo posto mais importante do organismo que controla o Exército de Libertação Popular, o que reforçou ainda mais suas credenciais como provável sucessor de Hu Jintao no comando do país, em 2013.O anúncio foi realizado no fim de quatro dias de reunião dos 365 integrantes do Comitê Central do Partido Comunista. Na reunião também foi discutido o Plano Quinquenal que traçará as linhas do desenvolvimento do país no período 2011-2015. A trajetória de Xi repete a do próprio Hu, que foi indicado para a vice-presidência da Comissão Central Militar em 1999, anos antes de assumir o comando do partido, no fim de 2002, e a presidência da China, em março de 2003 - Hu só passou a chefiar a Comissão Militar em 2004. Se tudo correr como planejado pelos líderes comunistas, Xi, de 57 anos, será indicado para a secretaria-geral do Partido Comunista em 2012 e se tornará presidente da China no ano seguinte. O processo de sucessão teve início em 2007, quando Xi passou a integrar o Comitê Permanente do Politburo, que reúne os nove homens mais poderosos do país, entre os quais Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao. No ano seguinte, ele foi apontado vice-presidente da China pelo Congresso Nacional do Povo.A ascensão de Xi foi considerada uma derrota do presidente Hu Jintao, que preferia ser sucedido por seu aliado Li Keqiang, ex-governador da Província de Liaoning. Li também passou a integrar o Comitê Permanente do Politburo em 2007, mas como provável futuro premiê do país, no lugar de Wen Jiabao.Xi Jinping e Li Keqiang pertencem à chamada "quinta geração" de líderes chineses. Chegaram à vida adulta no turbulento período da Revolução Cultural (1966-1976). Se nada inesperado acontecer, a passagem do poder de Hu e Wen para Xi e Li será a segunda sucessão pacífica da China comunista. A primeira marcou a chegada da "quarta geração" ao comando do país, quando o atual presidente sucedeu a Jiang Zemin e o primeiro-ministro tomou o lugar de Zhu Rongji. É pouco provável que a chegada de Xi Jinping à chefia do país traga mudanças significativas de estratégias políticas ou econômicas. O poder na China não é mais exercido de maneira personalista e os ocupantes de cargos de comando seguem princípios aprovados de maneira consensual pelos órgãos de cúpula do partido.Pode haver mudanças de tom e de ênfase, mas a linha geral é de continuidade do processo de reforma e abertura econômica. No campo político, a prioridade é a manutenção do partido no poder, ainda que haja discussões sobre reformas políticas e a construção de um sistema legal que regule a atuação do Estado.O comunicado divulgado no fim da reunião do Comitê Central ontem ressaltou que o Partido Comunista é a "garantia fundamental" para que a China atinja os objetivos sociais e econômicos que estarão no Plano Quinquenal para o período 2011-2015.Antes de chegar à cúpula do partido, Xi comandou províncias do sudeste do país célebres pelo empreendedorismo e a força do setor privado, como Zhejiang e Fujian. Em março de 2007, ele foi transferido para a chefia de Xangai, o centro financeiro da China, em substituição a Cheng Liangyu, afastado no ano anterior por envolvimento em um escândalo de corrupção e condenado a 18 anos de prisão.A primeira missão de Xi como integrante do Comitê Permanente do Politburo foi comandar a etapa final das preparações para a Olimpíada de Pequim, em agosto de 2008, cargo que serviu como uma plataforma de relações públicas dentro e fora da China.Apesar de não ser identificado com o grupo de Hu Jintao, Xi tem dado declarações elogiosas ao princípio do "desenvolvimento científico" proposto pelo atual presidente, segundo o qual o crescimento deve levar em conta questões ambientais e sociais.O provável futuro presidente também parece compartilhar a intolerância dos líderes atuais em relação ao que veem como interferência indevida do exterior em assuntos internos do país, especialmente na área de direitos humanos.PARA ENTENDERO processo sucessório da China é decidido pelo Congresso do Partido Comunista, que se reúne a cada cinco anos. No último, em 2007, Xi Jinping foi consagrado como o nome mais forte para suceder a Hu Jintao na presidência. O próximo Congresso será em 2012, quando Xi Jinping deverá assumir o cargo de secretário-geral do PC, que tem mais peso que o de presidente. A transição do poder só estará completa em 2013, quando Hu deixar o comando. Apesar de ser o nome mais forte, nada impede que o Congresso tome uma decisão distinta da esperada, caso algo não siga o script desejado pelo partido.Herdeiro de um reformistaPERFILXi Jinping,Vice-presidente da ChinaXi Jinping tinha 15 anos quando foi mandado à zona rural para ser "reeducado" pelos camponeses durante a Revolução Cultural (1966-1976), período de radicalização da política comandada por Mao Tsé-tung. Ele deixou os estudos e passou seis anos trabalhando na terra.Pai do provável futuro presidente da China, o herói revolucionário Xi Zhongxun, era um reformista radical, que defendia mudanças não só na economia, mas em toda a estrutura administrativa. A trajetória de seu pai faz com que alguns analistas acreditem que Xi Jinping promoverá reformas políticas quando assumir o comando do Partido e da China, mas não há nenhum indício concreto de que isso poderá ocorrer.Muitos consideram Xi Jinping um pragmático que conhece as engrenagens do partido e as táticas de sobrevivência dentro da organização. Antes de ganhar projeção internacional em 2007 como o provável sucessor do presidente Hu Jintao, Xi Jinping era mais conhecido na China como o marido de Peng Liyuan, de 47 anos, uma popular cantora de músicas étnicas que desde os 18 anos integra o Exército de Libertação Popular, no qual tem a patente de major-general.

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