China deve usar pressão e intimidação para impedir novos protestos em Hong Kong

O país deve iniciar uma campanha silenciosa, mas abrangente, no Judiciário, na mídia e nas universidades do território

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Por JAMES POMFRET
Atualização:
Manifestantes se aglomeram no centro de Hong Kong Foto: Bobby Yip/Reuters

Enquanto baixa a poeira dos protestos pró-democracia em Hong Kong, a China deve iniciar uma campanha silenciosa, mas abrangente, no Judiciário, na mídia e nas universidades do território para garantir que as manifestações não voltem a ocorrer, disseram ativistas e políticos.

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Os 75 dias de protestos surpreendentemente resistentes pedindo uma votação totalmente livre para escolher o próximo líder de Hong Kong foram o maior desafio à autoridade chinesa desde as manifestações pró-democracia de 1989, e da repressão consequente, na Praça da Paz Celestial, em Pequim.

Para impedir novos protestos, ativistas dizem ser improvável que os governantes chineses adotem uma reação agressiva, o que poderia representar um risco à estabilidade na cidade, um importante centro financeiro que é a porta de entrada para a segunda maior economia do mundo.

Alex Chow, um dos líderes estudantis das manifestações, disse que os “métodos chineses” poderiam ser aplicados em Hong Kong, um termo que ele usou para se referir à pressão, intimidação e coerção contra críticos do governo na China.

“Quanto tempo podemos manter a independência judicial de Hong Kong?”, indagou Chow no local dos protestos antes de ser levado pela polícia, que liberou a região na quinta-feira. “Já vimos juízes tomarem decisões que foram altamente questionáveis. Pequim pode conseguir pressionar Hong Kong a nos imputar (os líderes das manifestações) acusações mais sérias para nos calar”.

A China governa Hong Kong segundo a fórmula “um país, dois sistemas”, que concede ao território autonomia e liberdades amplas inexistentes no continente.

“As ações ilegais do (movimento) 'Occupy Central' não tiveram apoio popular”, afirmou o Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau, um organismo chinês, nesta sexta-feira. “Esperamos que todos os lados da sociedade de Hong Kong tomem isto como uma lição, reflitam a seu respeito friamente, entendam-no melhor e corretamente e sigam a política ‘um país, dois sistemas’”.

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Pequim nunca insinuou publicamente nenhuma consequência em potencial devido aos protestos, mas em junho lembrou Hong Kong asperamente que a China detém a autoridade suprema sobre a cidade.

Duas fontes com contatos no Ministério de Segurança Estatal chinês afirmaram que as agências de inteligência do país reforçaram sua presença em Hong Kong por causa das manifestações, às vezes realizando operações diretas que violam as promessas de Pequim de conceder ampla autonomia à ex-colônia britânica.

Jimmy Lai, magnata da mídia de Hong Kong e crítico explícito de Pequim que prometeu levar adiante os protestos pró-democracia, renunciou ao cargo de publisher do jornal Apple Daily, informou o jornal nesta sexta-feira.

Ao longo do ano passado, vários grandes bancos pararam de publicar anúncios no jornal em meio ao que seus executivos classificaram como pressão de bastidores do governo.

(Reportagem adicional de Greg Torode, em Hong Kong, e Ben Blanchard, em Pequim)

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