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China prende 63 por venda de carne de rato

Em uma operação nacional, lançada em janeiro, mais de 900 pessoas foram detidas sob suspeita de vender alimentos adulterados ou tóxicos

Por CHRIS BUCKLEY e HONG KONG
Atualização:

Mesmo para as pessoas insensíveis aos escândalos alimentares da China, as notícias de que o carneiro que está sendo cozido na verdade é carne de rato levou a permanente indignação com relação aos riscos dos alimentos a um novo patamar. Em um comunicado cuja intenção foi mostrar que o governo está agindo seriamente para melhorar a segurança dos alimentos, o Ministério de Segurança Pública informou pela internet, na quinta-feira, que a polícia capturou comerciantes que compraram carne de rato, raposa e visom e venderam como carne de carneiro. Mas esse e outros casos de contrabando de carne, falsificação e adulteração também relatados pelos jornais chineses e sites ontem não devem provocar muita confiança nos consumidores já enojados diante das muitas notícias sobre carne, frutas e vegetais contaminados com doenças, toxinas, corantes e conservantes proibidos.Foram presas 63 pessoas acusadas de "comprar raposa, visom e rato e outros produtos sem inspeção", que mergulharam em gelatina, pigmento vermelho e nitratos e venderam como carne de carneiro em Xangai e na vizinha Província de Jiangsu por cerca de US$ 1,6 milhão, de acordo com comunicado do ministério. Não foi explicado de que maneira os negociantes adquiriram os ratos e os outros animais. "Quantos ratos você precisa para chegar a um carneiro?", perguntou perplexo um usuário enfurecido do microblog Sina Weibo, que com frequência atua como fórum para o público desabafar. "É mais barato criar ratos do que carneiros? Ou você não se sente bem a não ser que trabalhe com animais camuflados?" Os moradores de Xangai recentemente tiveram de conviver com milhares de porcos mortos flutuando num rio próximo, aparentemente vítimas de doenças em chiqueiros na parte alta do delta. Operação nacional. As prisões fazem parte de uma operação nacional que ocorre desde janeiro com o objetivo de "atacar os crimes contra a segurança alimentar e defender a segurança dos alimentos", declarou o ministério. A polícia prendeu 904 pessoas suspeitas de vender carne adulterada, tóxica ou falsificada e desmantelou 1.721 fábricas ilegais, oficinas e lojas. Mas o ministério admitiu que ainda há razão para se preocupar. Nas campanhas para melhorar a segurança dos alimentos realizadas em anos anteriores, "alguns problemas sérios foram solucionados rápida e vigorosamente, mas por várias razões os crimes contra a segurança alimentar continuam graves e têm revelado novas circunstâncias e características", declarou um membro do ministério em um comunicado. "Por exemplo, têm sido verificadas vendas de carne injetada com água e carne de animais mortos por doenças. Também há tipos de carne relativamente baratas vendidas como se fossem de vaca e carneiro, que são mais caras." O premiê da China, Li Keqiang, afirmou que aprimorar a segurança alimentar é prioridade do governo - e essa é uma das principais queixas dos cidadãos comuns. Antecedentes. Promessas feitas por seu predecessor, Wen Jiabao, acabaram não sendo cumpridas em razão da falta de recursos, de funcionários que fugiram às responsabilidades e da confusão entre agências rivais, além do protecionismo por parte de autoridades locais, declarou Mao Shoulong, professor de política pública na Universidade Renmin em Pequim. "Estados Unidos e Europa não conseguem erradicar esses problemas também, mas eles são muito mais complicados aqui na China", afirmou o professor Shoulong. "A produção de alimentos chinesa hoje é em grande escala e mais tecnológica, mas os problemas que estão surgindo envolvem também o uso de tecnologia mais sofisticada para driblar os órgãos de fiscalização e enganar os consumidores. Os esforços do governo têm de estar à altura da escala e complexidade dos problemas", afirmou o professor. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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