China suspende contatos ministeriais com Japão por disputa territorial

Relação tensa. Decisão é anunciada após a ampliação, por mais dez dias, da prisão de um capitão chinês pela Guarda Costeira japonesa em uma região onde os dois países querem explorar petróleo e gás natural; Pequim ameaça Tóquio com represálias

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Por REUTERS e AP
Atualização:

PEQUIMA China suspendeu ontem os contatos de alto nível com o Japão e prometeu adotar duras represálias após um tribunal japonês estender por dez dias a detenção de um capitão chinês, cujo navio colidiu com dois barcos da Guarda Costeira japonesa perto de ilhas disputadas pelos dois países. A medida indica que a China está disposta a agir de modo duro com seus rivais asiáticos nas disputas territoriais.A tensão entre as duas maiores economias da Ásia começou depois que o Japão prendeu o capitão no dia 7 e o acusou de atingir deliberadamente os navios de patrulha, obstruindo o trabalho da Guarda Costeira perto de duas pequenas ilhas desabitadas no Mar do Leste da China. A prisão alimentou sentimentos anti-Japão na China. Os 14 tripulantes chineses foram libertados na semana passada."A culpa desta situação recai totalmente sobre o Japão. O lado japonês deveria libertar imediatamente e incondicionalmente o capitão Zhan Qixiong ou enfrentar as consequências", disse o porta-voz da chancelaria chinesa, Ma Zhaoxu, em um comunicado. Ele reiterou que Pequim considera a prisão ilegal e inválida.A decisão do Japão "prejudicou seriamente as relações sino-japonesas", informou a TV estatal chinesa. A China suspendeu o diálogo a nível ministerial e provincial, suspendeu as conversações sobre o aumento dos voos entre os dois países e adiou uma reunião com o Japão para discutir a questão do carvão, indicou um comunicado.Um funcionário da Promotoria de Okinawa disse, sob condição de anonimato, que a prisão do capitão foi estendida até o dia 29 por causa dos interrogatórios. De acordo com as leis japonesas, as autoridades podem prender um suspeito por até 20 dias, enquanto decidem se apresentam alguma acusação.A ampliação da detenção de Zhan ocorreu um dia depois dos protestos contra o Japão em toda a China, para lembrar o aniversário do início da invasão japonesa de 1931. Os protestos só não foram mais amplos porque as autoridades teriam restringido as manifestações.As relações entre a China e o Japão têm sido marcadas por divergências sobre a história do período da guerra e rivalidades por causa de territórios, recursos e intenções militares, apesar de os dois países terem melhorado seus laços entre 2001 e 2006.O Japão pediu calma e disse que o capitão será tratado de acordo com as leis do país. "A posição básica do Japão é a de que devemos tentar criar laços de cooperação com base em relações estratégicas e de benefício mútuo", disse Noriyuki Shikata, porta-voz do governo japonês.A disputa pelas desabitadas ilhas - chamadas de Ilhas Diaoyu na China e Senkaku no Japão - foi intensificada por causa do controle de potenciais reservas de petróleo e gás natural na região. O diário japonês Nikkei informou ontem que o Japão pode começar este ano a perfurar em um campo de gás nas disputadas águas do Mar do Leste da China se o governo de Pequim fizer o mesmo. Os dois países têm divergências por causa da exploração de gás natural no Mar do Leste da China. Pequim está envolvida em outras disputas com nações asiáticas no Mar do Sul da China sobre uma área rica em energia e considerada chave para a navegação. PARA ENTENDERRessentimento perdura há mais de 70 anosDesde o fim da 2.ª Guerra, ciclicamente os chineses manifestam nas ruas seu profundo ressentimento com o Japão. Reclamam, principalmente, que até hoje os japoneses não pediram desculpas pela invasão do país e a Guerra Sino-japonesa (1937-1945). Também se queixam de que o governo japonês, ao editar seus livros escolares, tenta esconder ou reduzir a responsabilidade do Exército imperial nas atrocidades cometidas contra a população civil na ocasião. Segundo os chineses, os livros omitem, particularmente, o Massacre de Nanquim, ocorrido na ex-capital da China Nacionalista entre de dezembro de 1937 e fevereiro de 1938.

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