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China tem primeira transição pacífica de poder da era comunista

Por Agencia Estado
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Jiang Zemin, que comandou a China desde 1989 iniciou hoje sua aposentadoria de surpresa, após dois anos de luta pelo poder. Numa reunião a portas fechadas do Comitê Central do Partido Comunista, composto de 198 membros, Jiang transferiu o cargo de comandante das Forças Armadas para Hu Jintao, que o sucedeu na presidência no ano passado e, na semana passada, declarou que a democracia ocidental é "um beco sem saída" para a China. Os dois homens atuaram como líderes conjuntos da China depois da saída parcial de Jiang do governo, no final de 2002. "O comitê aprovou Hu para assumir a presidência do conselho (da Comissão Militar Central) depois que ter aceito a renúncia de Jiang", disse a agência noticiosa estatal Xinhua, acrescentando que a mudança vai preservar "a absoluta liderança do partido sobre as Forças Armadas". O fato de que a sucessão desencadeada por Deng Xiaoping no início da década de 1990 tenha ocorrido como planejado indica que o sistema político chinês - embora ainda altamente autocrático - está muito mais estável do que nas décadas anteriores, quando os papéis de liderança geralmente eram designados depois de batalhas contundentes. Jiang, de 78 anos, só deveria deixar a chefia da Comissão Militar Central em 2007, na primeira transferência de poder pacífica na China desde a revolução maoísta de 1949. Durante muitos anos, tal "transição ordenada" foi um objetivo declarado do partido, que está tentando mostrar ser capaz de comandar a China numa nova era de maior abertura e flexibilidade políticas. Jiang, ex-prefeito de Xangai, foi alçado da obscuridade por Deng, então o líder supremo, para chefiar o Partido Comunista em 1989, depois que manifestações pró-democracia e uma luta interna pelo poder ameaçaram rachá-lo. Deng então nomeou Hu como o sucessor de Jiang, no início da década de 1990. Ambos foram extremamente cuidadosos para não dar indícios de rivalidade em público. Mas, nos bastidores, acredita-se que partidários dos dois homens tenham lutado incessantemente pela distribuição de cargos no governo. Cerca de metade dos membros do importante Comitê Permanente do Politburo devem sua carreira política a Jiang, enquanto os restantes estariam mais próximos de Hu. Não obstante, as disputas entre os partidários dos dois homens insinuavam a continuação do legado da "política de caixa-preta", onde as decisões importantes são sempre tomadas a portas fechadas e grandes anúncios chegam como completas surpresas. No decorrer da semana passada, a maioria dos observadores e diplomatas ridicularizara a idéia de que Jiang pudesse abandonar o cargo mais cedo, descartando boatos de uma saída eminente e dizendo que esperavam que ele cumprisse seu mandato. Espera-se que Hu, de 62 anos, siga as políticas de seu antecessor. Na semana passada, ele descartou a implantação das reformas no estilo ocidental na China, dizendo que isso conduziria o país para um "beco sem saída". Segundo Hu, "todos os sistemas políticos introduzidos na velha China fracassaram em mudar sua natureza como representantes dos interesses do imperialismo, feudalismo e capitalismo burocrata, e o povo chinês continuou na situação miserável como o oprimido, o escravizado e o explorado".

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