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Chirac pede a grandes potências que façam concessões ao Irã

É a primeira vez que um líder europeu propõe que a suspensão do enriquecimento de urânio deixe de ser condição prévia para o início das negociações

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da França, Jacques Chirac, propôs nesta segunda-feira que as grandes potências façam uma concessão ao Irã que possibilite a negociação de uma saída para a crise em torno do programa nuclear deste país, distanciando-se da posição americana de apressar a imposição de sanções no Conselho de Segurança da ONU. As declarações de Chirac foram feitas em uma entrevista a uma emissora de rádio horas antes de sua viagem a Nova York, onde participará da Assembléia Geral da ONU e se reunirá com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, atendendo a um pedido deste. O governante francês sugeriu que, "durante" a negociação, as seis potências (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha) "renunciem a levar o caso ao Conselho de Segurança para a imposição de sanções e que o Irã renuncie ao enriquecimento de urânio". Esta é a primeira vez que um líder europeu propõe publicamente que a suspensão do enriquecimento de urânio deixe de ser uma condição prévia para o início das negociações. Chirac levantou a possibilidade de a suspensão das atividades não ser permanente, ao sugerir que seja realizada "durante" a Negociação. O Irã e as cinco potências com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha devem "encontrar primeiro uma ordem do dia nas negociações para depois iniciá-las", disse Chirac. O dirigente francês, que se opôs a Bush na Guerra do Iraque, disse que suas relações com o titular da Casa Branca são "muito boas" e "de confiança", mas ressaltou que é preciso que sejam "entre iguais" e "não de submissão". Em entrevista coletiva na sexta-feira passada, Bush deixou claro que manteria a pressão sobre o Irã e a ameaça de sanções, e insinuou que o regime islâmico procura ganhar tempo enquanto mantém suas atividades nucleares, cujo objetivo, segundo Washington, é desenvolver armas atômicas. "Portanto, parte do meu objetivo em Nova York é lembrar às pessoas que não se devem permitir táticas dilatórias", disse Bush. A Rússia e a China expressaram sua rejeição à imposição de sanções ao Irã, enquanto os europeus defendem dar mais tempo ao Diálogo. Chirac recebeu na semana passada em Paris um emissário do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e disse que não é pessimista e considera que seja possível "encontrar soluções" através do diálogo. "Não creio em soluções que não impliquem o esgotamento da via do diálogo", afirmou Chirac, acrescentando que "nunca" é favorável às sanções. No entanto, ressaltou que não exclui a possibilidade de que se chegue a esse extremo, sempre com "moderação e adaptação". O programa nuclear do Irã se encontra no centro das deliberações bilaterais e entre os participantes da Assembléia Geral da ONU, diante da qual Chirac apresentará propostas em relação ao Líbano e ao conflito israelense-palestino. Apesar de sua posição em relação ao Irã no caso da crise nuclear, Chirac disse que, dadas as declarações "sistematicamente anti-israelenses" do presidente iraniano, as condições para um "diálogo pessoal" com Ahmadinejad em Nova York são difíceis. O alto representante de política externa e segurança da União Européia, Javier Solana, que está à frente das conversas com o Irã sobre o tema nuclear, disse na sexta-feira que houve progressos. O Irã, que ignorou o pedido do Conselho de Segurança de congelar o enriquecimento de urânio até 31 de agosto, teria sugerido uma suspensão temporária das atividades depois de se negar a suspendê-las como um pré-requisito para a negociação. Nesta segunda-feira, na 50ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena, o Irã ameaçou limitar sua cooperação com a agência caso sofra sanções da ONU. "Pode-se chegar a uma solução mediante negociações baseadas em boas intenções, flexibilidade e desejo político. O Irã está pronto para negociações e um compromisso político", afirmou o vice-presidente do Irã, Gholam Reza Aghazadeh.

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