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Chirac tenta reparar estragos que a guerra fez na Europa

Por Agencia Estado
Atualização:

As manifestações do Ocidente contra a guerra no Iraque deixaram a Europa admirada. Hoje, enquanto a coalizão anglo-americana patinava nas intermináveis areias da Ásia, o velho continente avaliava os estragos. São enormes. Todos os países foram atingidos. A União Européia se desintegra vagarosamente. Blair diz absurdos sobre Chirac, e o presidente francês nem liga. Essa catástrofe cai mal. A UE vinha justamente de sua mais ambiciosa mobilização. Receber, em 2004, dez novos membros, principalmente na Europa do leste, de forma a contar 25 países. Parece perigoso em si, e se torna quase suicida se ficar claro, neste momento, que os 15 países da Europa brigam entre si feito cães e gatos. De qualquer maneira, Chirac, depois de colocar o time no campo anglo-americano, até frustrar o plano inicial de Bush, se lança em uma nova empreitada: recolher os pedaços da Europa. Colocar um pouco de cola, um pouco de massa e fazer pontos de sutura para dar de novo "aparência humana" ao que se tornou, em poucos meses, a resplandecente UE. Para Chirac, a ressurreição da Europa é mais urgente, já que foi acusado, pelos ingleses e os espanhóis, de ser responsável pelo desastre. Isso aconteceu porque Chirac provocou Washington dizendo que a Europa foi dividida em dois, ou melhor, em três campos, já que há de um lado os antiguerra (França, Alemanha, Bélgica, Grécia, etc.), de outro os que são a favor da guerra (Inglaterra, Espanha, Polônia, etc.) e um terceiro grupo moderado, mais covarde, tendo à frente a Itália, que transformou as regras da lógica aristotélica, mostrando que pode-se dizer "sim" e "não" ao mesmo tempo para uma proposição (no caso, para uma guerra). Como Chirac vai se virar? No atacado, vai fazer o papel de herói. Consagrado pelo seu triunfo - 89% dos franceses aprovam sua linha na crise iraquiana -, ele quer mostrar, com rigor e insensibilidade, a tolerância e a democracia. Ele não perde a oportunidade de dizer que ama os americanos e, mais ainda, os ingleses. Paralelamente, ele encarregou seu primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, de colocar em moto seu plano de restauração política da Europa. Portanto, são convidados a multiplicar as visitas a tal e tal capital da Europa, de se mostrar aberto. É claro que o sotaque será colocado como prioridade sobre os países que escolheram um caminho contrário ao de Paris. São esses que serão adulados, bajulados, abraçados. Primeiro objetivo: Londres e seu Tony Blair. Chirac não vai transformar a briga franco-inglesa em uma Guerra dos Cem Anos. E como seu ego está inflamado depois do sucesso na ONU, ele pode se dar ao luxo de não responder às perfídias de Blair. E dispensar o mesmo tratamento a Aznar e Berlusconi. Esse passeio dos ministros franceses pelos países da Europa dará resultado? É de se duvidar. A situação é desmoralizante. Há tempos que a UE não conhecia semelhantes turbulências. Ou então, deve-se voltar até o general De Gaulle, que discutia como um diabo com a Inglaterra e, muitas vezes sobre o mesmo assunto, com os EUA. Veja o especial :

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