Choques entre mineiros bolivianos deixam 10 mortos

Confronto começou depois que cooperativistas tentaram invadir uma mina estatal; trabalhadores assalariados da jazida reagiram com violência

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um confronto entre mineiros bolivianos vinculados à estatal Comibol - que ganhou importância com a política de nacionalização dos recursos naturais levada a cabo pelo presidente Evo Morales - e trabalhadores cooperativados (privados) da cidade de Huanuni deixou nesta quinta-feira 10 mortos e 57 feridos, segundo a ministra do Interior, Alicia Muñoz. Pequenas bananas de dinamite foram usadas no confronto. Estima-se em mais de 60 mil o número de mineiros cooperativados que buscam o direito de trabalhar nas jazidas sob o controle da Comibol. Assim como os sindicatos dos trabalhadores da estatal, boa parte das cooperativas de mineiros também integra a base de apoio de Evo. Enquanto acompanhava de La Paz a situação de Huanuni, Evo abria uma nova frente de tensão, desta vez com o Judiciário do país, ao declarar que a Corte Suprema de Justiça é "um resquício do Estado colonial" e não tem jurisdição sobre a Assembléia Constituinte instalada em agosto. O ataque foi uma resposta a um parecer emitido na véspera pela Corte, no qual indicava como ilegal a declaração da Constituinte como "originária e plenipotenciária" - que a colocaria acima dos Três Poderes do país. Depois de criticar o tribunal, Evo enviou para a região de Huanuni uma comissão do governo liderada pelo ministro de Minas e Energia, Walter Villarroel. Também integram o grupo governamental o ministro da Presidência, Ramón Quintana, e do Trabalho, Alex Galvez. Os mineiros da Comibol tinham tomado posse das jazidas de estanho - umas das maiores do planeta - em maio, logo após a nacionalização dos hidrocarbonetos (gás e petróleo) por Evo. Os trabalhadores privados, por seu lado, operavam as jazidas por meio de cooperativas formadas depois que a empresa que as explorava, o consórcio RBG Minera, quebrou no ano passado. O governo, por meio de Villarroel, vinha mediando o conflito e tentando um acordo entre os dois grupos - que havia semanas se ameaçavam mutuamente na região de Huanuni, no Departamento de Oruro, a cerca de 300 quilômetros de La Paz. Desde setembro, os cooperativados vinham bloqueando as estradas que dão acesso não só a Huanuni, mas também a outras minas da região. Segundo embate É o segundo confronto social grave desde a posse de Evo: na semana passada, dois ativistas cocaleiros morreram em choques com forças de segurança no Chapare, no Departamento de Cochabamba, centro da Bolívia. O presidente da ONG Assembléia de Direitos Humanos da Bolívia, Guillermo Vilela, responsabilizou o governo pelo "descuido na atuação em Huanani". Segundo ele, as autoridades hesitaram em assumir um papel de força na região para evitar perder apoio político dos mineiros dos dois lados. Segundo o secretário-executivo da Comibol, Alfredo Aguilar, a violência teve início quando um grupo de mineiros cooperativados tentou invadir um centro de produção e atacou com dinamite os operários da estatal. Aguilar disse que entre os mortos havia pelo menos dois funcionários da Comibol, além de um cooperativado e um militar. As autoridades tentavam, na noite desta quinta-feira, identificar os demais cadáveres. Além dos cartuchos de dinamite, mineiros das duas partes trocaram vários tiros. O conflito, iniciado durante a madrugada de quarta para quinta, continuava até o fim da tarde. Quintana informou que o governo ordenou a retirada parcial de uma patrulha do Exército que estava em Huanani para evitar mais violência e esperava que a comissão de ministros conseguisse pôr fim ao enfrentamento. Até 1985, quando o preço internacional do estanho caiu vertiginosamente, o minério respondia por quase 50% do PIB boliviano. A cotação se recuperou em 2005 e a exportação do produto foi considerada a responsável pelo crescimento recorde da economia boliviana no ano passado, que chegou perto de 5%. Atualizada às 02h12

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