Choques violentos se espalham por nove cidades do Egito

Manifestantes vão às ruas de Cairo, Suez, Alexandria e outros locais para pedir saída de Mubarak

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CAIRO - Cenas de caos e violência durante choques entre manifestantes e policiais tomaram conta das ruas da capital, Cairo, e de ao menos outras oito cidades do Egito, no quarto dia de protestos contra o governo do presidente Hosni Mubarak.

 

 

As manifestações desta sexta-feira, as maiores da história do país, se seguem a três dias de protestos pela saída de Mubarak e foram inspiradas em e se seguem a uma onda de atos que culminou com a queda do presidente da Tunísia Zine al-Abidine Ben Ali, há duas semanas. No Cairo, policiais antichoque entraram em confronto com milhares de manifestantes nas ruas do Cairo, usando bombas de gás-lacrimogêneo e canhões d'água para dispersar a multidão, que respondeu atirando pedras, queimando pneus e montando barricadas. Pontes e estradas foram tomadas por manifestantes. Em Suez, manifestantes invadiram uma delegacia de polícia, roubaram armas e atearam fogo ao prédio. Choques também foram registrados na cidade de Alexandria. A oposição afirma que autoridades egípcias bloquearam serviços de internet e telefones celulares, em uma tentativa de impedir ou dificultar a organização de novos protestos. O governo nega as informações. Há relatos de que centenas de líderes da oposição foram presos de madrugada. Ao menos dez pertenciam à organização Irmandade Islâmica, banida pelo governo. Após as rezas de sexta-feira, milhares de pessoas seguiram a um chamado da oposição e se juntaram a protestos no centro do Cairo e de outras cidades egípcias, para pedir o fim dos 30 anos do governo Mubarak, aos gritos de "abaixo Mubarak" e "o povo quer que o regime caia". Em vários locais, a polícia antichoques respondeu atirando balas de borracha, além de bombas de efeito moral e jatos d'água. Em uma praça perto de uma mesquita no bairro de Gizé, partidários do líder da oposição Mohammed ElBaradei - ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Nobel da Paz - foram espancados pela polícia. Eles foram agredidos, segundo a imprensa local, ao tentar proteger ElBaradei, que chegou ao Cairo nesta quinta-feira para se juntar às manifestações. A TV árabe Al-Jazeera chegou a afirmar que ElBaradei tinha sido preso, mas a informação não foi confirmada oficialmente.

 

 

Manifestantes também se reuniram em frente à mesquita Al-Azhar, e perto de um das residências do presidente na capital. O governo francês disse ter recebido relatos de que quatro jornalistas franceses foram presos em meio aos protestos. Em Suez, um dos principais focos dos protestos nos últimos dias, o repórter da BBC Rupert Wingfield-Hayes afirmou que havia choques de grandes proporções entre forças de segurança e milhares de manifestantes, que se reuniram no centro da cidade, também após as preces de sexta-feira. Havia relatos também de choques em Alexandria, Mansoura e Aswan, assim como Minya, Assiut, Al-Arish e na Península do Sinai. A operadora de celulares Vodafone Egypt disse em nota: "Todas as operadores de celular no Egito foram instruídas a suspender seus serviços em áreas slecionadas. De acordo com a legislação egípcia, as autoridades têm o direito de emitir tal ordem e nós somos obrigados a cumprir". Aberto ao diálogo Horas antes do início dos protestos desta sexta-feira, o governo afirmou que estava aberto ao diálogo com a oposição, mas advertiu que tomaria "medidas decisivas". As manifestações no Egito foram inspiradas pelos protestos populares na Tunísia que levaram à derrubada do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, há duas semanas. O governo dos EUA, que tem o Egito como um de seus mais importantes aliados no mundo árabe, vem até agora se mostrando cauteloso em suas observações sobre os protestos. O presidente americano, Barack Obama, descreveu os protestos como o resultado de "frustrações reprimidas" e disse que frequentemente sugeriu a Mubarak realizar reformas. Obama afirmou ter pedido tanto ao governo quanto aos manifestantes que não recorram à violência.

 

Na noite de quinta-feira, sites como Facebook ou Twitter começaram a apresentar problemas, assim como o envio de mensagens por celular. Um internauta do Cairo, que pediu para se manter anônimo, disse à BBC que as mensagens de celular não estavam sendo recebidas. Apesar da proibição oficial, a Irmandade Muçulmana se mantém como o maior e mais organizado movimento de oposição do país. O presidente Hosni Mubarak, que está no poder desde 1981, não foi visto em público desde o início das manifestações. A BBC apurou que chefes dos serviços de segurança teriam dito a Mubarak, de 82 anos, que podem conter qualquer excesso nas manifestações desta sexta-feira. O governo do Egito quase não dá espaço a posições contrárias, e manifestações da oposição são frequentemente proibidas. Na quinta-feira, o Partido Nacional Democrático, de Mubarak, disse que estava pronto para o diálogo, mas não ofereceu nenhuma concessão aos manifestantes. Safwat el-Sherif, secretário-geral do partido, disse: "O PND está pronto para o diálogo com o público, a juventude e os partidos legais. Mas a democracia tem suas regras e seus processos. A minoria não pode forçar seu desejo sobre a maioria".

 

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