CIA divulga arquivos sobre Baía dos Porcos

Justiça obriga agência a revelar documentos secretos que evidenciam fracasso na tentativa de invadir Cuba em 1961

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WASHINGTONTrês dias após o aniversário de 85 anos de Fidel Castro e 50 anos após o desembarque de tropas cubano-americanas na Baía dos Porcos, a Justiça dos EUA obrigou a CIA a divulgar parte dos arquivos sobre uma das mais célebres operações militares da Guerra Fria. Os documentos revelados apontam erros do Departamento de Estado, do presidente John F. Kennedy e afirmam que a invasão foi ainda mais desastrosa do que se imaginava. Segundo os arquivos, Grayston Lynch, principal agente da CIA, ordenou disparos contra aviões que os EUA tinham enviado para a proteção dos invasores, derrubando alguns. Washington havia fornecido aviões B-26 parecidos com os da Força Aérea cubana - caso fossem abatidos, a ideia era negar envolvimento americano e alegar que os aviões eram pilotados por desertores cubanos. "Disparamos contra dois ou três, porque só víamos uma silhueta", afirmou Lynch.O episódio é uma das muitas revelações de quatro volumes escritos por Jack Pfeifer, historiador da CIA, entre 1974 e 1984. As 1,2 mil páginas foram divulgadas por ordem judicial, com base na lei de acesso à informação, a pedido do National Security Archive, um grupo privado ligado à Universidade George Washington - há um quinto volume que a CIA ainda se nega a liberar. Entre os novos detalhes está o desvio de recursos da operação para pagar a máfia para assassinar Fidel Castro. Os planos eram tão secretos que nem Jacob Esterline, comandante da invasão fracassada, sabia. Apesar de a Casa Branca ter proibido o envolvimento direto de americanos na ação, segundo os documentos, a CIA permitiu que pilotos sobrevoassem as praias de Cuba - quatro foram abatidos e mortos. Eles foram condecorados apenas em 1976, em cerimônias secretas.Os documentos também detalham a participação de Richard Nixon, que era vice-presidente quando a operação começou (durante a presidência de Dwight Eisenhower) e acordos fechados com o então ditador da Nicarágua Anastasio Somoza para cooperar em troca de dinheiro. Para historiadores, uma das mais importantes revelações é que nem mesmo a CIA acreditava no sucesso da operação sem intervenção direta dos EUA. Mais tarde, Kennedy teria dito a assessores que a agência apostava que ele não resistiria à pressão e enviaria apoio militar.Erro de julgamento. De acordo com Pfeifer, era "absurda" a tentativa de Kennedy de encobrir o envolvimento americano na operação e teria sido um erro não enviar apoio aéreo para os invasores. Em conversa com o então secretário de Estado, Dean Acheson, Kennedy estimava que seriam 1,5 mil invasores contra 25 mil oponentes. "Não precisa ser um gênio para saber que 1,5 mil é menos do que 25 mil", teria resmungado Acheson, em uma crítica discreta à ingenuidade do presidente. / REUTERS e APWPARA LEMBRARO fracasso de KennedyEm abril de 1961, um contingente de exilados cubanos financiado, treinado, armado e apoiado pela CIA desembarcou em Playa Girón, na Baía dos Porcos, com o objetivo de iniciar uma insurreição contra o regime liderado por Fidel Castro. A ação havia sido concebida no governo republicano de Dwight Eisenhower e herdada pelo democrata John F. Kennedy. Após o desembarque, a operação foi derrotada em apenas três dias - 118 exilados e 176 cubanos morreram. O pior golpe para os EUA foi ter dado uma plataforma de propaganda para regimes comunistas ao redor do mundo e enfraquecido as promessas de Kennedy de uma relação mais próxima com a América Latina.

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