CIA é o primeiro teste para presidente eleito

Com o fim das polêmicas práticas da era Bush e novo chefe, Obama tenta mudar espionagem

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Por Renata Miranda
Atualização:

A reforma da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA é um dos principais desafios do presidente Barack Obama. Em apenas dois dias de mandato, o novo governo já começou a reformulação, proibindo prisões clandestinas e uso de tortura em interrogatórios. Danificada por anos de polêmica e sob pressão do Congresso para que seus funcionários respondam por políticas controversas adotadas pelo governo de George W. Bush, a CIA deverá ser um dos órgãos mais afetados pela promessa de mudança de Obama. "A principal alteração na CIA no governo Obama será o fim da ambiguidade das práticas aplicadas àqueles que são presos por acusações de terrorismo", afirmou ao Estado, por telefone, o especialista em segurança nacional Lawrence Korb, do Center for American Progress, em Washington. "As técnicas utilizadas pelo governo Bush em interrogatórios, como a simulação de afogamento, por exemplo, não serão toleradas por Obama." Pressionado em Washington para encontrar um novo chefe para a CIA que não estivesse ligado ao programa de interrogatórios e detenção adotado pela agência depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, Obama teve dificuldades de encontrar um novo nome para liderar o órgão. Sua primeira escolha para o cargo, o conselheiro para assuntos de inteligência e segurança John Brennan, saiu da disputa ainda na fase de seleção por suposto vínculo com as práticas duras de interrogatório da agência. A escolha final de Obama, porém, causou surpresa e furor no começo do mês, quando ele indicou o ex-deputado Leon Panetta para chefiar a CIA. A falta de experiência de Panetta na área - ex-chefe de gabinete do presidente Bill Clinton e ex-diretor de orçamento da Casa Branca - causou polêmica entre os profissionais de inteligência. "Acredito que a agência será mais bem servida com um profissional de inteligência no comando", afirmou, em nota, a senadora democrata Dianne Feinstein, presidente da Comissão de Inteligência do Senado. O presidente da Associação de Ex-agentes de Inteligência (AFIO, na sigla em inglês), Gene Poteat, discorda. "Alguns dos melhores diretores da CIA não tinham experiência ampla em inteligência", afirmou. "A característica realmente essencial para um chefe da agência é ser inteligente e Panetta não é apenas inteligente, mas também honesto e íntegro." Para Korb, a proximidade entre Panetta e Obama será positiva. O especialista diz ainda que a CIA é um órgão que, após anos de má administração, com Bush, está em constante melhora. "Obama só terá de ter cuidado com a contaminação política, como ocorreu antes da invasão do Iraque, em 2003."

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