Zemmouri, localidade que fica a apenas sete quilômetros do epicentro do terremoto que abalou na quarta- feira a Argélia, é hoje uma cidade em ruínas, que chora a morte de 62 dos seus 2 mil habitantes. Situada cerca de 50 quilômetros a leste de Argel, Zemmouri ficou com cerca de 60% das suas habitações totalmente destruídas e 35% ficaram seriamente danificadas. O sismo, que atingiu 6,7 graus na escala Richter e que provocou, segundo os últimos dados oficiais, 2.217 mortos e 9.085 feridos, deixou um rastro de destruição, com a maioria dos desalojados residindo agora nas poucas tendas que são distribuídas pelas autoridades locais. Seis dias após o tremor de terra, e atravessando a rua principal da cidade, todas as moradias e edifícios públicos estão em ruínas, bem como as escolas, mesquitas, sede da polícia e estabelecimentos comerciais. Tudo ruiu e, nas outras ruas, os edifícios destruídos oferecem uma imagem apocalíptica, agravada pelo incessante e anárquico movimento dos veículos de socorro e de voluntários que estão ajudando nas operações de salvamento, que já permitiram resgatar 227 feridos dos escombros. A ajuda humanitária, além da internacional, vem de todo o país e é encaminhada e organizada na praça principal de Zemmouri, onde toneladas de garrafas de água convivem, lado a lado, com alimentos de primeira necessidade e tendas. São também muitos os desalojados que procuram, no meio da destruição que atingiu as suas casas, alguns pertences. Curiosamente, os edifícios mais destruídos são de construção recente e foram as casas mais antigas que melhor suportaram a violência do sismo, cujo epicentro se localizou a apenas sete quilômetros a uma profundidade de 10 mil metros, segundo o Centro de Pesquisa e de Estudos Sísmicos (CPES) argelino. No prolongamento da rua central fica o comissariado da polícia, onde o chefe de brigada morreu no terremoto e não resta senão a fachada do edifício. Em frente à fachada, estão estacionadas dezenas de automóveis e caminhões, bem como centenas de pessoas que protestam frente a um interlocutor invisível contra os atrasos na distribuição da ajuda humanitária e contra a inexistência de autoridades locais. Um dos policiais que sobreviveu contou à Agência Lusa o seu drama. "Estava de guarda nessa noite. Estava na sala quando ocorreu o sismo, primeiro muito suave e, depois, muito forte. Só tive tempo de sair correndo ao lado de um colega e salvar três ou quatro veículos da polícia. Desligamos depois o gás para evitar explosões e começamos imediatamente a tentar encontrar vítimas", descreveu. Hoje, a vida em Zemmouri começa lentamente a voltar à normalidade. Já ninguém espera encontrar alguém com vida e os cadáveres, enrolados em lençóis, começam a ser transportados pelos seus familiares. Ao abandonar Zemmouri, a estrada que a liga a Argel começa com um espetáculo sombrio. Pode se ver milhares de tendas dos dois lados, abrigando pessoas que perderam tudo em minutos.