Cinzas de Fidel são depositadas em Santiago de Cuba
Raúl Castro fez última homenagem ao irmão mais velho; mausoléu perto do túmulo de José Martí tem apenas uma placa com o nome do líder da Revolução Cubana
Por Cláudia Trevisan e SANTIAGO DE CUBA
Atualização:
SANTIAGO DE CUBA - Depois de um luto de nove dias, as cinzas de Fidel Castro foram depositadas neste domingo, 4, no Cemitério Santa Ifigênia, em Santiago, em uma cerimônia com poucos convidados e sem cobertura da imprensa estrangeira. A urna foi colocada perto do túmulo de José Martí, o ideólogo da independência da ilha no século 19 e cultuado como herói nacional.
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O sepultamento ocorreu ao fim de nove dias de homenagem ao líder que comandou Cuba por quase cinco décadas. A cerimônia foi curta e sóbria. As cinzas foram depositadas no centro de uma grande pedra oval, na qual foi colocada uma placa em mármore verde apenas com a palavra “Fidel”.
Na cerimônia estavam presentes os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, da Bolívia, Evo Morales, e os ex-presidentes brasileiros Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.
"Não houve discurso, foi muito sóbrio, só as cinzas foram enterradas ante a família, membros do governo e funcionários", disse à AFP a número três do governo francês, a ministra do Meio Ambiente Segolene Royal, uma das convidadas estrangeiras.
Fidel Castro, que morreu no dia 25 de novembro aos 90 anos, foi enterrado próximo ao mausoléu do herói independentista cubano José Martí. Salvas de canhões soaram em Havana no início do enterro.
Santiago de Cuba é a cidade dos avós de Fidel. Foi lá que ele passou a infância e adolescência, estudando em colégios destinados à elite cubana, e empreendeu o primeiro ato armado contra o regime de Fulgencio Batista: a fracassada tentativa de tomada do Quartel de Moncada, pela qual cumpriu 22 meses de prisão.
A cidade foi o ponto final da caravana de 1.000 km com as cinzas de Fidel que saiu de Havana na quarta-feira. “Vou continuar a revolução socialista em Cuba”, disse Raúl Castro.
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Caravana. Assim terminou uma semana de grandes tributos ao ex-guerrilheiro que montou um regime comunista a menos de 200 km dos EUA e foi implacável com os opositores. Ao grito de "Eu sou Fidel", milhões de cubanos prestaram homenagem ao seu líder em praças e ruas ou nos acostamentos das estradas por onde passou a caravana com as cinzas, que percorreu a ilha de Havana a Santiago.
A partir de agora, Cuba vira uma nova página sem Fidel, que deixa um legado que provocou ódios e amores. Muitos lembram dele como o homem que universalizou a saúde e a educação gratuitas na ilha, mas outros o descrevem como o ditador que enviou à prisão ou ao exílio qualquer um que se opusesse a ele.
"O luto termina, o que não termina é o que (Fidel) disse, o que nos ensinou. A partir de amanhã é outra Cuba, mas que segue igual", disse José Luis Soria, de 42 anos.
Muitos cubanos acreditam que a ilha manterá o rumo traçado por Fidel e seu irmão Raúl prometeu continuar seguindo. "Todos os cubanos têm confiança em Raúl. E depois dele há outros", afirmou Daniela Lozano Diaz, uma dona de casa de 52 anos, que diz ter Fidel "no coração".
Fidel Castro: o líder da Revolução Cubana
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Caravana da vitória passa por Matanzas Foto: AP Photo
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Fidel (esq.) sorri e acena para multidão em Colón, enquanto ele e sua caravana fazem uma parada na capital Havana Foto: AP Photo/Harold Valentine
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Fidel Castro é entrevistado pelo repórter Ben Funk (esq.), da agência de notíciasAssociated Press, enquanto o fotógrafo Harold L. Valentine tira uma f... Foto: AP PhotoMais
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Castro conversa com repórteres em Cubaem 1964 Foto: NTY
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Em tanque, Fidel inspeciona campo de batalha durante invasão da Baía dos Porcos Foto: AP Photo/Raul Corrales, The Canadian Press
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Fidel lidera tropa em Sierra Maestra Foto: WENDELL HOFFMAN/REPRODUÇÃO CBS
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Fidel Castro encontra o papa João Paulo II Foto: Arquivo/NYT
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Fidel Castro e José Sarney no hotel Caracas Hilton em fevereiro de 1989 Foto: RICARDO CHAVES/AE
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Fidel Castro conversa com JoséDirceu em setembro de 2003, então ministro da Casa Civil, em Havana Foto: Ed Ferreira/ Estadão
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Fidel e o papa João Paulo II durante histórico encontro no Vaticano Foto: Vaticano
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Fidel Castro e o então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Havana Foto: Ricardo Stuckert/ Reuters
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Fidel Castro e seu irmão Raúl durante Congresso do Partido Comunista em 2011 Foto: Jose Goitia/The New York Times
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Castro e Nelson Mandela em Joanesburgo Foto: AFP/PHOTO
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Em janeiro de 2014, a então presidente Dilma Rousseff foi recebida por Fidel em Havana Foto: Reuters
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Quandocompletou89 anos, Fidel Castro acompanhou o atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (esq.), em uma visita surpresaao colega boliviano Evo ... Foto: ABI/EFEMais
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Ao completar 90 anos, Fidel Castro assistiu a uma peça teatral infantil ao lado do irnão Raúl e do presidente venezuelano Nicolás Maduro Foto: Efe
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Raúl Castro (dir.) aplaude o irmão Fidel Castro durante o encerramento do 7º Congresso do Partido Comunista, em Havana Foto: AFP PHOTO / ACN / OMARA GARCIA MEDEROS
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Papa Francisco se encontra com Fidel Castro Foto: Alex Castro/AP
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Fidel (centro) e a mulher,Dalia Soto Del Valle, recebem Ramón Labanino (centro à frente), Fernando González (esq.), Gerardo Hernández (2º. esq.), Anto... Foto: Cubadebate/ReutersMais
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O governo de Cuba declarou nove dias de luto oficialapós a morte de Fidel Castro no dia25 de novembro, aos 90 anos. Foto do líder cubano, suas medalha... Foto: AP Photo/Ramon EspinosaMais
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Em Havana, uma foto gigante do líder cubano foi pendurada em prédio perto do Memorial José Martí Foto: Reuters/Carlos Barria
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Cinzas de Fidel Castro percorreram caminho inverso feito durante a Caravana da Liberdade. A urna com as cinzas partiu no dia 30, da emblemática Praça ... Foto: Mais
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Mudanças. Raúl Castro, que governa desde 2007, quando Fidel ficou doente, estará à frente da ilha até fevereiro de 2018, mas permanecerá com seu cargo máximo no Partido Comunista de Cuba. No sábado, durante o último ato de massas em memória do líder histórico, o presidente cubano jurou que defenderá a revolução socialista. "Diante dos restos de Fidel juramos defender a pátria e o socialismo", proclamou emocionado o líder de 85 anos.
Sem se afastar do regime de partido único, Raúl está empenhado em uma série de reformas para oxigenar o modelo de cunho soviético enquanto avança no processo de aproximação com os EUA iniciado em dezembro de 2015. A cautelosa e lenta abertura permitiu que os cubanos trabalhem por conta própria em algumas atividades, viajem para fora do país livremente (com exceção dos médicos), e mais investimento estrangeiro entre no país.
"A curto prazo, provavelmente não acontecerão muitas mudanças em Cuba após a morte de Fidel. Haverá muita cautela, especialmente com o próximo governo de (Donald) Trump em Washington", opinou Michael Shifter, presidente do Diálogo Interamericano em Washington.
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Sem Fidel, "Raúl terá mais margem de manobra para tomar decisões. Não precisará mais da aprovação de seu irmão mais velho", disse.
Imediatamente, deverá enfrentar a desaceleração da economia, atingida em grande parte pela crise na Venezuela, sua maior aliada. "No momento em que Raúl passar a tocha à próxima geração, é muito importante que acelerem as reformas porque o caminho econômico atual é insustentável", afirmou Ted Piccone, especialista em América Latina do Brookings Institution.
No sábado, os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, da Bolívia, Evo Morales, e da Nicarágua, Daniel Ortega, acompanharam o último ato público em homenagem ao líder da Revolução cubana. Também participaram os ex-presidentes brasileiros Lula e Dilma Rousseff. /AFP