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Classe média chinesa tem novos valores

Como no Ocidente, ela é a que mais compra automóveis, tevês e celulares e é responsável pelo boom imobiliário

Por José Eduardo Barella
Atualização:

Desde que o então líder Deng Xiaoping abriu a economia chinesa, em 1978, cunhando a famosa frase ''''Ser rico é glorioso'''', a China testemunhou o surgimento de uma classe média cada vez mais numerosa, que está moldando um novo padrão de valores e de consumo no país. São famílias com renda anual equivalente a um total entre R$ 8,6 mil e R$ 17,4 mil - pouco se comparado com países ocidentais, mas com um poder de compra pelo menos cinco vezes maior que o dos brasileiros -, que compram automóveis, roupas, tevês e celulares, impulsionam o setor de serviços e são consideradas responsáveis pelo boom imobiliário das grandes cidades. Especialistas estimam em 200 milhões o número de chineses que fazem parte desse novo estrato social. Em 2011, chegarão a 300 milhões - o tamanho da população dos EUA. Eles refletem a transformação ocorrida nos últimos 30 anos no país, período no qual a renda per capita da população cresceu sete vezes, mais do que a dos japoneses nos 25 anos posteriores à 2ª Guerra Mundial. A classe média chinesa tem várias peculiaridades. Enquanto a faixa mais pobre da população e a elite milionária são dependentes do Partido Comunista, seja para sobreviver ou para fazer grandes negócios, a classe média considera-se discriminada. ''''Ela não tem representação política, pois é formada por pessoas que investiram em si, abrindo um negócio próprio, ou por profissionais altamente qualificados que ocupam os principais postos de trabalho no setor privado'''', disse ao Estado o economista Jie Chen, professor da Universidade Fiudan, em Xangai. Outra característica é o cuidado ao gastar seu dinheiro. O crédito ao consumidor ainda é restrito. Isso faz com que os chineses evitem fazer dívidas - a poupança acumulada pela população é avaliada em US$ 4,9 trilhões, o dobro do PIB do país - e sejam mais exigentes na hora de comprar produtos. O exemplo mais visível está nas ruas de grandes cidades, como Pequim, onde há mais carrões de luxo do que automóveis pequenos e econômicos. O carro é um símbolo de status e os chineses não economizam na hora de adquirir o seu. Poupam e, depois, compram à vista. O superaquecimento da economia também levou a classe média a aplicar maciçamente em papéis, que nos últimos anos passaram a ser o investimento mais atraente. Cerca de 30% dos chineses com razoável poder aquisitivo aplicam nas três bolsas de valores do país (Xangai, Shenzhen e Dalian). Em 2006, os papéis valorizaram 130% - índice que deve dobrar este ano. O mercado imobiliário é outro exemplo do crescimento da classe média. Apesar do aumento brutal da oferta nos últimos anos em razão do boom da construção civil - média de 50 lançamentos por mês em Pequim -, o preço do imóvel novo aumentou 8%, em um ano, por causa da especulação imobiliária. O metro quadrado na capital chinesa está avaliado em R$ 2,5 mil, valor elevado até para a classe média. Os que financiaram a compra da casa própria acabaram vítimas dos seguidos aumentos da taxa de juros (três em um ano) decretados pelo governo para conter a inflação. ''''O imóvel deixou de ser um investimento atraente. É preferível aplicar na bolsa e morar de aluguel'''', reclama o administrador de empresas Daniel Qian, um típico representante da classe média chinesa que trabalha em um órgão do governo. Casado com uma brasileira, Qian diz que os pobres chineses vivem melhor do que os do Brasil por terem sido beneficiados pelo crescimento econômico. ''''Mas a classe média brasileira tem mais poder de compra que a nossa'''', assegura. Outra prioridade é o gasto com educação. A política do filho único, em vigor desde 1980, acabou estimulando os pais a investir em escolas privadas de qualidade para a formação do filho. Como essas instituições dão ênfase à criatividade e à independência, os jovens demonstram valores bem diferentes da geração anterior, formada em escolas públicas do regime comunista. Numa economia com crescimento médio anual de 10%, significa que a maioria deles terá oportunidade e qualificação profissional para melhorar o padrão de vida em relação ao oferecido pelos pais. NÚMEROS 200 milhões de chineses pertencem à classe média R$ 8,6 mil é o valor a que equivale a renda anual mínima da classe média, que pode chegar a R$ 17,4 mil 30% dos chineses com razoável poder aquisitivo aplicam na bolsa de valores 50 prédios são construídos por mês em Pequim

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