Clérigo crítico ao Hamas é morto na Faixa de Gaza

Assassinato ocorreu no mesmo dia em que milhares de manifestantes pró-Fatah saíram às ruas para protestar contra a morte de militantes fiéis à Abbas

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Por Agencia Estado
Atualização:

Homens armados não-identificados mataram a tiros nesta sexta-feira, na Faixa de Gaza, um clérigo muçulmano conhecido por suas posições contrárias às defendidas pelo grupo islâmico Hamas, que lidera o governo palestino. Segundo testemunhas, o ataque teria ocorrido do lado de fora de uma mesquita instantes após ele ter proferido um sermão criticando o papel do Hamas na atual onda de violência que atinge a Faixa de Gaza. O assassinato do religioso aconteceu horas depois de o premier palestino, Ismail Haniye, do Hamas, ter anunciado que ele e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, que pertence à facção rival Fatah, selaram um acordo para manter os combatentes rivais fora das ruas de Gaza, depois dos confrontos que mataram oito pessoas na quinta-feira. Nesta sexta-feira, as tensões continuavam elevadas na faixa costeira. Milhares de palestinos leais ao Fatah participaram de manifestações em homenagem a um agente de segurança morto em um ataque do Hamas com granadas lançadas por foguetes, também na quinta-feira. O Fatah, porém, não ecoou o tom do premier e divulgou uma nota agressiva em Gaza: "Sangue por sangue e agressão por agressão. Todos os filhos do movimento devem retaliar abertamente cada agressão." O clérigo muçulmano Adel Nasar, de 50 anos, foi assassinado ao entrar em seu carro depois dos serviços religiosos em uma mesquita no campo de refugiados de Maghazi. Nenhum grupo assumiu a autoria do atentado, mas o Fatah acusou o Hamas. "O xeque Nassar foi morto após deixar a mesquita em que criticou o Hamas pelos crimes cometidos por alguns de seus homens ontem", afirmou o Fatah em uma declaração divulgada nesta sexta-feira. Nassar não era ligado nem ao Hamas nem ao Fatah, mas era uma figura conhecida no campo de refugiados por seus discursos contra o grupo islâmico. Moradores contaram que o religioso havia criticado de forma contundente no sermão de sexta-feira os confrontos entre as facções. Em um dos incidentes da quinta-feira, o agente de segurança do Fatah Mohammed Ghayeb foi morto. Em seu sermão, Nasar disse que Deus puniria os assassinos de Ghayeb. Ainda segundo testemunhas, o clérigo teria dito que os líderes palestinos que não impediram o ataque também serão punidos. Ameaças Em uma das manifestações fúnebres em homenagem à Ghayeb, integrantes das Brigadas dos Mártires Al Aqsa, do Fatah, ameaçaram matar o ministro das Relações Exteriores palestinos, Mahmoud al-Zahar, e o ministro do Interior, Saeed Seyam, ambos do Hamas. "Zahar e Seyam, vocês têm de sair de Gaza. Vamos deixar seus corpos em pedaços", gritou um integrante das brigadas num megafone. Durante a noite, militantes do Hamas e forças policiais invadiram a casa do líder do Fatah Sufian Abu Zaida, no norte da Faixa de Gaza. Móveis foram destruídos, mas o ex-ministro Abu Zaida saiu ileso. Crise interna Os confrontos entre as facções aumentaram em Gaza e na Cisjordânia depois que o presidente Abbas desafiou o governo do Hamas convocando eleições antecipadas, após o fracasso das negociações para um governo que incluísse os dois grupos. O premiê disse que, numa reunião de emergência com Abbas, a primeira em dois meses, os dois líderes concordaram em "retirar todos os homens armados das ruas e mobilizar forças policiais para manter a ordem". Abbas não fez nenhuma declaração pública, mas uma fonte que participou da reunião confirmou o acordo. Entretanto, pactos desse tipo não resistiram à violência no passado, e os moradores de Gaza temem que haja novos incidentes depois que os mortos de quinta-feira tiverem sido enterrados.

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