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Clérigo iraniano quer punir candidato que denunciou abusos

Opositor Mehdi Karroubi, derrotado nas eleições, disse que houve estupros em prisões do país

Por BBC Brasil
Atualização:

Um importante clérigo conservador iraniano afirmou nesta sexta-feira, 14, durante as orações semanais em Teerã, que o candidato derrotado nas eleições presidenciais Mehdi Karoubi deveria ser punido por ter afirmado que manifestantes de oposição presos teriam sido torturados e sofrido abusos sexuais após os protestos que se seguiram ao pleito de 12 de junho. Karoubi fez as acusações nesta semana, por meio de uma carta ao ex-presidente Hashemi Rafsanjani - que é o presidente da Assembleia dos Especialistas, órgão que tem, entre outras atribuições, a de eleger o líder supremo do Irã. Durante as orações desta sexta-feira, o clérigo conservador aiatolá Ahmad Khatami, que também é membro da Assembleia dos Especialistas, afirmou esperar que o regime islâmico "reaja da maneira devida" às acusações de Karoubi. "Um dos políticos (Karoubi) divulgou uma carta insultando o regime islâmico, uma carta que agradou os Estados Unidos, Israel e os estrangeiros.(...). Tudo que foi dito está errado", disse Khatami. Abusos Mehdi Karoubi, que foi candidato nas últimas eleições presidenciais no país, vencidas por Mahmoud Ahmadinejad, acusou as autoridades iranianas de torturarem prisioneiros até a morte e disse que alguns manifestantes presos "foram forçados se desnudar, sendo então penetrados (por guardas)". Como resposta às acusações o aitolá Ahmad Khatami afirmou nesta sexta-feira que a carta é uma ameaça "à reputação do regime islâmico". "A carta vai contra a reputação do regime, que é apoiado pelo sangue de 300 mil mártires. Esperamos que o regime islâmico mostre a reação apropriada e devida contra isso", disse. Durante o discurso, Khatami também pediu que o judiciário iraniano resista às pressões para libertar prisioneiros ligados aos países ocidentais que foram detidos após a onda de protestos e afirmou que governos ocidentais estariam apoiando a oposição. "Ficou claro durante alguns dos julgamentos (de prisioneiros) que algumas embaixadas no Irã, particularmente a britânica, estavam envolvidas em conspirações (contra o regime islâmico). É uma vergonha que um governo tenha permitido até mesmo que o pessoal de sua embaixada participasse dos distúrbios nas ruas", disse o clérigo. Distúrbios A vitória de Mahmoud Ahmadinejad nas eleições de 12 de junho desencadeou as maiores manifestações públicas no Irã desde a revolução de 1979, que levou ao poder o atual regime islâmico. Pelo menos 30 pessoas morreram e centenas foram presas. Grupos da oposição seguem falando em fraude na votação e acreditam que o número de mortos e prisioneiros seja maior do que o divulgado. Mais de cem oposicionistas, entre eles figuras importantes de antigos governos reformistas, foram julgados por acusações como vandalismo, tumulto e conspiração nos protestos que seguiram a reeleição de Ahmadinejad.

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