Clérigo muçulmano pede que Papa retire o que disse do Islã

Ali Bardakoglu fez ainda uma série de acusações contra o cristianismo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Um alto clérigo islâmico turco pediu nesta quinta-feira que o Papa Bento XVI retire o que disse no início da semana sobre o Islã. Ali Bardakoglu fez ainda uma série de acusações contra o cristianismo, aumentando as tensões a poucos meses de uma visita do pontífice à Turquia, programada para novembro. Esta será a primeira visita do Papa um país muçulmano. Chefe do Diretório de Assuntos Religiosos da Turquia, Bardakoglu disse que está profundamente ofendido pelos comentários sobre a guerra santa islâmica feitos pelo Papa durante sua visita à Alemanha, na terça-feira. Para Bardakoglu, os comentários foram "extremamente atormentadores, lamentáveis e errôneos". O clérigo acrescentou que "se o Papa estiver refletindo a irritação, ódio e inimizade" de outros no mundo cristão, então a situação está ainda pior. O Vaticano informou que o Papa não tem nenhum comentário imediato sobre a resposta do clérigo. O porta-voz do Vaticano, o reverendo Federico Lombardi, disse na terça-feira que o pontífice não interpretou o Islã como "algo violento", embora tenha dito que a religião contém caráter violento e não violento. O Papa teceu seus comentários sobre o islã em um discurso em que citou a conversa, extraída de um livro do século 14, entre o imperador cristão bizantino Manuel Paleologos II e um persa sobre as verdades do cristianismo e do Islã. "O imperador foi falar sobre a jihad, a guerra santa", afirmou o Papa. "Ele disse, eu cito, ´mostre-me apenas o que Maomé trouxe de novo, e então você descobrirá apenas coisas más e inumanas, como sua ordem de espalhar pela espada a fé que ele prega´", disse o pontífice citando o livro. Claramente ciente da delicadeza do assunto, Bento XVI disse "eu cito" duas vezes antes de pronunciar as frases sobre o Islã e, em seguida, as descreveu como "bruscas", mas não concordou nem as repudiou explicitamente. Desculpas Durante entrevista à agência de notícias estatal turca Anatolia, Bardakoglu disse nesta quinta-feira que espera as desculpas do papa e frisou que foi o cristianismo, e não o islamismo, quem popularizou a conversão pela espada. "A Igreja e o povo do ocidente, porque viam o Islã como o inimigo, fizeram as cruzadas. Eles ocuparam Istambul, eles mataram milhares de pessoas. Cristãos ortodoxos e judeus foram mortos e torturados", disse o clérigo. "Eles (os cristãos) viam a guerra contra os que viviam fora do mundo cristão como um dever sagrado", continuou Bardakoglu. "Esse é o motivo pelo qual os clérigos ocidentais sempre têm uma mentalidade cruzadista e a idéia da guerra santa." Bardakoglu afirmou que suspeita que Bento XVI tem a mesma mentalidade e pediu ao Papa para "olhar no espelho" antes de fazer comentários contra o Islã. Bento XVI, que tem feito da luta contra o crescente secularismo na sociedade ocidental uma prioridade de seu papado, pretende visitar a Turquia por poucos dias a partir de 28 de novembro. Apesar de a secular Turquia ser 99% muçulmana, o objetivo principal da peregrinação de Bento é se encontrar com o líder dos 200 milhões de cristãos ortodoxos do mundo, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, cuja sede, por razões históricas, fica em Istambul.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.