Clérigos paquistaneses comemoram desempenho nas eleições

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Por Agencia Estado
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Um destacado clérigo paquistanês considerou que o bom desempenho dos partidos religiosos na eleição no Paquistão marca o início de uma "revolução" islâmica que irá livrar a nação da influência ocidental. A coalizão religiosa, chamada Fórum da Ação Unida, conquistou uma surpreendente vitória na Fronteira Noroeste, ao longo da fronteira com o Afeganistão, e se capacitou a formar o primeiro governo islâmico provincial na história do Paquistão. Ela também pode tornar-se parceira no governo em Baluchistão, outra província na fronteira com o Afeganistão. Isso daria aos partidos islâmicos voz em duas das quatro províncias do Paquistão. O Baluchistão e a Fronteira Noroeste são as mais populosas províncias da nação e ocupam a área de maior valor estratégico para os EUA em sua guerra contra o terrorismo. "Vamos trazer a revolução islâmica para o Paquistão", prometeu o vice-presidente da coalizão, Qazi Hussain Ahmed, a uma multidão de 3 mil homens num estádio em Nowshehra, 45 km a leste da cidade fronteiriça de Peshawar. "Nosso objetivo é implementar um sistema islâmico em todo o país e a província Fronteira Noroeste é o primeiro passo nesse sentido". A multidão aplaudia e gritava "Deus é Grande!" enquanto Ahmed e outros oradores criticavam o governo do presidente general Pervez Musharraf por seu apoio à guerra dos EUA no vizinho Afeganistão, classificando sua administração de um "agente da América e Grã-Bretanha". Enquanto isso, o líder da principal mesquita de Peshawar exortou, em seu sermão desta sexta-feira, os recém-eleitos candidatos religiosos a lutarem pelos paquistaneses presos na guerra contra o terrorismo. "A primeira tarefa deles deve ser buscar a libertação daqueles paquistaneses detidos na Baía de Guantánamo", disse Maulana Mohammed Yousuf Qureshi, enquanto fiéis erguiam os punhos para o ar em sinal de aprovação. Ahmed, líder do Jamaat-e-Islami, a principal força na coalizão religiosa, afirmou que pretende fazer uma leitura da Constituição que coloque o país no caminho dos ensinamentos islâmicos de seu grupo. "Vamos interpretar a constituição do país em seu verdadeiro espírito islâmico", revelou. "Vamos eliminar a obscenidade do país, particularmente da rádio e da TV, e gradualmente vamos eliminar a cultura ocidental de nosso país". As eleições foram as primeiras desde que Musharraf tomou o poder num golpe em 1999. Os dois mais conhecidos políticos paquistaneses - ex-primeiros-ministros Benazir Bhutto e Nawaz Sharif - foram proibidos de concorrer, abrindo caminho para o bom desempenho dos partidos religiosos. Ahmed é um dos 37 candidatos dos partidos religiosos que conseguiram cadeira no Parlamento nacional, de longe o melhor desempenho até hoje. Nenhum partido deve ter uma clara maioria no Parlamento, com 272 assentos no geral e 70 outros destinados a mulheres e minorias. Os partidos religiosos normalmente conquistavam por volta de 5% nas eleições no Paquistão e o forte desempenho deles está sendo visto como um repúdio ao apoio de Musharraf aos Estados Unidos.

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