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Coca-Cola inaugura fábrica em Cabul em meio a onda de violência

Presidente afegão disse esperar que a nova fábrica sirva de catalisador para novos investimentos capazes de reanimar a economia do país

Por Agencia Estado
Atualização:

Um atirador de elite destaca-se no cintilante telhado da fábrica da Coca-Cola, observando pela mira de sua arma subúrbios repletos de marcas de violência em Cabul, atento a qualquer sinal de uma ameaça terrorista. No estacionamento repleto de bandeiras vermelhas da Coca, um segurança americano segurava um cão enquanto gritava ordens para jornalistas submetidos a buscas por agentes de segurança afegãos. No convulsionado Afeganistão, é assim que são tratados até mesmo os eventos positivos, como a inauguração, no domingo, da nova fábrica da Coca-Cola, de custo calculado em US$ 25 milhões. Ainda mais quando o evento conta com a presença do presidente pró-americano do Afeganistão, Hamid Karzai. Segundo Karzai, entretanto, mais negócios e investimentos do tipo promoverão uma reviravolta na violência no país, que atingiu seu clímax desde que as tropas americanas derrubaram o Taleban por abrigar o arquiteto dos atentados terroristas de 11 de Setembro, Osama bin Laden. "Este é mais um passo na direção do crescimento econômico, da auto-suficiência e de melhores condições de vida no Afeganistão", discursou Karzai na inauguração no interior da fábrica, onde 350 pessoas foram empregadas. Do outro lado da cidade, no prédio destruído por bombas que antigamente abrigava a última fábrica da Coca-Cola em Cabul, Jomaa Gul pensa de outra forma. O que o Afeganistão precisa agora é de investimento não para produzir refrigerantes, mas para um novo hospital, e para acabar com a violência, disse Gul, cujo pai trabalhou na fábrica de 40 anos antes de ela ser destruída por disparos de artilharia na guerra civil de 1992 a 1996, que matou mais de 50.000 pessoas em Cabul. O jovem Gul vive agora com a sua e mais quatro famílias nas ruínas do que antes era a unidade de administração da fábrica, atrás do também devastado Palácio Dar Laman, no oeste de Cabul. "Mas agora não temos água corrente, nem eletricidade e nem esgoto", contou Gul, de 34 anos, chutando uma garrafa de vidro de 20 anos de Coca-Cola coberta de sujeira no pátio tomado por capim onde antes era o estacionamento dos caminhões de entrega. "Hospitais e segurança são investimentos mais apropriados para US$ 25 milhões do que uma fábrica de refrigerantes", prosseguiu. Karzai elogiou o dono afegão da fábrica, Habibullah Gulzar, um empresário baseado em Dubai, por ter levantado as instalações de última geração, que podem produzir 15 milhões de caixas de duas dúzias de Coca por ano. O presidente afegão disse esperar que a nova fábrica sirva de catalisador para novos investimentos capazes de reanimar a economia do país, que é fortemente dependente de ajuda estrangeira. Gulzar deteve por anos a exclusividade de importação de Coca-Cola para o Afeganistão. Mas ele decidiu no ano passado investir numa fábrica para produzir o refrigerante em seu país. Ele reconhece os perigos que rondam o Afeganistão, como o carro-bomba que matou 16 pessoas em Cabul na sexta-feira. "Existem problemas de segurança. Não posso esconder isso, mas o futuro é brilhante", avaliou Gulzar em conversa com a agência Associated Press. "Minha maior prioridade é como podemos desenvolver as habilidades das pessoas, porque uma vez que empregos vierem para o país e houver crescimento econômico, a paz e a segurança virão juntas". O administrador regional da Coca-Cola baseado na Turquia, Selcuk Erden, relatou que o retorno da multinacional ao Afeganistão foi fruto de muita discussão, particularmente porque a Coca-Cola é vista como um simbólico alvo americano para terroristas. "Sabendo que a imagem mundial da Coca-Cola é de um ícone americano, dissemos a nosso parceiro local que ele podia aparecer mais agora do que antes, mas eles estavam muito confiantes", afirmou Erden.

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