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Colômbia prende Otoniel, um dos traficantes mais procurados do mundo

Prisão feita com 500 policiais e 22 helicópteros na selva colombiana foi comparada à queda de Escobar e é o maior êxito do presidente Duque contra o crime organizado

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Por Redação
Atualização:

BOGOTÁ - Em uma operação digna de cinema, com 500 policiais e 22 helicópteros, o governo da Colômbia capturou o narcotraficante mais procurado do país, Dario Antonio Úsuga, conhecido como Otoniel. Essa foi a operação mais importante contra o narcotráfico desde a morte de Pablo Escobar

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Otoniel, de 50 anos, foi um camponês que deixou de ser guerrilheiro da esquerda, se transformou em paramilitar de extrema direita e, por fim, se consolidou como o chefe do narcotráfico mais procurado na Colômbia e pelos Estados Unidos, que ofereciam uma recompensa de US$ 5 milhões por informações sobre seu paradeiro ou que permitissem sua captura. 

O narcotraficante era o líder do grupo de paramilitares que se autodenomina Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC), também conhecidas como Clã do Golfo, presente em quase 300 cidades do país, segundo o centro de estudos independente Indepaz.

O governo aponta o grupo, que se financia principalmente com o narcotráfico, o garimpo ilegal e a extorsão, como um dos responsáveis pela onda de violência que assola o país, a pior desde a assinatura do acordo de paz com a guerrilha das Farc, em 2016. "Terá que ser o fim desta organização que fez tanto mal aos colombianos", disse o diretor da polícia, general Jorge Vargas.

Dairo Antonio Úsuga é levado pelo Exército da Colômbia em vídeo divulgado pelo governo Foto: Forças Armadas da Colômbia/REUTERS

Nas últimas semanas, Otoniel não tinha casa e dormia em condições de chuva "sem se aproximar de residências", detalhou Vargas. Uma transmissão ao vivo da polícia nas redes sociais mostrou o momento do desembarque de Otoniel em Bogotá, algemado e cercado por vários agentes. Ele foi levado para um edifício da instituição em meio a grandes medidas de segurança. 

"Otoniel foi o traficante mais temido do mundo, matador de policiais e líderes sociais, além de recrutador de crianças. Este é o golpe mais duro que se desferiu no narcotráfico neste século no nosso país, comparável somente com a queda de Pablo Escobar", disse o presidente colombiano, Iván Duque, em mensagem à nação após a captura de Otoniel, no sábado. Escobar foi considerado o grande barão da cocaína e morreu em uma ação da polícia colombiana e a DEA em 1993. 

Esse é o principal êxito do governo conservador no combate ao crime organizado que mais exporta cocaína no mundo. "Sobre este delinquente há ordens de extradição e trabalharemos com as autoridades para cumprir também esta missão", completou Duque.

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Operação na selva

Otoniel foi capturado em uma área próxima da fronteira com o Panamá e um dos principais redutos das AGC. "Estávamos atrás dele há sete anos", detalhou o general Fernando Navarro, comandante das Forças Militares.

Para capturá-lo, a polícia colombiana antecipou um trabalho por satélite com agências dos Estados Unidos e do Reino Unido. Cerca de 500 homens, apoiados por 22 helicópteros, foram mobilizados no município de Necoclí para executar a operação, na qual morreu um policial. A ação foi classificada por Duque como a "mais importante inserção na selva que se viu na história militar do país".

O líder criminoso viajava sozinho, a pé ou em mula, e nunca dormia duas noites seguidas no mesmo lugar, relataram as autoridades colombianas. Nos últimos dias da perseguição, adentrou na mata virgem da região de Urabá, de onde é originário, e se desfez de seus telefones, substituindo-os por correios humanos.

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Biografia no crime

Nascido em 15 de setembro de 1971 no município de Necoclí, estratégica região do noroeste da Colômbia, muito próxima da fronteira com o Panamá, mas também do Pacífico e do Caribe, passou a liderar o Clã do Golfo após a morte do seu irmão, Juan de Dios, conhecido como Giovanni, em confronto com a polícia em 2012.

Montou um aparato criminoso com presença em quase 300 dos 1.102 municípios do país, principalmente no Pacífico, um local estratégico para o envio de cargas de drogas, segundo o centro de estudos independente Indepaz. "Tem um portfólio amplo de atividades criminosas, que incluem garimpo ilegal e a passagem de imigrantes para o Panamá", explicou à agência France Press o especialista em segurança Ariel Ávila.

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Segundo o centro de investigação do crime organizado InSight Crime, o Clã do Golfo também atua na contratação de gangues de rua locais para realizar em seu nome atividades de microtráfico, extorsão e pistolagem.

Aos 18 anos, Otoniel uniu-se ao Exército de Libertação Popular (EPL), uma guerrilha marxista desmobilizada em 1991. "Não era revolucionário, era o que tinha e foi embora com eles", contou sua mãe em uma entrevista ao jornal colombiano El Tiempo em 2015. Ele não fez parte do processo de paz que pôs fim a 26 anos de luta armada deste grupo rebelde e, entre 1993 e 1994, uniu-se às Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita, criada para combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico. / AFP e WASHINGTON POST

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