Colômbia prende dois congressistas acusados de vínculos com paramilitares

Senadores da base aliada do presidente Álvaro Uribe negam envolvimento com grupos criminosos.

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Por Claudia Jardim
Atualização:

Dois congressistas colombianos foram presos nesta segunda-feira sob a acusação de terem vínculos com grupos paramilitares de extrema-direita. A senadora Zulema Jattin, ex-presidente da Câmara de Representantes da Colômbia, e o senador Jaime Alberto Llano, representante do Departamento (Estado) de Caldas, são acusados pela Suprema Corte de terem feito acordos com grupos paramilitares e de receberem deles financiamento e apoio logístico para campanhas políticas. As investigações sobre o envolvimento de políticos com estes grupos - o que ficou conhecido como "parapolítica"- causaram uma crise política no governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe, já que a maioria dos acusados no escândalo pertence à base governista. Logo após ser presa, a senadora Jattin, que nega as acusações, disse ter sido "sequestrada" pela Justiça. Importante aliada de Uribe, a senadora afirmou à rádio RCN que a Suprema Corte está ''dedicada a perseguir os que defendem o presidente da República''. Jattin foi mencionada em pelo menos duas confissões de ex-chefes paramilitares, entre elas, a de Salvatore Mancuso, considerado um dos principais narcotraficantes do país e que foi extraditado em 2008 para os Estados Unidos. Mancuso afirmou que a senadora recebeu apoio das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC) para as eleições de 2002 e que também teria feito acordos com o grupo nas eleições regionais do ano seguinte. "Parapolítica" O congressista Jaime Alberto Llano, ex-prefeito de Villamaría (Estado de Caldas), também citado por ex-chefes paramilitares, nega ter tido envolvimento com o grupo irregular e disse ser "vítima de perseguição política", de acordo com a imprensa local. Se forem condenados pela Justiça, Jattin e Llano podem pegar penas de até 10 anos de prisão. Entre os cerca de 70 acusados pela Justiça de envolvimento com a "parapolítica" estão governadores, prefeitos, legisladores e o ex-chefe da inteligência colombiana, Jorge Noguera. Deste grupo, 34 já foram presos. Seis deles foram absolvidos das acusações, entre eles, Mário Uribe, primo do presidente da República. Crise O escândalo da "parapolítica" veio à tona quando os ex-chefes paramilitares passaram a revelar um suposto pacto realizado entre os políticos colombianos e os líderes das AUC. No final de abril, um dos mais poderosos chefes do narcotráfico na Colômbia, Diego Murillo, conhecido como "Don Berna", afirmou ter financiado a campanha eleitoral do presidente colombiano, Álvaro Uribe, alegando que era a única maneira de livrar o país da "ameaça comunista". O governo colombiano nega as acusações. Os testemunhos desses ex-chefes dos cartéis de droga derivam do processo de paz iniciado por Uribe em 2003, durante o qual cerca de 31 mil paramilitares teriam se desmobilizado, segundo dados oficiais. Entre outros aspectos do acordo, uma lei permitia que os paramilitares tivessem penas reduzidas em troca da confissão de seus crimes e do pagamento de indenizações às suas vítimas ou familiares delas. Muitos paramilitares, porém, foram acusados de violação dos acordos de paz e de continuarem comandando os cartéis do narcotráfico de dentro da prisão, razão pela qual teriam sido extraditados para os Estados Unidos, de acordo com o governo. Criados em 1980 com o financiamento de latifundiários e líderes de direita, sob o argumento de combater as guerrilhas de esquerda, os grupos paramilitares (AUC) são responsabilizados por milhares de assassinatos e de outros crimes relacionados com o narcotráfico. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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