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Milhares voltam às ruas de Bogotá após três mortes

Toque de recolher é decretado para a capital; governo afirma que enviou comissão para investigar procedimentos dos militares durante os confrontos

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Por Redação
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BOGOTÁ - A Colômbia continuou sendo palco de protestos nesta sexta-feira, 22, após a realização de várias passeatas e panelaços que juntaram mais de 250 mil estudantes, trabalhadores e sindicalistas, que abalaram na véspera o governo do conservador Iván Duque. Nesta sexta, o ministro da Defesa confirmou a morte de três pessoas. 

Embora as autoridades tenham apresentado um relatório de tranquilidade em todo o país, na região sul da capital Bogotá foram registrados confrontos entre manifestantes e policiais perto de estações de transporte público, afetadas por depredações e bloqueios.

Na mesma área ocorreram saques a supermercados e ataques contra ônibus públicos.

Tanque de polícia enfrenta manifestantes em 22 de novembro ao sul de Bogotá, Colômbia, um dia depois das manifestações que deixaram três mortos no país Foto: Mauricio Dueñas Castañeda/EFE

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O prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, decretou toque de recolher para a noite desta sexta, nas três regiões mais populosas da cidade, Bosa, Kennedy e Ciudad Bolívar, sob a justificativa de conter os saques de "vândalos". A ordem entra em vigor a partir das 20h horário local (22h horário de Brasília). 

De acordo com Peñalosa, nos três bairros "se concentraram os atos delinquentes no dia de hoje", o que inclui saques aos comércios e danos a 79 ônibus do serviço público, além da destruição de 76 estações de metrô. Ainda segundo o prefeito, 4 mil soldados do Exército auxiliam 20 mil policiais na vigilância e manutenção da ordem em Bogotá. 

Assim como o toque de recolher, a lei seca estará vigente até sábado na capital, medida padrão adotada durante grandes mobilizações na Colômbia. 

Para a tarde desta sexta está programado um novo panelaço, um protesto que na noite anterior durou cerca de três horas em muitas partes da capital e de outras cidades.

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"Hoje o país está calmo", disse o ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo.

Embora a quinta-feira tenha sido quase pacífica, assim que anoiteceu, Bogotá e Cali foram palco de momentos de violência.

No departamento de Valle del Cauca, cuja capital é Cali, três pessoas morreram durante os distúrbios. Dois em Buenaventura, o principal porto do país, em um "confronto" com as forças públicas quando tentaram saquear um shopping center. A terceira vítima fatal foi registrada na Candelária.

Uma comissão oficial foi enviada para a área para "analisar em primeira mão os procedimentos" dos militares nos confrontos, disse Trujillo.

Pessoas participam de greve geral e protesto contra o presidente da Colômbia, Ivan Duque, em Medellin Foto: Joaquin Sarmiento/AFP

Duque, cuja popularidade atingiu o menor índice desde que assumiu o poder há 15 meses, estará à frente de uma reunião extraordinária com seu ministério nesta sexta.

O chefe de Estado, que reconhece a legitimidade de algumas reivindicações, disse na quinta-feira que vai acelerar a agenda social de seu governo e que ouviu a queixa nas ruas, embora não tenha respondido ao pedido de diálogo direto dos promotores da greve.

Policiais investigados

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Os confrontos em várias cidades do país deixaram 273 feridos: 122 civis e 151 membros da força pública. Além disso, 98 pessoas foram detidas, de acordo com dados oficiais.

Após as manifestações, 11 investigações foram iniciadas diante das denúncias de "possíveis ações irregulares" por policiais em Bogotá, Cali, Manizales e Cartagena.

"Se uma falha for verificada, é claro que as sanções correspondentes serão aplicadas", acrescentou o ministro.

A ONG Anistia Internacional divulgou no Twitter que recebeu "testemunhos, fotos e vídeos extremamente alarmantes" de "uso excessivo da força" pela polícia.

Cali, uma das cidades mais violentas da Colômbia, foi o principal foco de violência, com saques e "vandalismo", o que levou o prefeito a decretar toque de recolher.

"Não há notícias de ordem pública, absolutamente tudo calmo e controlado", disse nesta sexta-feira o secretário de Segurança, Andrés Villamizar.

"Rechaçamos enfaticamente e categoricamente os atos de violência ocorridos logo depois das mobilizações. Nós convocamos uma greve nacional de um dia e os colombianos responderam a esse chamado", afirmou Diógenes Orjuela, presidente da Central Unitária de Trabalhadores. 

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Grupos de cidadãos armados vigiavam prédios e complexos residenciais por conta das tentativas de assalto à noite, que, segundo Villamizar, não se concretizaram.

Um grupo de pessoas tentou entrar no condomínio em que Blanca Zapata vive no sul. A mulher se refugiou em casa com seus dois filhos. Seus vizinhos foram até a portaria e controlaram os atacantes.

"Eu estava com muito medo de que eles roubassem e quem sabe mais o quê", disse. 

As autoridades de Cali coletaram detritos nos trilhos e reativaram o serviço de transporte público, que, assim como em Bogotá, sofreu vários danos.

Com uma gama diversificada de reivindicações e demandas, centenas de milhares de pessoas protestaram no dia anterior nas ruas e com panelaços contra o presidente.

Liderados pelas centrais sindicais, que rejeitam supostas reformas para tornar o mercado de trabalho e o sistema de aposentadorias mais flexíveis, indígenas, camponeses, artistas, estudantes e partidos da oposição aderiram ao movimento.

Todos questionam a política de segurança focada na luta contra o narcotráfico, no assassinato de dezenas de líderes sociais e na tentativa de modificar o pacto de paz de 2016 que desarmou o antigo grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que participou da greve.

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A Colômbia, nação de 48 milhões de habitantes, tem crescimento econômico acima da média regional, mas altas taxas de desigualdade e desemprego. / AFP, AP e EFE  

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