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Colômbia  vai demolir edifício símbolo do poder de Pablo Escobar em Medellín 

Local é um dos principais pontos do “narcoturismo”, prática rechaçada pela prefeitura e pela população da cidade colombiana

Por EFE
Atualização:

MEDELLÍN, COLÔMBIA - O edifício Mônaco, símbolo do poder de Pablo Escobar, um legado que resiste ao tempo, situado em um dos bairros mais bem localizados de Medellín será demolido na sexta-feira 22, encerrando um capítulo doloroso da cidade após 25 anos da morte do narcotraficante.

Os oito andares abandonados do edifício Mónaco, bunker que protegeu a família do narcotraficante nos anos 90, cairão em um espetáculo aberto ao público em fevereiro Foto: Raul Arboleda / AFP

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Dezenas de especialistas trabalham há dias nos preparativos para a implosão do edifício de oito andares, que foi residência de Escobar e sua família e, desde sua morte, atrai turistas aos chamados “narcotours”. A implosão levará cerca de três segundos.

No lugar do edifício, no setor de El Poblado, será construído um parque em memória às vítimas do narcoterrorismo ao qual Escobar tentou submeter a sociedade e o Estado colombianos nas décadas de 1980 e 1990.

“Era a casa de Escobar e sua família. Vamos desmantelar esse edifício para construir o primeiro memorial que fará em Medellín homenagem às vítimas”, declarou à EFE o secretário privado da prefeitura da cidade, Manuel Villa. Responsável pelo projeto de demolição de Mônaco, ele argumentou que o objetivo é começar a contar a história “do lado correto” a partir da caída do “símbolo dos algozes e da ilegalidade”.

O salão de cabeleireiro El Patrón éum pequeno estabelecimento dedicado a Escobar Foto: Raul Arboleda / AFP

Esse edifício, hoje em ruínas, foi residência do chefe do cartel e alvo de um atentado com carro-bomba em 1988 por parte dos rivais do cartel de Cali, em um dos episódios mais sangrentos da cidade.

Escobar escolheu o bairro Santa Maria de los Ángeles, que faz parte de El Poblado, como o lugar para construir, em 1986, o prédio Mônaco, batizado assim em homenagem ao principado e residência de vários de seus parentese de seus guarda-costas.

Além dos 12 apartamentos, duas piscinas, 34 praças de estacionamento e uma quadra de futebol, o dono do cartel mandou construir dentro do condomínio um penthouse de dois andares, onde viveu com a mulher e seus dois filhos.

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A guerra entre os carteis de Medellín e Cali deixou sua marca no edifício: o atentado terrorista de 13 de janeiro de 1988, que causou três mortos e dez feridos e escancarou, entre as ruínas do prédio, uma coleção de dezenas de carros esportivos de Escobar.

Para Luz María Escobar (centro), apesar de seu irmão Pablo ter cometido erros, seu lar deve seguir de pé Foto: Raul Arboleda / AFP

Depois do atentado, o narcotraficante abandonou o seu bunker, que posteriormente foi sede da Associação Cristiana de Assistência e Reabilitação (Asocar) e da Direção Nacional de Estupeficante, entidade que administra bens confiscados de narcotraficantes. Além disso, o local se transformou em sede administrativa e financeira da promotoria colombiana, que, em 2000, sobreviveu à explosão de outra bomba, tendo dessa vez como alvo os membros do Corpo Técnico de Investigação da entidade.

Em 2008, o Mônaco foi submetido a um processo de expropriação e entregue à Polícia Colombiana, para dez anos depois passar para as mãos da prefeitura de Medellín em acordo com a Sociedade de Ativos Especiais, que finalmente permitiu dar seguimento à demolição.

Memória

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A implosão faz parte da iniciativa “Medellín abraça sua história”, liderada pelas autoridades locais para prestar homenagem às vítimas do narcoterrorismo na cidade.

Segundo o prefeito de Medellín, Federico Gutiérrez, reconstruir esse edifício “em ruínas” exigiria o investimento aproximado de 40 milhões de pesos, isto é, “dez vezes mais” o que custaria a demolição e construção do parque.

“Não é apagar a história, mas voltar a ela para contá-la pelo lado correto e pelo lado das vítimas”, expressou Gutiérrez sobre a demolição do Mônaco, que deixará de atrair um turismo rechaçado abertamente pelo o prefeito e pela cidade.

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“Para além da lenda que hoje simbolizas, poucos conhecem a verdadeira essência de sua vida”, recitaLuz María Escobar, queredigiu a inscrição na lápide do irmão Foto: Raul Arboleda / AFP

Na convocatória para a demolição, o prefeito lembra que, em 1991, Medellín foi “a cidade mais violenta do mundo”, com 381 homicídios para cada 100 mil habitantes, e a população vivia “em meio à dor e ao medo , mas é justamente esse passado que é tão valioso ao nosso presente”.

“A Medellín de hoje é fascinante porque ressurgiu e se transformou. Hoje, somos exemplo de inovação e de inclusão social e seguimos avançando em processos de renovação urbana que nos permitem construir uma cidade segura”, acrescentou. Para Lucero Gómez Restrepo, habitante da região, “é hora de deixar para trás o narcoturismo em um edifício abandonado”. / EFE

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