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Com alta abstenção, Santos é eleito novo presidente da Colômbia

Candidato governista teve mais de 60% dos votos; Mockus reconhece derrota.

Por Claudia Jardim
Atualização:

Com 99% das urnas apuradas, o candidato governista Juan Manuel Santos foi eleito o novo presidente da Colômbia neste domingo, obtendo 69% dos votos contra 27,5% de seu adversário do Partido Verde, Antanas Mockus. A maioria dos colombianos que foram às urnas optou pela continuidade das políticas do presidente colombiano Álvaro Uribe, que deixará o governo em agosto, após oito anos. Ex-ministro da Defesa de Uribe, Santos foi eleito com pouco mais de 9 milhões de votos no segundo turno. Pouco após a divulgação dos resultados, Mockus reconheceu a derrota e disse que seu partido terá uma relação de independência com o novo governo. "Essa relação se resume em duas palavras, independência e deliberação. Apoiaremos o bom e nos oporemos ao que for mau (...) temos obrigação de fazer controle político ao novo governo", disse. "Somos milhões os que encontramos uma nova forma de fazer política. Defendemos a Constituição e a independência das instituições". Para o analista político Ricardo Ávila, a eleição de Santos "é uma vitória do uribismo". Segundo ele, o número de votos conquistados por Santos poderá ampliar sua margem de manobra para tentar governar com "identidade própria". "Para ele é importante ter mais votos que Uribe, porque sentirá que apesar de ser o sucessor do presidente, tentará imprimir uma identidade própria no governo", afirmou o analista à BBC Brasil. Uribe foi eleito em 2002 com 53% dos votos e reeleito em 2006 com 62%. Abstenção A ONG Movimento de Observação Eleitoral (MOE) disse estar "preocupada" com a abstenção, que pode chegar a 57% do total de eleitores. "Geralmente em segundo turno a abstenção cai. É a primeira vez que sobe em relação ao primeiro turno", afirmou à BBC Brasil Ariel Ávila, analista do MOE. Para Ariel Ávila, a diferença de mais de 5 milhões de votos em relação a Antanas Mockus dá mais "legitimidade" internacional que interna ao novo governo, depois dos escândalos que marcaram os últimos anos da administração Uribe. "A coalizão de governo conquista uma legitimidade internacional importante. É uma vitória muito alta", afirmou. "Nacionalmente o panorama não muda muito. Um terço da população continua na oposição". As urnas foram abertas às 8h em Bogotá (10h em Brasília), com pouca presença de eleitores nas primeiras horas, tendência que se manteve durante todo o dia. A forte chuva registrada em todo o país e jogos importantes da Copa, como a disputa entre Brasil e Costa do Marfim, teriam aumentado a apatia dos eleitores. "As partidas do campeonato são agradáveis. O esporte une a humanidade, mas é muito mais agradável depois de ter votado, para cumprir com o dever democrático da eleição do novo presidente da República", afirmou o presidente colombiano Álvaro Uribe, o primeiro eleitor a votar nesta manhã no centro de votação instalado na Praça de Bolívar, a poucos metros da casa de governo. Violência Neste domingo, sete policiais foram mortos em uma emboscada atribuída a rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN), no Departamento (Estado) Norte de Santander. As autoridades ainda não precisaram a quantidade de feridos que o ataque teria produzido. Também neste Departamento, papéis de votação e urnas foram queimados em pelo menos três municípios, segundo a imprensa local. Na madrugada deste domingo, um atentado contra uma torre de energia no Departamento de Nariño deixou ao menos três municípios sem eletricidade. Em Tolima, três militares foram mortos em um enfrentamento com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), maior guerrilha em atuação no país. No restante do país, as eleições transcorreram em relativa calma. Mais de 350 mil militares foram colocados nas ruas em todo o país para reforçar a segurança nos centros de votação. Herdeiro Analistas consideram que a consolidação da candidatura de Santos se deve à herança de Uribe, que pode terminar o mandato com mais de 70% de popularidade, e ao uso da máquina do Estado, em especial dos votos de eleitores beneficiários de programas sociais do atual governo. Outro fator é a ampla aliança feita com os demais partidos conservadores, cujo apoio incrementou em mais de 2,5 milhões o número de votos a seu favor neste segundo turno. A analista política Maria Teresa Ronderos acredita que Santos poderá fazer um governo "mais institucional e menos populista". "Santos pode ter a opção de fazer um governo diferente, mais respeitoso com as instituições e menos agressivo, inclusive com os países vizinhos", disse. "A incógnita é se ele estará disposto a romper com as máfias no Congresso e com o sistema clientelista de governar." Santos promete dar continuidade à política de segurança do presidente colombiano Álvaro Uribe, principal marca do atual governo, e a seus principais programas sociais. Eleito em 2002 e reeleito em 2006 com a promessa de enfrentar as guerrilhas, Uribe implementou uma ofensiva militar sem precedentes, principalmente por meio de sua política "Segurança Democrática" e da ampliação do "Plano Colômbia" - um acordo de cooperação militar com os Estados Unidos. Santos chega à Presidência de um país com 45,5% de pobres, 5,2 % menos que há oito anos, com uma taxa de desemprego de 12%, uma das mais altas da América Latina, e com um déficit fiscal estimado em mais de 4% do Produto Interno Bruto. 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