23 de janeiro de 2015 | 16h28
CARACAS - Ladrões e saqueadores estão perseguindo caminhões com carregamentos de comida por toda Venezuela, em mais um sinal do agravamento da escassez de produtos que tem tornado alguns itens básicos, como farinha e carne de frango em cargas cobiçadas.
A escassez geral de bens, causada pela restrição na disponibilidade de dólares para importação, tem piorado desde o ano novo e a situação fez com que as entregas de alimentos se tornassem cada vez mais arriscadas, levando à instalação de localizadores via satélite em caminhões e, em alguns caso, à contratação de escolta de seguranças particulares.
"Não vou mais transportar comida porque as ruas estão muito perigosas", disse Orlando Garcia, um motorista de 37 anos natural do Estado de Tachira, no oeste do país, que já foi abordado duas vezes enquanto atravessava o país.
"Eles colocam pregos na estrada (para estourar os pneus) e quando paramos para consertar o pneu eles atacam você", disse Garcia, que agora se recusa a trabalhar depois da meia-noite e vai transportar apenas itens de plástico.
Filas que dão a volta em quarteirões são agora comuns por todo o país exportador de petróleo. Tropas da Guarda Nacional Armada foram mobilizadas para manter a ordem, mas a frustração infla rapidamente depois de horas de espera sob o sol caribenho.
"Tornou-se um problema de segurança trazer caminhões até grandes lojas de supermercado", disse Arsenio Manzanares, líder do sindicato venezuelano de caminhoneiros. "Isso não costumava ser um problema, mas agora com essas filas, as pessoas veem um caminhão e vão em cima", acrescentou.
A mídia local tem noticiado uma série de roubos de comida neste mês em Caracas, um deles realizado por quatro homens armados que roubaram atum enlatado, farinha de milho e açúcar refinado.
O presidente Nicolás Maduro diz que a escassez resulta de uma "guerra econômica" conduzida por inimigos de direita que tentam derrubar seu governo socialista. Nessa semana, ele anunciou mais uma repressão contra estoquistas e contrabandistas que vendem bens com preços fixados pelo governo para a Colômbia com alta margem de lucro.
Líderes da indústria e motoristas dizem que a escassez tem sido exacerbada pelo corte das entregas noturnas por razões como a falta segurança, falta de pneus e baterias para caminhões devido ao impacto do controle de divisas e as estradas em má conservação.
"Já me roubaram cinco vezes", disse o caminhoneiro José Alexaner Rincón, de 39 anos, também natural de Tachira. "Estou nervoso. É mais perigoso durante o dia, mas não tenho alternativa." /REUTERS
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.