Com cultivo 5 vezes maior do que em 2002, ópio garante 30% do PIB

Agricultores alternam produção de papoula com a de romã

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Por Adriana Carranca e CABUL
Atualização:

Entre os desafios da política externa de Barack Obama para o Afeganistão está o combate ao narcotráfico. O país responde por 93% do ópio, matéria-prima da heroína, produzido no mundo. O cultivo da papoula - a flor de onde se extrai a pasta do ópio - mais do que quintuplicou após a invasão americana. Produzida em 16 das 34 províncias, a safra de 2008 estendeu-se por 157 mil hectares. Em 2002, eram 30,7 mil. As 7,7 mil toneladas de pasta de ópio produzidas no ano passado renderam US$ 3,4 bilhões, ou 30% do PIB do país. A correlação entre o cultivo da papoula e as áreas dominadas pelos taleban tornou-se evidente - 98% das plantações concentram-se em sete províncias do sul consideradas de "alta instabilidade" pelas forças internacionais. Helmand, província que tem 10 de seus 14 distritos controlados pelos fundamentalistas, responde sozinha por 66% da produção. Apenas 15% das terras afegãs são cultiváveis. Os taleban e os narcotraficantes trabalham em sintonia: os radicais usam os dólares do ópio para financiar a insurgência, as máfias interessam-se em manter o país instável. O programa de combate ao narcotráfico no Afeganistão custa ao Tesouro americano US$ 1 bilhão por ano. Em sua coluna no Washington Post, Richard Holbrooke, enviado de Obama para a região, qualificou o programa de "o mais ineficiente na história da política externa americana". No artigo, ele diz que o narcotráfico fortalece o Taleban e a Al-Qaeda e pouquíssimo tem sido feito contra os "funcionários de alto escalão do governo que estão no centro do imenso comércio de drogas no Afeganistão". "O governo tinha de nos encorajar a parar com o cultivo da papoula, mas Karzai e sua máfia não fazem nada. Eles também estão envolvidos com as drogas", diz Abdul Wahab, agricultor de Kandahar, sul do país. Em sua gleba de um jirib - medida equivalente a um quinto de hectare - a papoula é plantada em fevereiro e colhida em junho. No restante do ano, produz romãs e uvas. No mercadão de Chaman Babrak, em Cabul, não é difícil encontrar produtores que revezam o plantio da papoula com frutas, verduras e legumes. Com o aumento do preços dos alimentos, a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) tenta convencê-los a deixar definitivamente a papoula. Em dezembro, a Usaid e o Ministério da Agricultura afegão promoveram um encontro entre agricultores locais e importadores de romã. "Em média, conseguem US$ 2 mil por acre de romã, enquanto obtêm US$ 1.320 com o ópio", defende Loren Stoddard, da Usaid. Mas os produtores apontam dificuldades para comercializar as frutas. Os agricultores sofrem com a seca, falta de eletricidade e infraestrutura para o armazenamento da produção e o perigo nas estradas. A papoula é uma planta mais resistente e o escoamento é facilitado pela rede de narcotráfico nas fronteiras com o Paquistão e o Irã. "Sofremos muitos perigos hoje nas estradas", conta Wahab, que, para vender romãs, tem de fazer o percurso Kandahar-Cabul duas vezes por semana. Abdullah, Ghafar e outros produtores ao lado de Wahab concordam. "Há assaltos, sequestros e temos problemas com as autoridades. Policiais nos param e pedem propina", dizem.

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