Com hospitais perto do colapso, Europa analisa medidas ainda mais restritivas

Governos europeus tentam navegar entre a revolta de parte da população, insatisfeita com quarentenas e lockdowns, e a necessidade de endurecer mais o confinamento para conter disseminação do vírus e evitar saturação dos sistemas de saúde

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Por Redação
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BRUXELAS - Os governos europeus estão diante de uma encruzilhada. De um lado, enfrentam os protestos populares contra o confinamento, como os que foram registrados no fim de semana na Alemanha, Holanda, Áustria, Bulgária, Suíça, Sérvia, Polônia, França e Reino Unido. Do outro, a necessidade de endurecer ainda mais as restrições de movimento para evitar o colapso dos hospitais.

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Neste domingo, Alemanha e Bélgica confirmaram que a única saída para evitar um colapso em seus sistemas de saúde é adotar novas medidas de confinamento, que devem ser anunciadas em breve. O Instituto Robert Koch de Doenças Infecciosas, agência estatal alemã, relatou que os níveis de contaminação por coronavírus haviam ultrapassado uma marca-chave. 

De acordo com o instituto, a média de 100 infecções por cada 100 mil habitantes nos últimos sete dias é o limite estabelecido pelas autoridades para que as UTIs sejam capazes de suportar uma onda de contágios. Neste domingo, a Alemanha chegou a 103,9 contaminações por 100 mil habitantes, prenunciando uma sobrecarga do sistema. O agravamento da crise aumentou a pressão pela adoção de uma nova quarentena. 

Milhares de jovens foliões se reúnem nas ruas de Marselha para um carnaval não autorizado, driblando as restrições do governo Foto: Christophe Simon/AFP

Líderes nacionais e regionais se reunirão hoje para definir o alcance da próxima rodada de restrições. “Infelizmente, teremos de acionar essas travas de emergência”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel, que tem apoio de várias autoridades regionais. 

 Na França, a situação é crítica em algumas regiões, especialmente no norte do país. Há duas semanas, pacientes de Lille, Dunquerque e Furnes começaram a ser transferidos para hospitais belgas, que agora também dão sinais de saturação. 

Na Bélgica, onde a média diária de casos cresceu 36% na última semana, o ministro da Saúde, Frank Vandenbroucke, disse ontem que novas medidas de confinamento são inevitáveis, já que as restrições atuais, em vigor desde novembro, não foram capazes de conter a pandemia. 

“Estabelecemos um plano de abrir completamente as escolas após a Páscoa e os restaurantes a partir de 1.º de maio”, afirmou o ministro. “Com o aumento de casos, existe o risco de não atingirmos esses objetivos. Para garanti-los, medidas adicionais são necessárias.”

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O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, disse que o governo já esperava um aumento do número de casos em março, mas que o crescimento que vem sendo registrado está muito além do projetado. “Está claro que teremos semanas decisivas pela frente”, disse o premiê. “Por mais que a gente queira, o coronavírus não foi embora.” Segundo o governo, no ritmo atual, o sistema de saúde da Bélgica começará a entrar em colapso a partir de 10 de abril. 

As UTIs estão lotadas também na Romênia, após a aceleração do contágio registrada na semana passada. O primeiro-ministro romeno, Florin Ciu, no entanto, rejeitou ontem a ideia de lockdown nacional. “Muitas pessoas estão me perguntando se vamos acabar presos dentro de casa novamente. Minha resposta é muito clara: não”, disse.

Em parte, a hesitação do governo romeno se explica pela onda de protestos contra o confinamento registrada no fim de semana. No sábado, pelo menos 36 pessoas foram presas e vários policiais ficaram feridos em Londres durante uma manifestação. 

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Em Kassel, na Alemanha, houve confrontos entre manifestantes e policiais, que usaram spray de pimenta, cassetetes e canhões d’água para dispersar a multidão. 

Os franceses também saíram às ruas contra o terceiro confinamento em menos de um ano para 21 milhões de pessoas – quase um terço da população do país. Neste domingo, milhares de pessoas se reuniram para um carnaval não autorizado em Marselha, uma aglomeração gigantesca de foliões que a polícia qualificou de “irresponsáveis”. “Os jovens estão cansados do confinamento”, disse Romain, de 26 anos, que vestia uma camiseta do craque Zinédine Zidane, mas que não quis revelar seu sobrenome.

Carnaval em Marselha: franceses também saíram às ruas contra o terceiro confinamento em menos de um ano para 21 milhões de pessoas Foto: Christophe Simon/AFP

A festa em Marselha revela o caráter cada vez mais impopular das restrições adotadas pelo governo do presidente, Emmanuel Macron, fez com que as autoridades evitassem usar o termo “lockdown” para se referir às novas medidas, anunciadas na quinta-feira. O pacote de Macron, porém, acabou sendo mais brando do que os dois confinamentos anteriores, de março e novembro. De acordo com as novas regras, o comércio não essencial fechou as portas. Lojas de roupas, decoração e salões de beleza também tiveram de suspenderam suas atividades. Mas estabelecimentos que vendem comida, livros, flores e chocolate puderam permanecer abertos – o que foi bastante questionado por especialistas.

Grécia apela para médicos privados

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Diante da situação crítica dos hospitais na maior parte do país, o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, escreveu neste domingo um artigo no jornal To Vima afirmando que está preparado para requisitar médicos do setor privado para ajudar o sistema de saúde público, para evitar o colapso do atendimento. 

O governo da Grécia já havia convocado os médicos do setor privado para oferecer seus serviços, mas até agora apenas 55 se ofereceram como voluntários – dos 200 que são necessários. De acordo com o primeiro-ministro, a cooperação é sempre preferível como primeiro passo. Obrigar os médicos a oferecerem os seus serviços, segundo ele, não é a melhor opção. “Temos de inspirá-los a fazer isso”, escreveu Mitsotakis./ REUTERS, AFP, EFE e AP

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