WASHINGTON - Na última semana, os Estados Unidos ampliaram o cerco contra o sistema econômico cubano ao impor sanções à empresa American International Services (AIS), que processa os envios de remessas para a ilha, e ao general cubano Luis Alberto Rodríguez López-Calleja, chefe do conglomerado empresarial militar mais poderoso de Cuba.
Segundo o governo de Donald Trump, as medidas têm a intenção de atingir os meios econômicos que "beneficiam desproporcionalmente o governo cubano ou seus militares, agências de inteligência e segurança".
Rodríguez López-Calleja, diretor do Grupo de Administração Empresarial SA (GAESA) de Cuba, foi incluído na lista do Centro de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro, informou em comunicado nesta quarta-feira, 30, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo.
Isso supõe o congelamento de todos os ativos de Rodríguez López-Calleja sob a jurisdição dos EUA e a proibição de todas as transações financeiras envolvendo pessoas físicas e jurídicas americanas. "A receita gerada pelas atividades econômicas do GAESA é usada para oprimir o povo cubano e financiar a dominação parasitária e colonial de Cuba sobre a Venezuela", afirmou Pompeo. O general é ex-genro do ex-presidente Raúl Castro.
Cuba é um aliado fundamental do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, considerado por Washington um ditador. O governo americano tenta impulsionar a saída de Maduro do poder por meio de uma série de sanções.
A GAESA, um holding estatal que abrange hotéis, supermercados e até serviços portuários e aduaneiros, controla grandes setores da economia desde a década de 1990, em especial o turismo, motor econômico da ilha.
Na segunda-feira, 28, o governo Trump havia anunciado sanções à American International Services (AIS) por seus vínculos com os militares cubanos. "Os lucros destas operações beneficiam de forma desproporcional os militares cubanos, o que fomenta a repressão do povo cubano", disse o Departamento de Estado em um comunicado. A companhia que processa as remessas é uma filial da empresa Fincimex, que sofreu sanções em junho.
"Pedimos a todas as pessoas que enviam remessas a Cuba, que usem meios que não sejam de entidades controladas pelo governo", completou o Departamento de Estado.
O governo americano já havia restringido o envio de remessas a Cuba, proibindo o envio a parentes de funcionários cubanos e membros do Partido Comunista, e limitado a quantia a receber a US$ 1 mil por pessoa a cada trimestre.
Relações tensas
EUA e Cuba, rivais desde a revolução de Fidel Castro, em 1959, experimentaram uma reaproximação histórica promovida pelos ex-presidentes Barack Obama e Raúl Castro, que permitiu o restabelecimento das relações diplomáticas em 2015.
Mas com a chegada de Trump à Casa Branca em janeiro de 2017, Washington reforçou o bloqueio econômico à ilha que está em vigor desde 1962, citando violações dos direitos humanos do povo cubano e o apoio de Havana ao governo Maduro.
Em novembro de 2017, o governo Trump incluiu o GAESA e o Ministério das Forças Armadas Revolucionárias (Minfar), ao qual pertence, em uma lista de instituições cubanas proibidas de realizar transações financeiras com cidadãos e empresas americanas, no âmbito de um memorando sobre o "fortalecimento da política para Cuba".
Questionado pela agência France Presse, John Kavulich, especialista em relações entre Washington e Havana, disse que a inclusão do general Rodríguez López-Calleja na lista da OFAC "não é surpreendente, dado seu papel no GAESA", antecipando que Washington continuará a mirar no conglomerado cubano independentemente de quem vença as eleições de 3 de novembro.
As medidas são anunciadas em um momento de crescimento do apoio a Trump da comunidade cubana na Flórida a sua candidatura. O Estado do sul dos EUA tem um dos principais eleitorados para se chegar à Casa Branca.
Turismo sob mira
Na semana passada, o governo Trump impôs mais sanções ao setor de turismo, proibindo que os americanos se hospedem em propriedades pertencentes ao governo de Havana e anunciou restrições à importação de cigarros e licores.
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, respondeu no Twitter denunciando que as medidas "intensificam o bloqueio para tentar manipular os eleitores da Flórida". / AFP e REUTERS