Com Morales, Lula deve anunciar aumento do preço do gás

Mudança na posição do Brasil ocorreu após negociação ocorrida nesta noite

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Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma guinada na posição assumida pelo governo brasileiro desde maio de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá anunciar na manhã desta quinta-feira, ao lado presidente Evo Morales, da Bolívia, o aumento do preço do gás natural boliviano exportado para a Petrobrás. O recuo brasileiro foi o resultado de uma negociação que se estendeu das 11 horas até as 21h45 da noite desta quarta, e que foi encabeçada pelo próprio Morales. O líder boliviano conseguiu converter sua visita de Estado ao Brasil em uma plataforma para pressionar o governo Lula a aceitar uma solução política para o dilema. Fontes do governo informaram ao Estado que a decisão ocorreu minutos antes do adiamento da cerimônia de assinatura dos acordos fechados entre os dois governos e do pronunciamento de Lula e Morales, no Palácio do Planalto, para as 9 horas desta quinta-feira. Morales, que pretendia voltar nesta noite mesmo para La Paz, teve de dormir em um hotel de Brasília. Inicialmente, essa cerimônia estava prevista para as 13 horas. As mesmas fontes destacaram que o governo brasileiro aceitou elevar o patamar atual do preço do gás natural importado da Bolívia pela Petrobrás, hoje em US$ 4,3 por milhão de BTU (unidade britânica para mensurar o volume do insumo). Mas esquivaram-se de informar qual será o novo valor aplicado. A Bolívia vinha insistindo para que alcançasse US$ 5, como consta do contrato que firmou com a Argentina em outubro de 2006. A Petrobrás e o Ministério de Minas e Energia, entretanto, acentuaram que não haverá mudança na fórmula de reajuste dos preços, que prevê variações trimestrais, com base na evolução dos valores de uma cesta de óleos e lubrificantes no mercado internacional. "Conseguimos encontrar uma fórmula técnica que respeita os acordos. O contrato não será alterado", disse o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, no final da noite. "Os acordos atendem perfeitamente os interesses dos dois lados. Ambos estão satisfeitos. Fizemos um acordo com substância política econômica e que tem de se traduzir em acordo jurídico. O assunto está encerrado", completou, sem antecipar qual efeito essa medida terá para os consumidores brasileiros. Fim de resistência A quebra da resistência do governo brasileiro, mantida nos últimos nove meses, foi uma vitória colossal de Evo Morales. Com o aumento do preço dos 26 milhões de BTU diários importados pela Petrobrás da Bolívia, o Brasil vai se manter em desalinho com o movimento do mercado mundial de gás, que tem assinalado quedas nesses preços. Além disso, dará a Morales a ferramenta política que necessita para consolidar sua popularidade, uma vez que essa briga tornou-se sua principal meta nas relações com o Brasil. Por fim, selará a política de generosidade mantida pelo presidente Lula para com a vizinhança sul-americana. "Prêmio de consolação" Segundo Garcia, os acordos que serão assinados nesta quinta-feira não devem ser vistos como "prêmios de consolação" e que serão um passo importante para as relações bilaterais. "Nunca trataríamos a Bolívia dessa forma depreciativa", afirmou. Até as 17 horas desta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, indicava que a negociação sobre o preço do gás importado pela Petrobrás continuaria na órbita "técnica e empresarial". Informava ainda que o próprio presidente Lula preferira tratar com Morales de uma agenda mais ampla em torno desse insumo que envolveria os investimentos brasileiros na construção de um pólo gás-químico na fronteira entre os dois países e no aumento da produção da Petrobrás na Bolívia, assim como em linhas de financiamento para tais projetos. Nenhum desses projetos é novidade. Tratam-se de planos da Petrobrás e de companhias privadas brasileiras suspensos depois do festivo anúncio da nacionalização do setor de gás e petróleo por Morales, com a ocupação militar das refinarias da Petrobrás na Bolívia, em maio de 2006. Amorim, entretanto, acentuou que as negociações continuavam naquele momento. Até o início da noite, a perspectiva era de que Morales deixaria o Brasil apenas com o reajuste do preço do gás fornecido pela Andina para a TermoCuiabá, resultado do contrato firmado pelas duas companhias privadas para o fornecimento de 2,8 milhões de BTU diários. De fato, o Ministério de Hidrocarbonetos anunciou, em nota oficial, o reajuste desse valor de US$ 1,19 para US$ 4,20 por milhão de BTU. O Ministério de Minas e Energia confirmou a informação pouco depois.

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