Com pressão do Ocidente sobre Belarus, Putin se encontra com Lukashenko

Último ditador da Europa e presidente russo se encontram em Sochi nesta sexta-feira, 28, em meio a turbulência provocada pela interceptação de avião comercial

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Por Mary Ilyushina e Isabelle Khurshudyan
Atualização:

MOSCOU - Enquanto o Ocidente se movia para isolar e punir o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, por interceptar o avião civil que transportava o jornalista e líder opositor Roman Protasevich, o chamado "último ditador da Europa" viajou para a Rússia nesta sexta-feira, 28, para uma reunião com Vladimir Putin.

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Embora Lukashenko e Putin se encontrem com frequência, esta cúpula na cidade turística de Sochi, no Mar Negro, será especialmente simbólica: com Lukashenko agora considerado um pária por grande parte da comunidade internacional, ele está cada vez mais dependente do apoio de seu aliado mais próximo para se manter no poder.

A Rússia tem sido o principal defensor de Belarus depois que Lukashenko ordenou pessoalmente às autoridades que desviassem um avião comercial da empresa irlandesa Ryanair, que passava pelo espaço aéreo de Belarus a caminho de Vilnius, na Lituânia, para o aeroporto de Minsk. Protasevich, que vivia no exílio, foi preso ao desembarcar e agora enfrenta uma sentença de 15 anos de prisão.

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante encontro em Minsk, em 2017. Foto: Pool Photo via AP

Belarus disse que havia uma suposta ameaça de bomba em voo, mas um e-mail citado pelas autoridades contendo a suposta ameaça foi enviado depois que o avião foi desviado, disse o provedor de e-mail suíço ProtonMail na quinta-feira, 27, desafiando ainda mais a versão dos acontecimentos. O Hamas, que supostamente teria enviado a ameaça, também negou qualquer envolvimento com o caso.

Mas em uma demonstração reveladora do apoio da Rússia, duas companhias aéreas europeias, Air France e Austrian Airlines, disseram que tiveram que cancelar voos para Moscou na quinta-feira, 27, porque as autoridades de aviação russas não aprovaram novas rotas de voo que evitavam o espaço aéreo de Belarus. Líderes da União Europeia proibiram,na segunda-feira, que as companhias aéreas do bloco de sobrevoassem o país.

Dmitri Trenin, diretor do Carnegie Moscow Center, escreveu no Twitter que a tolerância do Kremlin em relação a Lukashenko "fere os interesses russos".

"Quanto mais tempo dura, mais surpresas ruins gera", disse ele.

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Moscou e Minsk se aproximaram à medida que as relações de ambos os países com o Ocidente se tornaram cada vez mais adversas. Putin é um conhecido oponente da mudança de regime e prefere a estabilidade de um governante de longa data em um país que até agora serviu como um "tampão aliado" entre a Rússia e o Ocidente. Belarus separa geograficamente a Rússia da Polônia e Lituânia, Estados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

"A mensagem para Putin é que não haverá mais líder belarusso antiocidental, o que significa que devemos nos agarrar a isso", escreveu Artyom Shraibman, analista de Minsk, em um comentário. "Qualquer mudança de poder em Minsk em tal situação é um desvio em direção à reaproximação de Belarus com a Europa."

Mesmo assim, Lukashenko ocasionalmente irrita o Kremlin por resistir aos planos de implementar um plano de unificação de mais de duas décadas para os dois países e se aproximar da Europa quando vê que isso beneficia seu governo.

Quando os dois não conseguiram chegar a um acordo sobre um novo preço para o petróleo que a Rússia vende a Belarus em dezembro de 2019, Moscou cortou o fornecimento. Poucos meses depois, o país encomendou seu primeiro carregamento de petróleo dos Estados Unidos em uma tentativa de mostrar aos russos que estaria disposta a recorrer a seus rivais, se necessário.

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Mas Lukashenko não tem mais vantagem para jogar o Oriente contra o Ocidente. Grande parte da comunidade internacional considera seu regime ilegítimo depois das eleições de agosto do ano passado, amplamente denunciadas como fraudulentas, nas quais ele reivindicou uma vitória retumbante.

Como protestos antigovernamentais em massa estouraram em seguida, Lukashenko pediu ajuda a Putin. Putin também o apoiou, prometendo enviar um contingente militar para ajudar as autoridades, se necessário.

Chanceleres da União Europeia sugeriram, durante conversas informais na quinta-feira, em Lisboa, que as sanções futuras poderiam ter como alvo as exportações de produtos de petróleo e potássio de Belarus, a principal fonte de renda do governo Lukashenko. A gigante estatal Belaruskali diz que produz cerca de 20% do suprimento mundial desse sal rico em potássio usado em fertilizantes.

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Se Lukashenko não fizer concessões, "deve-se presumir que isso será apenas o começo de uma grande e longa espiral de sanções", disse o ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, a repórteres.

O Kremlin disse que isso também pode prejudicar a economia russa.

"Claramente, considerando a assistência direta e indireta que temos fornecido aos nossos parceiros belarrussos de forma permanente, é claro, certa atmosfera desfavorável em torno de Belarus está complicando as coisas", disse o porta-voz Dmitri Peskov na quinta-feira.