Como a sra. avalia o primeiro dia de implementação do plano de Annan, quando as forças sírias deveriam iniciar a retirada das cidades?
Houve claramente uma violação do acordo pelo regime e o cessar-fogo não está ocorrendo. A repressão e as mortes continuaram. Houve bombardeio de cidades, trocas de tiros em Deraa, Duma e Hama. Nada mudou. Assad está fazendo Annan e a comunidade internacional de bobos. Desde que Damasco anunciou que concordava com o acordo, no dia 2, cerca de mil pessoas morreram. Na segunda-feira, foram 168 mortos - o maior número em um só dia desde o início da revolta. A mensagem que Assad manda é a de que não vai cumprir o acordo, mas que vai intensificar a repressão.
O que vocês pedirão se o cessar-fogo não for implementado?
Teremos de voltar ao Conselho de Segurança da ONU e conseguir que os membros votem um decisão dura. Não haverá mais espaço para a mediação. Nós ainda estamos dando uma chance a Annan, mas, se quinta-feira chegar sem avanços, nenhuma opção deverá ser ignorada. Uma intervenção pode ser inevitável.
Uma intervenção militar?
Não necessariamente. Pode ser uma intervenção para criar zonas de proteção aos civis e o estabelecimento de um embargo de armas. Queremos acesso humanitário e o estabelecimento de zonas-tampão.
Isso depende de uma
mudança de posição da China e da Rússia?
Eles estão pressionando o regime para que implemente um cessar-fogo e está claro que estão preocupados. Isso mostra que há um consenso internacional cada vez maior. China e Rússia querem a paz. Mas, para que isso ocorra, precisamos ver o fim das mortes e a libertação de prisioneiros políticos. Se não houver uma maneira de superar isso, China e Rússia precisam reconhecer que o regime não quer criar as condições para o diálogo. Nada foi obtido em um ano de esforços de cooperação. Uma resolução forte será necessária e esperamos que, desta vez, esses dois países nos ajudem. Milhares de pessoas morreram enquanto esperamos um entendimento internacional.
Como a sra. avalia a posição do governo brasileiro?
É uma posição irracional. Entendo quando nos dizem que não querem que o cenário líbio se repita. No entanto, quanto mais o povo sírio terá de sofrer para ver uma solução? Meu objetivo é o de promover em breve uma reunião dos Brics para convencê-los a reavaliar suas posições.