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Com quase 90% da população na pobreza, Maduro quer vender ouro para venezuelanos

Governo diz que qualquer cidadão poderá comprar lâminas do metal precioso, mas a menor disponível, de 1,5 grama, custará o equivalente a R$ 253, mais do que o dobro do salário mínimo no país, que subirá em setembro para cerca de R$ 121

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Por Redação
Atualização:

CARACAS - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou no domingo um plano nacional de poupança para que os cidadãos do país possam comprar lâminas de ouro e criar poupanças com este ativo, que não perde seu valor com a variação da moeda do país - arrasado pelos efeitos de uma grave crise econômica e social.

"Chegou a hora do plano de poupança em ouro. Vamos poupar em ouro", anunciou Maduro durante uma reunião com outros membros do governo e de seu partido. O presidente socialista explicou que esse mecanismo será de "livre acesso" para qualquer venezuelano.

Maduro mostra um cartão com a pequena lâmina de ouro que ele quer vender para a população Foto: EFE/Zurimar Campos/Cortesía prensa Miraflores

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A oferta de ouro para a população é parte de um programa de medidas econômicas com as quais Maduro tenta melhorar as receitas públicas e tirar a nação rica em petróleo de uma longa recessão e da hiperinflação, aproveitando as reservas do país.

De acordo com o presidente venezuelano, o Estado venderá lingotes de 1,5 grama por 3.780 bolívares (equivalente a R$ 253) e de 2,5 gramas por 6.300 bolívares (R$ 427).

Maduro também lembrou que devido ao aumento salarial que ele decretou neste mês e que elevará o mínimo em 35 vezes - a partir de setembro será de cerca de US$ 30 (R$ 121) por mês - os lucros no final de ano serão "substanciais". "Mas não quero que gastem tudo. O que quero é um plano de poupança, seguro, estável", completou.

Em razão do controle de câmbio rígido que o governo exerceu de 2003 até este mês, quando flexibilizou as leis sobre esta questão, os venezuelanos tinham poucas alternativas de investimento para se proteger da desvalorização da moeda venezuelana.

"Já estou preparado, tenho milhares de peças para que o povo venezuelano poupe em ouro", garantiu o chefe de Estado, ao dizer que se trata de uma iniciativa "séria e sólida" cujos detalhes serão divulgados nos próximos dias.

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O presidente informou que os lingotes de ouro são provenientes da região de Guayana, a maior do país e fronteira com a Guiana, onde estão as maiores reservas do metal precioso no país. Segundo o governo, o BCV tem feito compras regulares de pequenos mineradores da região.

Outro plano dourado

O Executivo venezuelano já havia anunciado em 26 de abril que passaria a vender lâminas de ouro por meio do Banco Central. Na ocasião, Maduro explicou que as lâminas estariam "seladas e classificadas" e seriam expedidas com uma etiqueta que, entre outros detalhes, teria a assinatura de Simón Bolívar.

Naquele momento, o presidente disse que o preço variaria de acordo com o peso da lâmina, que iria de 10 gramas a 1 quilo. Até agora, no entanto, não foram divulgados detalhes sobre essa opção ou se ela foi, de fato, colocada em prática. 

População pobre

Estudo divulgado no começo deste ano pelas principais universidades da Venezuelana indicou que a pobreza subiu para 87% na Venezuela em 2017 (6,2 pontos a mais em relação a 2016), impulsionada pela hiperinflação.

“O indicador de pobreza mostra que é tão generalizada a disparidade entre o aumento dos preços e os salários no país que praticamente não há venezuelanos que não sejam pobres”, afirmou María Ponce, que participou da elaboração do estudo. 

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A Pesquisa Nacional de Condições de Vida calculou a taxa de pobreza na Venezuela levando em conta as condições de moradia, serviços, educação, trabalho e proteção social dos 6.188 lares consultados. / EFE e REUTERS

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