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Com violência, oposição na Nicarágua cresce e Ortega se isola 

Mortes no fim de semana agravam situação na Nicarágua; comunidade internacional condena repressão 

Atualização:

MANÁGUA  - Milhares de nicaraguenses tomaram as ruas de Manágua nesta segunda-feira, 16, para exigir justiça para as vítimas de uma violenta repressão durante protestos contra o presidente Daniel Ortega no fim de semana. As manifestações, que deixaram 12 mortos, ocorreram quando forças do governo atacaram opositores em Monimbo e na cidade vizinha de Masaya. 

Manifestantes carregaram os corpos das vítimas da violência pelas ruas de Manágua Foto: EFE/Jorge Torres

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A violência que tem assolado o país há três meses ganhou força nos últimos três dias quando grupos armados e policiais leais ao presidente também cercaram universidades ocupadas por manifestantes que desafiam o governo. 

+ The Economist: A violência de Daniel Ortega na Nicarágua

Os ataques atraíram condenação internacional, isolaram o governo nicaraguense e acentuaram a oposição local a Ortega, ex-líder de uma guerrilha marxista que enfrenta hoje seu maior teste desde que retornou ao poder, em 2007.

Quase 300 pessoas morreram desde o início dos protestos, em 18 de abril, quando Ortega tentou fazer uma reforma do sistema de aposentadorias. O governo, mais tarde, desistiu do plano, mas sua resposta pesada às manifestações acabaram por transformá-las em um grande ato contra os 11 anos de seu governo.

Diálogo

Ortega diz estar aberto ao diálogo e convidou a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH) para visitar o país e verificar que seu governo não está cometendo abuso dos direitos humanos, como alegam algumas organizações. 

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Além dos protestos convocados por estudantes hoje, parentes de vítimas da violência caminharam pelas ruas principais de Manágua carregando caixões e pedindo justiça. 

“A população não desistiu porque ainda há uma demanda nas ruas por liberdade”, disse Carlos Tünnermann, membro do Aliança Cívica por Justiça e Democracia, um dos principais grupos opositores a Ortega. A oposição pede a renúncia do presidente e eleições antecipadas para encerrar a turbulência. 

Ortega, de 72 anos, que está em seu terceiro mandato consecutivo, que se encerrará em 2021, vem aos poucos acirrando seu controle sobre as instituições da Nicarágua. Ao seu lado, tem o apoio de sua mulher, Rosario Murillo, também sua vice-presidente. 

A primeira-dama declarou hoje que o governo atua para “libertar o território” dos bloqueios de estradas e “restaurar a paz”. Ela afirmou que os protestos respondem a “um plano terrorista e golpista acompanhado por uma infame e falsa campanha midiática nacional e internacional”, disse. “Esse golpe quis impor uma minoria cheia de ódio, uma minoria sinistra, maligna, mas que não conseguiu nem conseguirá.”

Repercussão

A crise da Nicarágua será discutida em fóruns internacionais, como a reunião de chanceleres da União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), que teve início hoje em Bruxelas.

A França condenou os ataques executados nos últimos dias pelas forças da polícia e paramilitares contra os manifestantes, que incluem religiosos, e pediu a retomada do diálogo com a oposição.

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O embaixador americano na Organização dos Estados Americanos (OEA), Carlos Trujillo, por sua vez, adiantou que a questão da Nicarágua voltaria esta semana à agenda do fórum continental. “A violenta repressão do governo com o uso de turbas sandinistas é inaceitável. Os Estados Unidos ficarão responsáveis pelos violadores de direitos humanos”, comentou Trujillo no Twitter.

Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado, exigiu  o fim da violência e eleições antecipadas. “Eleições antecipadas, livres e justas, são o melhor caminho para a democracia ed o respeito aos direitos humanos na Nicarágua.” / REUTERS, EFE e AFP

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