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Começa conflito entre Etiópia e tribunais islâmicos

Depois de várias semanas de ameaças recíprocas, aviões bombardearam a Somália

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de várias semanas de ameaças recíprocas, aviões de combate etíopes bombardearam neste domingo posições dos tribunais islâmicos na vizinha Somália, em um ataque que, segundo a força somali, mostra a existência de uma "guerra aberta". "A luta começou", afirmou Mohamoud Ibrahim Suley, representante do Conselho das Tribunais Islâmicos da Somália, em declarações aos jornalistas. "O inimigo lançou uma guerra aberta contra a Somália - acrescentou - e começou a bombardear cidades e pessoas inocentes". Enquanto as declarações do líder islâmico eram divulgadas, o Governo da Etiópia, em Adis-Abeba, confirmava pela primeira vez que seus efetivos estavam combatendo em quatro pontos dentro da Somália. "Nossas forças de defesa tiveram que entrar em guerra para nos defender dos ataques das forças extremistas e antietíopes e proteger nossa soberania", afirmou o primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi. "Nossas forças sairão da Somália assim que terminarem sua missão", acrescentou Zenawi em mensagem pela televisão. Analistas regionais estimam que a Etiópia tem mais de 10 mil soldados dentro da Somália, apoiando o Governo de transição somali. Os tribunais islâmicos, por sua vez, receberam armamento da Eritréia, que também enviou cerca de 2 mil efetivos. Em junho passado, os milicianos islâmicos da Somália ocuparam a capital Mogadíscio e começaram a invadir o centro e o sul somali, que está sem uma autoridade central desde que o ditador Mohammed Siad Barre foi derrubado, em 1991. A Etiópia teme que o conflito somali atravesse suas fronteiras e chegue às regiões do leste do país, de maioria muçulmana e onde há movimentos separatistas. Cerca de 80 pessoas morreram e outras 300 ficaram feridas nos combates de hoje, tanto nos bombardeios aéreos como em outras operações, segundo fontes islâmicas. Um oficial dos tribunais islâmicos que pediu para não ser identificado disse que 50 milicianos morreram nos conflitos. "Temos certeza que derrotamos o inimigo, mas perdemos mais de 50 mártires na luta", acrescentou a fonte. Os ataques aéreos se concentraram na cidade de Baladweyne, cerca de 350 quilômetros ao norte de Mogadíscio. Habitantes dessa cidade disseram que viram dois aviões de combate etíopes atacar as principais vias de acesso à cidade, o aeroporto e a sede de um centro de recrutamento dos tribunais islâmicos. Até agora, a Etiópia reconhecia que tinha centenas de militares etíopes em trabalhos de ajuda e treinamento das forças de segurança do Governo de transição. As autoridades somalis voltaram a negar hoje a vinculação da Etiópia nestes combates, apesar da confirmação de Adis-Abeba. "As denúncias de que as forças etíopes bombardearam cidades somalis não têm base. Nossas forças não dispõem de aviões de combate, e não há etíopes participando da luta", disse, em comunicado, o porta-voz oficial Abdulrahman Dinari. Enquanto isso, de Adis-Abeba, o Ministério da Defesa etíope informava oficialmente sobre "medidas ofensivas" em quatro povoados somalis: Burhakaba, Baladweyne, Bandiradley e Disnor, para tentar frear o que qualificou como uma tentativa de infiltração de "fundamentalistas somalis". A área onde acontecem os combates se estende por 700 quilômetros em linha reta, ao longo da fronteira com a Etiópia, em três regiões diferentes do sul da Somália, de Badiradley até Idale. Esta última, situada a 65 quilômetros ao sul de Baidoa, é onde o Governo de transição está isolado. A ofensiva aérea aconteceu horas depois de o chefe de segurança dos tribunais islâmicos, Youssef Mohammed Siyad, fazer uma chamada à "guerra santa" internacional contra a Etiópia. Em Baidoa, o Governo ordenou imediatamente o corte de todas as comunicações, que continuaram operando ainda por um breve período. Segundo moradores da cidade, muitos habitantes começaram a abandonar o povoado para dirigir-se às regiões de Bakol e Gedo, perto da fronteira com a Etiópia. Enquanto isso, em Mogadíscio, a maioria das lojas estava fechada e nas ruas havia manifestações esporádicas com pessoas que gritavam palavras de ordem contra a Etiópia. As lojas e pequenos comércios de etíopes foram apedrejados, havia pneus queimados nas ruas e os maiores de 15 anos eram chamados a juntar urgentemente às fileiras dos milicianos islâmicos.

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