ARGEL - O julgamento do ex-presidente tunisiano Zine El Abidine Ben Ali e de sua esposa, Leila Trabelsi, começou nesta segunda-feira, 20, no tribunal de primeira instância da Tunísia, em um ambiente tenso e com grande presença do público dentro e fora da sala.
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Ben Ali e sua mulher, foragidos da justiça desde 14 de janeiro, quando deixaram o país e refugiaram-se na Arábia Saudita, não estarão no julgamento.
Acusado de homicídio, abuso de poder, complô contra a segurança do Estado, desvio de recursos e inclusive lavagem de dinheiro, entre outras acusações, Ben Ali pode pegar, se condenado, de cinco anos de prisão à pena de morte.
As autoridades transitórias da Tunísia se mobilizaram desde sua fuga do país para tentar detê-lo e extraditá-lo.
Além da jurisdição civil, Ben Ali deve ser processado diante de um tribunal militar por 35 dos 93 delitos dos quais é acusado, como anunciou há poucos dias o chefe do Governo provisório tunisiano, Beji Kaid Essebsi.
Ben Ali negou todas as acusações, segundo um comunicado divulgado por um de seus advogados na véspera em Beirute.
O presidente deposto afirma que nunca teve as quantias de dinheiro encontradas em sua residência, que as armas localizadas são fuzis de caça presentes de chefes de Estado e jamais usou ou possuiu entorpecentes.
No sábado, o secretário-geral da Ordem dos Advogados da Tunísia, Mohammed Rached Fray, havia anunciado sua rejeição categórica a defender a Ben Ali.
Fray foi designado para representar o ex-presidente, mas negou-se e disse que cinco de seus colegas vão garantir a defesa do acusado.
Ele será o encarregado unicamente da organização, cabe a ele "garantir o bom desenvolvimento do processo e respeito aos direitos da defesa", acrescentou.
Os protestos que levaram à queda de Ben Ali começaram em dezembro, depois que o jovem Mohamed Bouazizi ateasse fogo ao próprio corpo na localidade de Sidi Bouzid para protestar contra os maus-tratos das autoridades locais e da Polícia.
O episódio deu início aos protestos contra o Governo que se estenderam como pólvora até a queda do regime de Ben Ali e sua fuga à Arábia Saudita.
A revolta, batizada de "a revolução do jasmim", acabou com a morte de ao menos 300 pessoas e serviu de exemplo aos protestos similares em outros países africanos e do Oriente Médio conhecidos como "a primavera árabe".