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Começa o congresso do Partido Comunista Chinês

Por Agencia Estado
Atualização:

Prestes a se aposentar, Jiang Zemin buscou hoje consolidar seu legado como chefe do Partido Comunista Chinês (PCC) com a apresentação de sua visão para a China de amanhã: uma terra mais segura, menos corrupta, mais rica e capaz de oferecer a seu povo uma vida mais confortável, num sistema misto, de socialismo motivado pelo lucro. O longamente esperado 16º Congresso do Partido Comunista teve início hoje em meio a estrita segurança. Os 2.114 delegados reuniram-se no Grande Salão do Povo sob uma enorme foice e martelo para escolher uma nova geração de líderes - e enfrentarem a desafiadora questão do que significa o comunismo num mercado global em rápida aceleração. Jiang, o presidente da China e secretário-geral do partido pelo menos por mais alguns dias, reafirmou a questão que marca seu legado: a noção de que o partido tem de se manter relevante, e no poder, através das profundas mudanças que desencadeou. "Nosso partido tem de se manter firme na linha de frente dos tempos", disse Jiang durante seu discurso de 90 minutos, visando tanto inspirar os delegados do partido como assegurar seu lugar ao lado de Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping nos livros de história da China - algo que cultivou cuidadosamente por anos. "Temos de seguir em frente, ou ficaremos para trás", advertiu Jiang, cuja noção de mudança é nova para o partido de trabalhadores - ele convidou empresários capitalistas para entrar no PCC. O congresso deve tratar também desse assunto nos próximos dias. É amplamente esperado que Jiang, 76 anos, seja sucedido como chefe do Partido Comunista por Hu Jintao, 59 anos, que também deve substituir Jiang como presidente, no ano que vem. Jiang entrou no congresso acompanhado por uma coluna de líderes. O quarto atrás dele, numa ordem comum na política chinesa, era Hu. O congresso, realizado a cada cinco anos, foi aberto precisamente às 9 da manhã (local) numa era particularmente desafiadora para a China - de mudanças estonteantes e a busca por um sistema político que estimule o suficiente o crescimento econômico para permitir o aumento do padrão de vida, e mantenha a estabilidade. A segurança nas ruas do centro de Pequim era reforçada, com agentes posicionados a cada seis metros - incluindo policiais fardados e oficiais a paisana de pelo menos meia dúzia de diferentes agências de segurança. Bandeiras vermelhas esvoaçavam sobre prédios na avenida Changan, a ampla avenida que cruza a Praça Tiananmen. O Grande Salão estava efervescente. Delegados chegavam em caravanas de ônibus, incluindo oficiais militares fardados. Delegados de minorias étnicas, entre eles do Tibete e Mongólia, usavam suas vestimentas tradicionais. Jiang disse que a China tentará quadruplicar seu Produto Interno Bruto entre 2000 e 2020 e aumentar "significativamente" sua competitividade internacional. Sob Deng e Jiang, a China tem perseguido o que chama de "economia socialista de mercado", a fim de se modernizar e se desenvolver. O aumento da urbanização irá ajudar a alimentar o crescimento, destacou Jiang. Ele identificou diversas áreas de particular preocupação na economia, como o aumento da renda rural e a diminuição do desemprego. Mas, em seu discurso, ele falou apenas de passagem sobre a reforma política, uma questão-chave nas suas relações com a comunidade internacional, e disse que o atual sistema deve ser fortalecido, e não profundamente modificado. O discurso de Jiang, como era de se prever, foi recebido com entusiasmo. "Foi... quase um novo manifesto do Partido Comunista da China", saudou Liu Xuepu, um delegado de Chongqing. "Ele nos dá uma grande esperança no momento em que enfrentamos os desafios". Mas, enquanto se tratava do futuro, os fantasmas do passado da China estavam bem presentes. "Vamos homenagear os revolucionários mortos, como Mao Tsé-tung", pediu Li Peng, líder do Legislativo chinês. E então, o hino nacional da China ecoou no salão. Apesar do evidente luxo, prevalecia um ambiente de segredos. A mídia estatal tem dado um tom de despedida em seus comentários sobre Jiang e sua geração, mas ainda não se falou em sucessão. Jiang foi escolhido líder do partido em 1989 pelo então líder supremo Deng, que lançara as reformas econômicas no país uma década antes - depois da morte, em 1976, de Mao, o fundador da China comunista. Jiang busca manter no poder um partido que ainda se proclama "vanguarda da classe trabalhadora". Suas reformas fizeram algumas pessoas ricas, mas muitos enfrentam dificuldades, enquanto as indústrias estatais cortam empregos, numa tentativa de se manterem competitivas. Apesar da estrita segurança em torno do congresso, pequenos bolsões de dissidência emergiram. Em pelo menos três ocasiões hoje, pessoas tentaram jogar panfletos na frente do Grande Salão. Policiais recolheram os papéis antes que os cidadãos comuns pudessem vê-los, e em dois casos detiveram várias pessoas.

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