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Comentários de Trump sobre QAnon agrada defensores: 'Maior discurso que eu já vi'

A recusa do presidente em repudiar a teoria da conspiração animou os membros da comunidade de extrema direita, que considerou as falas como um endosso ao movimento.

Por Craig Timberg
Atualização:

A recusa do presidente Trump em repudiar a teoria da conspiração infundada QAnon no evento transmitido pela televisão nacionalmente na noite de quinta-feira 15 animou os membros da comunidade de extrema direita, que considerou seus comentários como um endosso ao movimento.

“Este foi o maior discurso para o QAnon que eu já vi”, disse um membro anônimo da comunidade, no site de mídia social 4chan, após a aparição de Trump no evento do horário nobre da NBC.

O presidente americano Donald Trump participa de evento transmitido pela NBC em Miami Foto: Evan Vucci/AP

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Mas a resposta de Trump a uma pergunta da moderadora da NBC, Savannah Guthrie, ofereceu uma chance de validação da figura central da cosmologia QAnon, que retrata o presidente como um salvador travando uma guerra secreta contra uma conspiração de pedófilos satânicos, supostamente incluindo democratas proeminentes e celebridades de Hollywood.

Quando Guthrie pediu ao presidente que rejeitasse a teoria da conspiração como “completamente falsa”, Trump respondeu: “Não sei nada sobre isso. Eu sei que eles são totalmente contra a pedofilia. Eles lutam muito, mas eu não sei nada sobre isso.” Um apoiador do QAnon em 8kun, site similar ao 4chan, aprovou: “Achei que ele tinha a resposta perfeita.”

Outros usuários de 8kun disseram sobre a resposta de Trump: "magistralmente feita por POTUS" - usando a sigla para Presidente dos Estados Unidos.

Os comentários de Trump - e a reação causada por eles - ecoaram seu apelo aos Proud Boys, outro grupo de extrema direita, para "recuar e aguardar" no debate presidencial do mês passado.

A linha, da qual Trump mais tarde procurou se distanciar, gerou celebrações nas redes sociais de apoiadores do grupo de homens que frequentemente se envolve em violência nas ruas.

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QAnon, nascido em outubro de 2017, cresceu drasticamente nos últimos meses, impulsionado por conspirações relacionadas a vacinas e a pandemia de coronavírus, bem como chamando a atenção para a reeleição de Trump. 

A eleição tem se tornado cada vez mais o ponto focal do movimento, que viu sua popularidade disparar no aplicativo de mensagens criptografadas Telegram e no Facebook, de acordo com uma pesquisa do SITE Intelligence Group, que monitora o extremismo.

“Está além das palavras o quanto Donald Trump elevou a ameaça doméstica que é a QAnon”, disse Rita Katz, diretora executiva do SITE. “Nunca estive mais preocupada com a democracia nos EUA do que agora, e é perturbador o quanto desse medo vem do próprio presidente.”

Embora o Facebook tenha anunciado restrições ao QAnon em agosto, a pesquisa do SITE documentou um forte crescimento tanto no número de grupos dedicados à teoria da conspiração no Facebook quanto no número de membros desses grupos.

O Facebook endureceu suas restrições em 6 de outubro, impondo uma proibição quase total que deve tornar muito mais difícil para o QAnon se organizar e recrutar no site.

A resposta de QAnon aos comentários de Trump também pode ser encontrada no Instagram, a subsidiária de compartilhamento de fotos do Facebook, após o evento da NBC. 

Um meme amplamente divulgado, acompanhado por hashtags afiliadas à teoria da conspiração, mostrou uma imagem de Guthrie alterada para parecer demoníaca, com olhos vermelhos, com a frase "bruxa satânica praticante".

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A Coalition for a Safer Web, um grupo sem fins lucrativos que defende tecnologias e políticas para remover conteúdo extremista da mídia social, descobriu que e outras postagens de mídia social da QAnon celebrando os comentários de Trump. "Eles adoram”, disse o presidente da coalizão, o ex-embaixador dos EUA no Marrocos Marc Ginsberg. “Está ricocheteando em todo o lugar.”

Grande parte da celebração dos comentários de Trump pela QAnon foi nos canais do Telegram com sede na Alemanha, um dos vários países onde a teoria da conspiração, nascida nos Estados Unidos, tem cada vez mais se enraizado.

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