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Comissão do Vaticano deve abolir idéia do "Limbo"

Conceito teológico seria o lugar para o qual iriam as crianças mortas antes do batismo

Por Agencia Estado
Atualização:

O papa Bento XVI recebeu nesta quinta-feira os membros da Comissão Teológica Internacional, que se reuniram esta semana no Vaticano para discutir se a Igreja deve abolir o Limbo - o lugar para onde, conforme uma crença antiga, seriam enviadas as crianças que morrem sem o batismo. A expectativa é de que a conclusão dos teólogos - 29 especialistas, entre os quais o padre brasileiro Geraldo Luiz Borges Hackman - seja favorável a riscar o Limbo das páginas do catecismo. A televisão estatal italiana informou que o documento estará pronto no próximo ano. A palavra final será do papa, diretamente ou por meio da Congregação para a Doutrina da Fé. O conceito de Limbo - palavra derivada do latim limbus, que significa franja ou borda de uma veste - foi um arranjo dos teólogos em busca de um destino para as crianças que morrem pagãs. Sem o sacramento do batismo, que as tornaria cristãs e participantes da graça divina, elas não poderiam entrar no Céu, porque estão marcadas pelo pecado original, mas também não mereceriam ser condenadas ao Inferno, porque não cometeram nenhuma falta grave ou pecado mortal. A solução foi a concepção de um lugar neutro, onde não sofreriam nenhum castigo, exceto a privação da visão de Deus. Nesse lugar, o Limbo, as crianças teriam um bem-estar eterno, sem nenhum tormento físico. A Igreja debate essa questão há mais de 20 anos, desde quando João Paulo II pediu um parecer a especialistas que vinham se reunindo sob a coordenação da Congregação para a Doutrina da Fé, chefiada pelo cardeal Joseph Ratzinger, agora Bento XVI. Os teólogos dão sua opinião, o papa toma a decisão. Existe hoje o consenso de que, muito mais do que um lugar, Céu e Inferno são uma situação definida pela visão beatífica ou pela falta dela. Céu é sinônimo do contato direto com Deus e Inferno é o tormento pela privação eterna desse contato. A catequese utiliza imagens para descrever essa situação, apresentando os eleitos sorrindo entre nuvens e luzes no Paraíso e os condenados gemendo nas chamas do Inferno. Os mesmos recursos são usados para mostrar o Purgatório, local provisório de provação, destinado àqueles que não podem ir direto ao Céu porque cometeram faltas leves, mas não são mandados para o Inferno porque não têm pecados mortais. O Catecismo da Igreja Católica, aprovado em 1992 por João Paulo II, não registra a palavra Limbo. Limita-se a declarar que "quanto às crianças mortas sem batismo, a Igreja só pode confiá-las à misericórdia de Deus". É a reafirmação da posição de teólogos que há muito rejeitam o Limbo. "Esta teoria dificilmente pode ser conciliada com o dogma da vontade universal de Deus em favor da salvação, manifestada pela verdade de que Cristo morreu por todos", escreveu o alemão Bernhard Haering. Segundo o secretário-geral da Comissão Internacional de Teologia do Vaticano, Luis Laderia, ainda não havia chegado o momento de escrever um documento sobre a questão. João Paulo II teria resistido à idéia do Limbo por razões pessoais. Como ele perdeu uma irmã ainda bebê que não chegou a ser batizada, não conseguia imaginar que ela pudesse ficar para sempre nesse lugar, sem jamais ver a Deus.

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