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Comitê aceita pedido de asilo de opositor boliviano

Roger Pinto Molina fugiu de embaixada brasileira em 2013 e acusa Evo Morales de perseguição, intolerância e manipulação da Justiça

Foto do author Leonencio Nossa
Por Leonencio Nossa e BRASÍLIA
Atualização:

O Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão do Ministério da Justiça, aceitou o pedido de asilo do ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, de 55 anos, opositor do governo Evo Morales que vive há dois anos no Brasil, depois de passar 15 meses na embaixada brasileira em La Paz. Na última semana, autoridades do país vizinho divulgaram uma carta para cobrar a extradição de Molina. “A concessão do refúgio é uma resposta orgânica do governo brasileiro às ações de Evo Morales”, avaliou o político.

Em 2012, o ex-senador entrou na representação diplomática brasileira para escapar da prisão por supostos crimes contra o Estado. Após viver asilado durante 15 meses num pequeno quarto da representação, conseguiu apoio do diplomata brasileiro Eduardo Saboia para deixar, sem consentimento de autoridades bolivianas, o país, em uma viagem de carro de 22 horas, escoltado por fuzileiros da embaixada, até Corumbá, no Mato Grosso do Sul. 

O ex- senador de oposição na Bolivia, Roger Pinto Molina, acena parajornalistas em Brasília Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADAO

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Desde que passou a morar em Brasília com apoio de parlamentares de diferentes partidos, Molina tem acusado o governo Evo de perseguição, intolerância contra outros opositores e manipulação da Justiça contra os adversários. Também acusou o governo do estado de Pando, aliado de Morales, de manter relações com cartéis de cocaína. O governo da Bolívia, por sua vez, acusa o ex-parlamentar de praticar crimes de corrupção. “Eles chegaram a me condenar pelo corte de duas árvores, praticado por outras pessoas, em uma propriedade que eu tinha”, afirma. “Nunca conseguiram sustentar as acusações ao longo do processo do Conare.” 

A história de Molina deixou a esfera política para atingir uma questão de direitos humanos. A defesa de Eduardo Saboia, que organizou a retirada do ex-senador de La Paz, rebateu a crítica de que o diplomata não comunicou a seus superiores sobre a operação e argumentou que os governos demoraram a encontrar uma solução para o caso. Molina teria cogitado suicídio.

Na semana passada, Molina comemorou outra decisão do Brasil. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) lhe concedeu autorização para pilotar helicópteros. Formado em direito, ele pretende trabalhar no serviço de transporte aéreo, atividade que tinha como hobby na Bolívia. Atualmente, Molina vive em Brasília com a mulher Blanca Inez, 55, a filha Priscila Pinto, 32, e os netos Priscila Gusmán, 13, e Roger Miguel, seis. Outros dois filhos do ex-senador ainda esperam a concessão do asilo.

Molina relata que a decisão do governo brasileiro acaba com a sensação de incerteza e receio de ter que deixar às pressas o País, enfrentada nos dias em que mora em Brasília. “Agora, vou pensar em reconstruir a minha vida e a vida da minha família”, ressalta. “Não é fácil para quem tem mais de cinquenta anos abandonar seu país e recomeçar.”

O ex-senador diz que os encontros com autoridades do Ministério da Justiça nestes últimos meses mostrou uma insatisfação em relação a Evo Morales, especialmente na retirada de brasileiros de sítios e fazendas do território boliviano e na área de combate ao narcotráfico. A operação de La Paz custou ao Eduardo Saboia uma suspensão de 20 dias, em um processo no qual foi ameaçado de ser expulso do serviço público. O episódio culminou na demissão do então ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que enfrentava insatisfação do Planalto com relação ao seu trabalho na pasta.

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Molina e Eduardo Saboia mantêm relação de amizade. O boliviano contou que, no final do ano passado, andava de bicicleta pelas margens do Lago Paranoá, em Brasília, quando viu um jovem cair na água e pedir socorro. Outros dois colegas do rapaz ficaram sem reação. Molina, então, se jogou no lago. Fora da água, o jovem teria abraçado o político para agradecer. “Foi quando lembrei que não tive essa mesma atitude quando o Saboia, na época, salvou a minha vida.”

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