O desenrolar da crise na Catalunha, principalmente com a intervenção de Madri depois da declaração unilateral da independência, pode desencorajar outros grupos separatistas na Europa que pretendiam tomar atitudes semelhantes, dizem analistas.
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Desde que declarou a independência, na sexta-feira 27, a região espanhola foi condenada pela comunidade internacional e sofreu a intervenção de Madri. No mesmo dia, o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, destituiu o Parlamento da Catalunha e convocou eleições regionais para 21 de dezembro.
Marcos Tourinho, professor de Relações Internacionais da FGV, diz que é comum ondas nacionalistas surgirem em bloco e seria esperado que, se bem-sucedida, a independência catalã resultasse em repercussões em outros países. Diversas nações da Europa como Escócia, Itália, Bélgica, Espanha e Ucrânia lidam com movimentos separatistas. Segundo ele, no direito internacional não importa a declaração, e sim o reconhecimento da independência por outros países, o que não ocorreu na Catalunha. "Criar um novo Estado é um processo longo e complexo. E a Espanha tem poder político muito mais forte que os catalães", diz.
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De Leon Petta Gomes da Costa, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, concorda que as consequências das ações dos catalães podem ter reflexos em outros movimentos separatistas europeus. Mas diz que elas vão depender dos resultados obtidos. "Ainda é cedo para dizer. Como aparentemente não deu certo, isso pode ser um banho de água fria".
Costa acredita que um conflito armado na Catalunha é pouco provável a curto e médio prazo, principalmente pela falta de apoio da comunidade internacional com a condenação de diversos governos às medidas catalãs.
Segundo o pesquisador, os independentistas perceberam que, com a saída da União Europeia, teriam muito a perder. "Muitos querem a livre circulação de pessoas e de mercadorias. Eles achavam que conseguiriam abandonar a Espanha e continuar na UE, mas isso não vai acontecer".
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Europa
Para Costa, o avanço do nacionalismo na Europa está ligado a uma reação geopolítica em função de conflitos armados do Oriente Médio e da ascensão econômica da Ásia. Ele avalia que a Europa está tentando redescobrir o seu papel na nova ordem mundial.
"Nos anos 1990 e 2000, o continente ficou em um mar de utopia, achando que o mundo estava seguro, tranquilo, e que a visão deles seria adotada", diz. "Agora, viram que essa utopia não se concretizou e procuram respostas", explica o professor.