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Como a crise entre Trump, Biden e Ucrânia fez democratas apostarem no impeachment

Denúncia envolvendo a Ucrânia é mais fácil de ser vendida pelos democratas ao público cético

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - A presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, democrata pela Califórnia, decidiu apoiar a abertura de investigações para o impeachment do presidente Donald Trump depois de meses de resistência. 

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Uma denúncia anônima de um agente de inteligência envolvendo Trump e a Ucrânia parece ser o fator que precipitou a decisão dos democratas céticos quanto à eficácia do impeachment na Câmara – mas por quê?

Rússia e ofensas a deputadas

No primeiro semestre, uma investigação de quase dois anos constatou que Trump saudou a ajuda da Rússia nas eleições de 2016 e pode ter atuado na obstrução da justiça depois que assumiu o cargo. 

Em julho,Trump usou linguagem racista para atacar quatro mulheres, congressistas democratas. Pelosi e outros poderosos democratas da Câmara se opuseram ao impeachment apesar de tudo isso. Até agora.

É possível que a decisão de Pelosi tenha sido forçada pelos fatos.  Trump diz que não fez nada de impróprio, mas os republicanos do Senado enfrentam dificuldades para defendê-lo.

Talvez os líderes democratas da Câmara sentissem que não tinham escolha a não ser apoiar o processo de impeachment que já está sendo encaminhado no Comitê Judiciário. 

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Donald Trump discursa na ONU Foto: Stephanie Keith/Getty Images/AFP

Convencimento dos mais céticos

Também é possível que Pelosi finalmente tenha encontrado algo com o qual ela possa convencer um público cético quanto ao impeachment.

As acusações a Trump têm muitas camadas, mas são mais fáceis de se compreender do que o descoberto pelo conselheiro especial Robert Mueller sobre a Rússia.

Não havia um definitivo “sim, Trump violou a lei ao fazer x, y e z”, nas 448 páginas do relatório Mueller. Em vez disso, ele pintou a imagem detalhada de um presidente que pode ter obstruído a justiça no sentido legal e cuja campanha deu as boas-vindas à ajuda da Rússia, mas não alcançou a definição legal de conluio com um poder estrangeiro. Há muitas nuances no relatório Mueller que não cabem em um adesivo de para-choque.

Em contraste, as alegações da Ucrânia podem ser resumidas em uma frase.  “O presidente dos Estados Unidos pode ter usado sua posição para pressionar um país estrangeiro a investigar um oponente político, e ele buscou usar dólares dos contribuintes americanos como alavanca para fazê-lo”.

Investigações devem ser lentas

Ainda não se sabe o que há na denúncia original do informante. Mas a essência geral é que Trump = corrupção. Se Pelosi precisava de uma ação de Trump para aprimorar a frase, talvez seja esta.

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Outra razão pela qual as alegações da Ucrânia romperam a barragem do impeachment pode ser o fato de os investigadores do Congresso terem sentido que não tinham mais opções para responsabilizar Trump por seus atos. Ele e sua administração impediram, ignoraram e zombaram das intimações do Congresso. Será que ir à justiça para conseguir informações faria com que o Congresso parecesse ainda mais fraco?

Alguns legisladores democratas estão tão desesperados por respostas que começaram a considerar o poder há muito adormecido do desprezo inerente, ou multar funcionários que não cooperam ou até mesmo levá-los à cadeia. O impeachment, disse Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, no domingo, “pode ser a única solução equivalente ao mal que a conduta dele representa”.

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