29 de outubro de 2012 | 03h11
Até a indicação republicana de Romney, a Casa Branca o retratava em boa medida como o ex-presidente George W. Bush havia tratado o senador John Kerry em 2004 - um inautêntico e inconstante, um arrivista insensível que diria qualquer coisa para conseguir o cargo. Foi Clinton que defendeu de maneira veemente que a campanha estava errada. A melhor maneira de atacar Romney seria afirmar publicamente que ele era o "conservador radical" que alegava ser e depois pendurar essa ideologia impopular em volta do seu pescoço.
Não é difícil entender como Clinton chegou a essa conclusão, se você ganhou duas eleições nacionais posicionando-se como baluarte pragmático contra o extremismo conservador, de um lado, e excessos liberais, do outro. Seria natural explorar mais a ideologia rígida de seu oponente do que seus vacilos gerais. Desde então, a campanha de Obama martela Romney como um conservador ao extremo, enquanto em essência o desculpa por ter seguido caminhos tortuosos em questões como reforma da saúde, aborto e direitos de gays.
Até recentemente, a estratégia Obama-Clinton parecia estar trabalhando bem. Isso porque, quase inexplicavelmente, Romney continuava agindo como se ainda disputasse as primárias republicanas. No primeiro debate, porém, o desafiante deu uma guinada brusca para o centro e Obama pareceu desequilibrado, como que atônito por Romney pensar que pode seguir com uma mudança de curso tão óbvia num estágio tão avançado da disputa. O que, aparentemente, ele pode.
Obama poderia ter argumentado que essa falta de um verdadeiro norte torna Romney mais ameaçador para eleitores moderados do que se ele fosse um verdadeiro ideólogo, simplesmente porque não mostrou nenhuma inclinação para se opor às forças mais extremadas de seu próprio partido. O presidente agora tem poucos dias para convencer uma porção de independentes em Estados como Ohio e Virgínia de que Romney é de fato uma espécie de conservador raivoso e não aquele sujeito mais maleável, um tanto desajeitado, que personifica na TV. Trata-se de uma abordagem que traz prós e contras para Obama, assim como o ex-presidente cuja influência impregna sua campanha. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.