O novo governo americano está considerando enviar uma carta ao Irã com o objetivo de descongelar as relações entre os dois países. A carta representaria um rompimento decisivo com a política do governo anterior - que incluiu o Irã no chamado "eixo do mal", com Iraque e Coreia do Norte -, mas os funcionários disseram na quarta-feira que ainda está em curso um importante debate sobre como e quando se deverá convencer Teerã a sentar à mesa de conversações. Há detalhes que precisam ser decididos. Em que nível deverão ocorrer as conversações? Deverão surgir de maneira orgânica do atual grupo de negociação composto de seis países ou tomar um novo curso? Quando deverão começar e, particularmente, deverão ser adiadas até depois das eleições presidenciais iranianas, em junho, temendo-se ajudar a campanha de Mahmud Ahmadinejad à reeleição? Há, porém, um ponto em torno do qual todos concordam: é impossível fazer qualquer negócio com o atual presidente iraniano. O discurso pronunciado por Ahmadinejad na quarta-feira, exigindo a total retirada das tropas dos EUA estacionadas no exterior, é uma prova. "Aos que afirmam que querem fazer uma mudança, é esta a mudança que devem fazer: pedir desculpas à nação iraniana pelos crimes cometidos", disse Ahmadinejad. Ele se referiu especificamente à derrubada do governo iraniano em 1953, ao apoio dos EUA ao xá Reza Pahlevi e a Saddam Hussein durante a guerra Irã-Iraque, e à derrubada de um avião comercial iraniano, em 1988. Novamente ele fustigou o que considera as tentativas de bloquear o programa nuclear iraniano, que Teerã assegura ser pacífico, e impedir o desenvolvimento do Irã desde a Revolução Islâmica de 1979, evento que, com a crise dos reféns da embaixada americana, contribuiu para definir as relações bilaterais durante uma geração. E usou duras palavras com George W. Bush, dizendo que ele "foi para a lata do lixo da história com uma ficha vergonhosa repleta de traições e de mortes. Ele se foi e, se Deus quiser, irá para o inferno". Nunca ficou claro se o governo Bush tentava provocar uma mudança de regime em Teerã ou simplesmente convencer os teocratas governantes a encerrar seu programa de enriquecimento de urânio. Obama está preocupado em seguir uma estratégia diferente. Agora, a política americana pretende influir no comportamento e na percepção dos aiatolás, e não afastá-los. Obama reiterou, esta semana, a linha adotada no discurso de posse: "Estenderemos nossa mão se vocês abrirem o punho", dirigindo-se explicitamente a Teerã. A ferocidade da resposta de Ahmadinejad deixa clara uma coisa: os linha-dura de Teerã estão mais apavorados com uma nova voz moderada e carismática em Washington do que com todas as ameaças abertas feitas pelo governo Bush. *Julian Borger é colunista