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Como Trump reformulou a presidência em mais de 11 mil tuítes

Presidente integrou completamente o Twitter no próprio tecido de sua administração, remodelando a natureza da presidência e do poder presidencial

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Por Redação
Atualização:

NOVA YORK - No Salão Oval, irritado, o presidente Donald Trump encerrou uma discussão que estava tendo com seus assessores. Abriu uma gaveta, pegou seu iPhone e o jogou sobre a histórica Resolute Desk, a escrivaninha do presidente: “Você quer que eu resolva isso agora?”

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Não faltou uma ameaça de Trump naquele dia no início de 2017, lembraram os assessores. Com um tuíte, ele poderia lançar uma diretiva para o mundo, e não havia nada que eles pudessem fazer sobre isso.

Quando Trump assumiu o cargo, o Twitter era uma ferramenta política que o ajudou a ser eleito e uma arma digital que ele adorava disparar. Nos anos seguintes, ele integrou completamente o Twitter no próprio tecido de sua administração, remodelando a natureza da presidência e do poder presidencial.

Trump e seu Twitter; arma digital Foto: Josh Haner/The New York Times

Depois que a Turquia invadiu o norte da Síria, no mês passado, ele respondeu não apenas nas reuniões da Casa Branca, mas também em uma série de tuítes contraditórios. Nos últimos meses, anunciou aumento das tarifas de US$ 300 bilhões em produtos chineses, usando um tuíte para aprofundar as tensões entre os dois países.

E em março, Trump deixou de lado mais de 50 anos da política dos EUA, tuitando o reconhecimento pelo seu governo, da soberania de Israel sobre as Colinas de Golan. Ele abertamente se deleitou com a reação que provocou.

“Bum. Eu pressiono”, lembrou Trump meses depois, em uma conferência da Casa Branca, com a participação de personalidades conservadoras das mídias sociais, “e, em dois segundos, ‘Temos edições extraordinárias’”.

O perfil de Donald Trump no Twitter Foto: Reprodução

No início, os principais assessores queriam restringir o hábito do presidente de publicar no Twitter, até mesmo considerando pedir à empresa que impusesse um atraso de 15 minutos nas mensagens de Trump. Mas 11.390 tuítes presidenciais depois, muitos funcionários do governo e legisladores abraçam sua obsessão pelo Twitter, aderindo em bando ao seu chefe com sugestões na mídia social. 

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As reuniões de política são sequestradas quando Trump tem uma ideia para um tuíte, atraindo membros do gabinete e outros para exercer a fluência. E como um presidente muitas vezes em guerra com sua própria burocracia, ele usa o Twitter para romper impasses, passar por cima ou humilhar consultores recalcitrantes e antecipar-se à sua equipe.

“Ele precisa tuitar da mesma forma como nós precisamos comer”, disse Kellyanne Conway, sua conselheira da Casa Branca, em entrevista.

Em uma presidência diferente de qualquer outra, na qual Trump acorda com o Twitter, se deita com ele e se sente confortado quando tudo gira em torno dele, a pessoa que ele mais frequentemente elogiava era a si mesmo - mais de 2 mil vezes, segundo uma análise pelo  New York Times.

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O Times examinou o uso do Twitter por Trump desde que assumiu o cargo, analisando todos os seus tuítes, retuites e seguidores e entrevistando cerca de 50 atuais e ex-funcionários do governo, legisladores e executivos e funcionários do Twitter. O que surgiu é uma conta rica, com novas análises, episódios anteriormente não relatados e novos detalhes de como o presidente explora a plataforma para exercer o poder.

É frequentemente por repetição bruta. Ele foi ao Twitter 1.159 vezes para exigir ações sobre imigração e seu muro na fronteira, uma alta prioridade, e 521 vezes sobre tarifas, outro item importante de sua agenda. O Twitter é um instrumento de sua política externa: ele elogiou ditadores mais de cem vezes, enquanto reclamava quase o dobro de vezes dos aliados tradicionais dos EUA. O Twitter é o escritório pessoal de fato do governo Trump: o executivo-chefe anunciou a saída de mais de duas dezenas de autoridades, algumas demitidas por tuítes.

Mais da metade das postagens do presidente - 5.889 - foram ataques; nenhuma outra categoria chega sequer perto. Seus alvos incluem a investigação sobre a Rússia, um Federal Reserve que não se curva a seus caprichos, as administrações anteriores, cidades inteiras lideradas por democratas e adversários de atletas sem papas na língua e até diretores executivos que o desagradam.

Como nenhum outro presidente moderno, Trump admoestou publicamente as empresas para promover seus objetivos políticos e silenciar críticas, muitas vezes falando em intervenção do governo. Usando o Twitter, ele ameaçou o Saturday Night Live com uma investigação da Federal Communications Commission e acusou a Amazon, comandada por Jeff Bezos, proprietário do  Washington Post, de enganar o Serviço Postal dos EUA.

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Tanto quanto qualquer outra coisa, o Twitter é a rede de transmissão da realidade política paralela de Trump - os “fatos alternativos” que ele usou para espalhar teorias da conspiração, informações falsas e conteúdo extremista, incluindo material que energiza parte de sua base.

O uso do Twitter por Trump acelerou-se acentuadamente desde o final da investigação sobre a Rússia do investigador especial e atingiu um novo patamar quando os democratas abriram uma investigação de impeachment, como mostra a análise. Ele postou tuítes mais de 500 vezes durante as duas primeiras semanas de outubro, um ritmo que o levou a triplicar sua média mensal. (O Times analisou os tuítes de Trump até 15 de outubro. O total até o final do mês atingiu 11.887.)

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Validação de desempenho

Seus mais de 66 milhões de seguidores no Twitter se tornaram seu serviço privado de pesquisas, apresentando o que ele considera como a validação de seu desempenho no cargo. Mas menos de um quinto de seus seguidores são americanos em idade de votar, de acordo com uma análise do Times de pesquisas nacionais da Pew Research com adultos que usam o Twitter.

A assessoria de imprensa da Casa Branca se recusou a comentar este artigo e recusou uma solicitação de entrevista com o presidente. Agora, como Trump se antecipa para a dura batalha de reeleição e enfrenta uma investigação de impeachment por parte dos democratas, as apostas estão mais altas do que nunca e o Twitter é ainda mais fundamental para sua presidência.

Seus principais assessores de campanha estão abraçando a indignação que Trump agita com seus tuítes para reforçar sua marca anti-establishment e fortalecer seu vínculo com seus ferozmente leais defensores, que o levaram ao cargo. E à medida que o apoio público ao impeachment cresce, o presidente está usando a plataforma para construir uma câmara de eco defensiva.

Enquanto as pessoas ao redor de Trump reconhecem que seus tuítes podem causar danos políticos, o presidente está confiante em seu domínio da rede social.

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Na semana passada, ao anunciar que as Forças Especiais dos EUA haviam matado Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, Trump observou as proezas digitais do grupo terrorista. “Eles usam a internet melhor do que quase todo mundo”, disse ele. “Com exceção de Donald Trump.”

Política via Twitter

Com um único tuíte no outono passado (norte), Trump levou seu governo a um descontrole emocional. “Devo, no mais forte dos termos, pedir ao México que pare com esse ataque brutal”, escreveu ele em outubro de 2018, zangado com uma caravana de migrantes da América Central. “Se não for possível, chamarei as forças armadas dos EUA e FECHAREI A NOSSA FRONTEIRA DO SUL!”

Os assessores de Trump tentaram por semanas convencê-lo a não fechar a fronteira; a logística seria impossível e a perturbação econômica, extrema. O tuíte provocou uma reunião de emergência no corredor do Salão Oval, enquanto assessores se esforçavam para conter o impulso de Trump, segundo pessoas familiarizadas com o cenário frenético. Como outros neste artigo, eles falaram sob condição de anonimato, por medo de enfurecer o presidente.

Os assessores conseguiram contê-lo temporariamente, mas o tuíte cristalizou para os burocratas cautelosos exatamente o que ele queria: impedir as pessoas de entrar no país. Nos meses que se seguiram, a ameaça de Trump ajudou a iniciar um esforço dentro do governo para encontrar maneiras cada vez mais restritivas de bloquear os imigrantes. Quase seis meses depois, Kirstjen Nielsen, secretária de segurança nacional, ainda tentava impedir o fechamento da fronteira quando o presidente pôs fim à sua resistência.

“Kirstjen Nielsen”, ele tuitou, “vai deixar seu cargo”.

Isso é governar na era Trump. Para o presidente Barack Obama, um tuíte sobre uma proposta presidencial poderia marcar a conclusão de um longo processo deliberativo. Para Trump, o tuíte é frequentemente o começo de como uma política é feita.

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“De repente, há um tuíte, e tudo fica subvertido, e você havia passado a semana tentando defender outra coisa”, disse o deputado republicano Peter King. “Essa pessoa floresce no caos. O que podemos achar desconcertante ou perturbador ou o que seja, é realmente o que o mantém funcionando."

Com o tempo, Trump transformou o Twitter em um meio de comunicação presidencial tão vital quanto uma declaração do secretário de imprensa da Casa Branca ou um endereço do Salão Oval. O secretário de imprensa não realiza um briefing diário à imprensa nas câmeras - um ritual de décadas das mensagens presidenciais - desde março. Em vez disso, a atividade do Twitter de Trump impulsiona o dia.

E Trump removeu qualquer dúvida de que seus tuítes carregam o peso reservado para pronunciamentos mais formais.

No verão de 2018, seus assessores tentaram repetidamente tranquilizar parlamentares republicanos de que o presidente apoiou seu projeto de lei de imigração, apesar de suas observações sugerirem o contrário. Mas, em particular, Trump disse a vários senadores que havia apenas um certo sinal de seu apoio. “Se eu não tuitar”, disse ele, de acordo com dois ex-conselheiros seniores, “não ouça minha equipe”.

Adaptando uma plataforma

Quando Trump assumiu cargo, os assessores estavam determinados a controlar seus inquietos dedos no Twitter.

Em uma série de conversas informais no início de 2017, as principais autoridades da Casa Branca discutiram a possibilidade de um atraso de 15 minutos na conta do presidente, uma mudança técnica não muito diferente do sistema de cinco segundos usado pelas redes de televisão para recolher alimentos que ao cair no chão possam se contaminar. Mas, disse um ex-alto funcionário, eles rapidamente abandonaram a ideia depois de reconhecerem o perigo político se isso vazasse para a imprensa - ou para seu chefe.

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Várias semanas depois, um trio de conselheiros próximos apresentou a Trump outra ideia. Gary Cohn, o principal consultor econômico; Hope Hicks, diretora de comunicações estratégicas do presidente; e Rob Porter, seu secretário de equipe, argumentaram que eles deveriam ver os tuítes antes que ele os enviasse.

Trump estava cético, preocupando-se com o fato de os tuítes adiados serem irrelevantes, de acordo com um ex-funcionário da Casa Branca. Mas ele concordou em um teste de uma semana. Dentro de 72 horas, o presidente voltou a tuitar de seu clube de golfe em Bedminster, New Jersey.

A cinco mil quilômetros de distância, no Vale do Silício, conversas semelhantes se desenrolavam nos escritórios do Twitter, onde os executivos enfrentavam o mesmo dilema que o círculo interno de Trump: se, e como, impedi-lo.

Naquela época, o Twitter estava muito atrás de concorrentes maiores como o Facebook. Embora popular entre políticos e jornalistas, enfrentava dificuldades financeiras. Mas os tuítes incessantes do presidente deram mais dinheiro à empresa.

Sua conta no Twitter costumava atrair mais “impressões” - uma métrica básica da empresa - do que qualquer outra no mundo. Mas algumas de suas mensagens pareciam violar as políticas da empresa contra abusos e provocações.

Em um agora extinto quadro de mensagens interno da empresa, conhecido como Twitter Buzz, alguns funcionários de tendência esquerdista eram a favor de barrar o presidente. O comportamento de Trump surgiu em quase todas as reuniões com todos os funcionários e em muitas reuniões menores de executivos. Alguns deles haviam configurado seus telefones para alertá-los sempre que o presidente tuitava, de acordo com um ex-funcionário que falou sob a condição de sigilo.

“O que vi foi uma empresa enfrentando uma situação totalmente nova, um novo nível de escrutínio, um novo nível de causticidade”, disse Dianna Colasurdo, ex-executiva de contas da equipe de vendas de publicidade política do Twitter, “e trabalhando para adaptar suas políticas no momento para se alinhar com isso.”

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Um ponto decisivo ocorreu no outono de 2017, no auge das tensões com a Coreia do Norte, quando Trump tuitou que um país desonesto pode não estar “por aqui por muito tempo!” O ministro das Relações Exteriores do país chamou isso de declaração de guerra. No Twitter, os usuários se perguntavam se a empresa permitiria que Trump enviasse seu tuíte para um conflito nuclear.

A resposta veio no dia seguinte. Voltando à declaração on-line de Trump, o Twitter anunciou em um tuíte que levava em conta a “dignidade de notícia” ao avaliar se deveria remover uma postagem que violasse suas políticas.

Em uma entrevista, os executivos do Twitter disseram que a notoriedade havia constado das diretrizes internas de execução da empresa e que as autoridades formulavam o anúncio, que se aplicava em todo o mundo, meses antes do tuíte de Trump sobre a Coreia do Norte. Mas ex-funcionários disseram que entendiam que o anúncio era dirigido por Trump. O Twitter não queria exercer a tarefa de censurar o presidente.

Primeiro o mais importante

O hábito de Trump no Twitter é mais intenso de manhã, quando ele está na residência da Casa Branca, assistindo a Fox News, percorrendo suas menções no Twitter e transformando a plataforma de mídia social no que um assessor chamou de “arma definitiva de disseminação em massa”.

Dos tuítes de ataque identificados na análise do Times, quase metade foi enviada entre as 6h e as 10h, horas que Trump passa principalmente sem a presença de conselheiros.

No início de 2 de setembro - o início de uma semana em que ele tuitou 198 vezes -, o presidente enviou alguns tuítes benignos e depois criticou Paul Krugman como um “colunista fracassado do New York Times” que “nunca entendeu!”. Nos 44 minutos seguintes, ele disparou mais 10 tuítes.

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Ele falou mal de Richard Trumka, presidente da AFL-CIO (“Gosta do que estamos fazendo, até as câmaras serem ligadas”.) Ele ligou para James Comey, ex-diretor do FBI, e seu “grupo cada vez menor de amigos”, mentirosos e traidores. Ele criticou o Washington Post e quatro mulheres de cor no Congresso que se autodenominavam “o esquadrão”.

Da esq. para a dir., as democratas Ayanna Pressley, Ilhan Omar,Rashida Tlaib e Alexandria Ocasio-Cortez Foto: REUTERS/Erin Scott

Quase todas as manhãs daquela semana, Trump iniciava o dia com um ataque contra um crítico ou outro: o “incompetente prefeito de Londres” ou “má atriz ‘Debra The Mess Messing’” - a quem ele acusava de racista - ou a “Fake News Media”. “Ele se referiu aos meios de comunicação conservadores 45 vezes, repreendeu a grande mídia 32 vezes e tuitou sobre teorias da conspiração 12 vezes.

Às vezes, a aparente fúria do presidente no Twitter tem o objetivo de atrapalhar seus críticos e causar um aumento deles, disseram muitos de seus assessores mais próximos. Mas eles ainda se preparam, sabendo que provavelmente serão surpreendidos por um de seus tuítes. Assessores que se reúnem para as reuniões da equipe na West Wing disseram que sua agenda era regularmente alterada quando seus telefones tocavam simultaneamente com um tuíte do chefe.

Quando Trump chega à Ala Oeste - geralmente depois das 10 horas - Dan Scavino, diretor de mídia social da Casa Branca, assume o controle da conta do Twitter, tuitando como @realDonaldTrump a partir de seu próprio telefone ou computador. Trump raramente tuita na frente de outras pessoas, disseram aqueles próximos a ele, porque ele não gosta de usar os óculos de leitura que precisa para enxergar a tela.

Em vez disso, o presidente dita tuítes para Scavino, que fica em uma sala do tamanho de um armário próximo ao Salão Oval até Trump chamar “Scavino!”. Muitas vezes, ele imprime tweets sugeridos em fontes extragrandes para o presidente assinar. (Um artigo de uma página que Scavino recentemente imprimiu para ele chegou a seis páginas depois que as fontes foram ampliadas, de acordo com uma pessoa que a viu.)

O papel de Scavino na máquina do Twitter de Trump fez dele um improvável intermediário de poder na Casa Branca e pessoa a ser procurada por assessores, executivos, amigos e legisladores que desejam que o presidente tuíte algo. Conway observou o que ela chamou de hipocrisia de muitos republicanos que imploraram para que Trump deixasse de tuitar durante a campanha de 2016 e agora vem a Scavino com sugestões. Scavino se recusou a ser entrevistado para este artigo.

Às vezes, ele atua como um freio - ou tenta - dos impulsos de postar tuítes do presidente. Quando Trump começou a postar com raiva sobre o “Esquadrão”, Scavino disse que era uma má ideia, de acordo com um assessor que testemunhou a conversa.

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Juntamente com Michael Dubke, que atuou como diretor de comunicações da Casa Branca por vários meses em 2017 e é de Buffalo, Nova York, lar das famosas asas de galinha, Scavino apresentou alguns tuítes a Trump em graus de ultraje: “quente”, “médio” ou “moderado”. Trump, disse um ex-funcionário que viu as mensagens propostas, sempre escolheu as mais incendiárias e muitas vezes queria torná-las ainda mais provocativas.

E embora muitos dos tuítes de Trump sejam ataques bruscos e sem censura, ele segura outros por dias ou até semanas, esperando o momento certo para maximizar a reação, disseram assessores.

Ele conspirou durante dias para tuitar sobre Mika Brzezinski, co-apresentadora liberal do popular programa matinal da MSNBC, de acordo com ex-funcionários da Casa Branca, antes de finalmente publicar uma manhã em junho de 2017. Ele a acusou de ter um “baixo QI” chamou-a de “Crazy Mika” e escreveu que ela havia “sangrado muito de um lifting facial” durante uma festa de Ano Novo.

Um amor por “curtidas”

Para Trump, o Twitter reforça seus instintos sobre seu desempenho como presidente.

Depois de uma manifestação em Dallas, em meados de outubro, os assessores de Trump prepararam uma impressão de tuítes em grandes letras, jorrando sobre seu discurso naquele dia, incluindo um de Tomi Lahren, comentarista da Fox News e apresentador de um programa no site da Fox Nation. Trump rabiscou uma nota de agradecimento em uma cópia para Lahren - que depois tuitou uma foto da carta de volta para o presidente.

Assessores disseram que frequentemente compilam um feedback positivo para Trump. Ele se deleita no fluxo de elogios de seus seguidores mais leais no papel ou enquanto navega pelo telefone de manhã cedo e tarde da noite. Ele considera seus seguidores como as classificações de uma audiência de TV, melhores do que qualquer pesquisa de aprovação.

Depois de uma maratona no Twitter no fim de semana, o presidente disse a Sarah Huckabee Sanders, sua secretária de imprensa na época, que esperava repercussão melhor de um tuíte do qual se orgulhava particularmente, segundo um ex-funcionário do governo. Sanders disse que se ele tuitasse 60 vezes, as pessoas não prestariam tanta atenção, disse a autoridade.

Sarah Huckabee Sanders deixa cargo respaldada pelo presidente Trump Foto: SAUL LOEB / AFP

O presidente está ciente do número de seguidores e relutantemente aceita que nem todos são reais. Trump acusou o Twitter de preconceito político por seus expurgos periódicos de contas de bots na plataforma, que custaram a ele - e a outros usuários importantes - centenas de milhares de seguidores. Quando ele se encontrou com o presidente-executivo da empresa, Jack Dorsey, em abril, Trump teria pressionado duramente sobre os seguidores perdidos.

Há muitas evidências de que os seguidores de Trump no Twitter podem não ser um proxy confiável para o que o povo americano pensa do trabalho que ele está fazendo.

É difícil, se não impossível, determinar com certeza quantos dos mais de 66 milhões de seguidores de Trump são falsos. Alguns estudos sobre seus seguidores estimaram que uma alta proporção provavelmente seja de bots automatizados, contas falsas ou inativas.

Mas mesmo uma análise conservadora do Times verificou que quase um terço deles, cerca de 22 milhões, não incluíam informações biográficas e usavam a imagem de perfil padrão do serviço - dois sinais de que as contas podem ser raramente usadas ou inativas. Quatorze por cento geraram nomes de usuário automaticamente, outra indicação de que uma conta pode não pertencer a uma pessoa real.

Mesmo que Trump não esteja gritando no vazio no Twitter, ele frequentemente está pregando aos convertidos. Dados da Stirista, uma empresa de análise, mostram que seus seguidores tendem a ser o tipo de usuário que provavelmente são seus defensores - desproporcionalmente mais idosos, brancos e homens em comparação com os usuários do Twitter em geral.

E eles constituem apenas uma fração do eleitorado. Segundo a análise do Times dos dados do Pew, apenas cerca de 4% dos adultos americanos, ou cerca de 11 milhões de pessoas, o seguem no Twitter. Esses seguidores representam menos que um quinto do total, mostra a análise.

De acordo com dados do YouGov, que pesquisa a maioria dos tuítes do presidente, alguns dos tópicos sobre os quais Trump obteve mais curtidas e retuítes – críticas à NFL, publicações sobre a investigação do advogado especial, alegações infundadas de fraude generalizada de eleitores - estão mal nas pesquisas com o público em geral.

Mas pessoas próximas a Trump disseram que não havia como dissuadi-lo de que os “likes” de um tuíte eram evidência de que uma decisão ou proposta de política foi bem recebida.

Uma ferramenta para reeleição

Nos próximos meses, o homem encarregado de ganhar um segundo mandato para Trump espera focar o hábito do presidente no Twitter em seu objetivo original: conectar-se com os eleitores.

Brad Parscale, que atuou como diretor digital de Trump em 2016 e agora é gerente de campanha, trabalhou em estreita colaboração com Scavino para moldar as percepções do presidente por meio das mídias sociais. Os dois homens falam meia dúzia de vezes por dia, de acordo com pessoas familiarizadas com suas interações.

Parscale criticou o Twitter depois ter sido anunciado na quarta-feira que não seria mais permitida publicidade política paga na plataforma, chamando-a de “mais uma tentativa de silenciar os conservadores”. Mas a mudança pode beneficiar Trump: ele tem um Twitter orgânico com muitos mais seguidores que qualquer um de seus prováveis adversários democratas e, portanto, menos dependente de anúncios pagos para espalhar sua mensagem pela plataforma.

Enquanto alguns assessores da campanha dizem que os tuítes de Trump podem ser uma distração, eles também encaram o Twitter como uma ferramenta essencial para apresentá-lo como alguém forte, disposto a enfrentar as chamadas elites políticas e o que o presidente chamou recentemente de “aliança profana dos políticos democratas corruptos, burocratas do estado profundo e os meios de comunicação de notícias falsas.”

Kellyanne Conway, antes de ser nomeada como conselheira de Trump na Casa Branca, foi gerente de sua campanha à presidência dos Estados Unidos. Foto: REUTERS/Carlo Allegri

Os assessores buscam cultivar a imagem de um homem que entende as “pessoas comuns”. A equipe de Trump acredita que sua escrita não envernizada, com má pontuação e crescente profanidade no Twitter revelam autenticidade - um contraste com o estilo de mídia social polido, avaliado e em geral anódino da maioria candidatos.

O Twitter, disse Conway, é a arma mais potente do presidente para contornar as pessoas poderosas que ele acredita terem controlado o fluxo de informações por muito tempo.

“É a democratização da informação”, disse ela. Todo mundo recebe os tuítes de Trump de uma só vez - a mãe que fica em casa, o encanador que trabalha na pia, o executivo bilionário, o correspondente da Casa Branca. “Todos ouvem ‘ping’”, disse ela, “ao mesmo tempo”.

Metodologia

O New York Times analisou todos os tuítes e retuítes enviados pelo presidente Donald Trump de 20 de janeiro de 2017 a 15 de outubro de 2019. Cada um foi avaliado e marcado por vários fatores: se incluía um ataque ou elogio; quem ou o que foi atacado ou elogiado; e para tópicos como comércio, imigração, forças armadas, economia, eleições intermediárias de 2018, investigação da Rússia e inquérito de impeachment da Câmara. Na análise do Times, os retuítes em cada uma dessas categorias foram contados como tuítes.

O Times revisou cada conta do Twitter que seguiu Trump, analisando informações de perfil, frequência de tuítes e a data em que a conta foi criada. O Times também usou dados da Pew Research para estimar quantos adultos americanos seguem Trump no Twitter. A Pew Research conduziu uma amostra nacionalmente representativa de adultos americanos com contas pessoais para analisar quantos são os que seguem políticos americanos no Twitter. / *MICHAEL D. SHEAR, MAGGIE HABERMAN, NICHOLAS CONFESSORE, KAREN YOURISH, LARRY BUCHANAN E KEITH COLLINS

TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO 

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