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Companhia ferroviária da Holanda indenizará vítimas do Holocausto

NS, que havia pedido desculpa em 2005 pelo papel que desempenhou durante a 2ª Guerra, aceitou pela primeira vez negociar compensações individuais para sobreviventes ou parentes de vítimas do nazismo

Atualização:

HAIA, HOLANDA - A Companhia ferroviária holandesa NS pagará uma compensação aos sobreviventes e aos parentes de vítimas do Holocausto por ter transportado judeus para um campo de concentração durante a 2ª Guerra.

"É uma notícia muito boa. Estávamos decididos a ir à Justiça porque as reações da NS eram negativas, mas no fim entenderam que era possível solucionar isso de outra forma. Não é sobre esquecer o que aconteceu, mas sobre as pessoas que ainda estão vivas e que querem seus direitos reconhecidos", afirmou a advogada holandesa Liesbeth Zegveld.

Rabino deposita flores em trilho que leva ao campo de concentração de Westerbork, na Holanda Foto: AP Photo/Peter Dejong

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Liesbeth, advogada de direitos humanos, representa o judeu Salo Muller, de 82 anos, e vários outros sobreviventes que estavam dispostos a recorrer aos tribunais europeus para exigir que a empresa holandesa reconhecesse os danos causados com sua colaboração com os nazistas.

A NS recebeu vários milhões com o transporte das vítimas do Holocausto ao campo de concentração e trânsito de Westerbork, localizado na província holandesa de Drente e por onde passaram milhares de ciganos e judeus nos anos 40.

"Decidimos por acordo estabelecer um comitê em vez de ir à Justiça. Este comitê negociará o pagamento individual para os afetados", disse Roger van Boxtel, presidente da NS.

De sua parte, Muller assegurou à emissora holandesa NOS que é "extraordinário" que NS tenha concordado pela primeira vez em compensar as vítimas e reconheceu que este é um resultado que "ousou sonhar, mas que não esperava".

"Para mim, significa que a NS reconhece que o sofrimento não acabou e que segue existindo para muitos judeus. Estou muito feliz que agora (a companhia) reconheça que, efetivamente, pagará por razões morais", completou.

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Muller tinha cinco anos quando seus pais foram presos pelos alemães em 1941 e foram transportados em um dos trens da NS de Amsterdã para Westerbork, onde passaram nove semanas até serem conduzidos para Auschwitz, onde foram assassinados.

A companhia ferroviária holandesa não se opôs à deportação de judeus para o campo de concentração e disponibilizou seus trens para os alemães, fornecendo datas específicas nas quais eles poderiam transportar os judeus. Estima-se que a empresa recebeu o equivalente a € 2,5 milhões no transporte das vítimas do Holocausto.

A empresa pediu desculpas em 2005 pelo papel que desempenhou durante a 2ª Guerra, mas até agora se recusava a pagar indenização individual às vítimas.

Liesbeth enfatiza que houve "muita pressão até que a NS cedeu para negociar uma compensação" e ressalta que ainda não foi estabelecido quanto dinheiro será dado aos afetados ou quem tem o direito de solicitar a compensação. / EFE

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